Aroma de Shampoo

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Lorenzo me conduziu até a sala de aula, a mesma de sempre. O local estava todo vazio, já que todos estavam de férias. Eu me sentei em uma das cadeiras, enquanto Lorenzo fechava a porta e ligava o ar condicionado. Respirei fundo, várias e várias vezes, meu coração palpitava sem parar e a minha voz não estava querendo sair. Meu corpo entrou em colapso e eu não conseguia me recuperar.

- Sol, olhe para mim. - Lorenzo se ajoelhou na minha frente e tocou em minhas mãos - Respira, tente se acalmar.

Foi difícil me concentrar na voz dele, minha mente estava bagunçada e barulhenta. Mas encontrei os olhos dele e segui apenas ouvindo e fazendo o que ele pedia.

- Tudo bem, querida. Agora, ouça somente a minha voz e olhe pra mim - Com a voz calma e suave de sempre, Lorenzo começou a me acalmar - Você se lembra daquele dia em que eu te levei pra tomar sorvete? Não era um super sorvete, mas era um picolé bem gostosinho. Lembra?

Balancei a cabeça, negativamente.

- Solange, pensa. Foi o dia em que você adotou aquela pombinha de rua.

Na época em que eu morava na rua com o Lorenzo, algumas vezes ele tentava ser um bom pai. Apesar da nossa condição precária, ele me ensinou muitas coisas e as vezes tínhamos um pouco de lazer, nada de luxuoso, mas tínhamos esses momentos. Depois que ele começou a falar sobre o meu primeiro pet, comecei a ter lembranças de uma época que não foi tão ruim assim. Claro que eu não me lembrava muito bem de tudo, as vezes vinham alguns flashes, rápidos e confusos. Mas, essas poucas lembranças me acalmaram aos poucos, até eu conseguir voltar a respirar novamente.

- Você está melhor? - Lorenzo sorriu.

- Estou, obrigada. - suspirei fundo pela última vez.

- Desde quando você tem essas crises de ansiedade?

- Desde que me entendo por gente, eu acho. - Me levantei.

- Espera, onde você vai, filha?

- Eu vou voltar para o hospital. Conhecendo o Rick, acho que ele não vai estar lá agora. O Samuel está sozinho e eu...

- Espera um pouquinho, quem é Samuel e por que ele está no hospital?

- Samuel é o sobrinho do Rick e ele teve um acidente. - Menti.

- Você quer que eu vá com você? - Lorenzo me parou em frente a porta de saída da sala.

- Não se incomode, você deve estar muito ocupado. Acho que tomei o seu tempo, então é melhor eu ir. - Forcei um sorriso.

- Minha filha, você sabe que pode contar comigo sempre. Eu largo tudo isso se for preciso. - Lorenzo me abraçou. Por um momento eu me senti um pouco estranha e desconfortável, mas aceitei o abraço - Eu acho que devíamos conversar sobre alguns assuntos que estamos protelando a muito tempo, Solange. Principalmente sobre essa confusão que aconteceu lá fora. Que tal você ir na minha casa para um jantar?

- Lorenzo, eu não sei. Acho que não é um bom momento.

- Nunca é um bom momento, não é mesmo? - Lorenzo riu e levou na esportiva - Eu não vou aceitar um não como resposta.

- É que a minha vida está, francamente, uma verdadeira confusão. O Rick está passando por uma verdadeira guerra e eu estou no meio disso, querendo ou não, isso me afeta.

- Eu entendo. Mas você tem que se permitir relaxar um pouco e eu preciso falar com você. Por favor, Solange. - Lorenzo fez uma cara, que francamente, não pude dizer não.

- Tudo bem, eu aceito.

- Que ótimo! - Lorenzo ficou animado - Minha esposa vai adorar te ver. Então mas tarde eu passo por aqui, às nove?

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