A dama e o Vagabundo

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Passei o dia todo no meu quarto. Eu estava muito triste com todo o ocorrido, tentando entender o significado de tudo aquilo e já querendo fugir para algum lugar bem longe daqui. Enquanto eu estava deitada olhando para o teto, ouvi uma batida na porta. Perguntei quem era e não obtive resposta, então me levantei, abri a porta e dei de cara com o Rick.

- O que faz aqui? - perguntei sem muita paciência.

- Preciso falar com você.

- Eu já fui humilhada demais hoje, Rick. Não estou com vontade de receber mais xingamentos. - fechei a porta, porém o Rick abriu e entrou - Isso é invasão, sabia?

- Eu não consigo entender o por que ela escondeu tantas coisas de mim. - Rick fechou a porta, se escorou nela e abaixou a cabeça.

- Você está se referindo a sua mãe? - perguntei e não tive resposta da parte dele - Caramba, Rick! Você veio aqui para que? Me responde.

* Rick levantou a cabeça, percebi que os olhos dele estavam brilhando. Eram lágrimas que queriam sair e escorrer pelo seu rosto, mas eram contidas pelo orgulho dele.

- Rick...- sussurei e senti pena dele.

- Eu não sabia que ela tinha tanto dinheiro, não sabia que ela tinha um apartamento no centro, ela nunca me disse nada. - Rick parecia estar inconformado - Eu passei a minha infância e adolescência cuidando dela, achando que a mesma não tinha dinheiro nem para cair morta e hoje eu fiquei sabendo que ela tinha muito mais do que eu imaginei.

- Rick, eu não...

- Ela escondeu isso tudo de mim por que? Para me dar uma lição de moral? - Rick ergueu o tom de voz - Eu tive que trabalhar, estudar e contar moedas para sobreviver. Enquanto a conta dela estava intacta!

- Rick, você conhece a sua mãe a muito mais tempo do que eu. Em vez de se irritar, coloque a cabeça para pensar! Ela está morta, ficar irritado com ela não vai adiantar. - tentei tocá-lo para o acalmar, mas ele rejeitou.

- Com certeza foi uma lição. Ela dizia que eu deveria sempre me esforçar para chegar a algum lugar. - Rick se acalmou e ficou olhando para fora através da janela do meu quarto - Anastácia nunca deu um ponto sem nó.

- Eu sei que deve ter sido doloroso pra você, ter que se desdobrar em dois para poder sustentar a sua mãe. Você está chateado, claro, é compreensível. Eu imagino o quanto esse dinheiro poderia ter vindo antes e te ajudado, principalmente na faculdade. - cheguei mais perto dele - Se ela queria te dar uma lição, pode ter certeza que a Madame fez um ótimo trabalho. Ela criou um homem de verdade, esforçado e trabalhador. A Anastácia esperou mais de você e não menos, por isso, tente entendê-la.

Rick ficou em silêncio por alguns instantes e depois deu uma risada, parece que ele conseguiu entender os motivos da mãe. Ele se virou e me olhou, o semblante dele mudou, estava mais sereno.

- Me perdoa, Sol.

- Não precisa me pedir desculpas, eu entendo você.

- Não, eu preciso. - Rick tocou o meu rosto com as duas mãos - Eu fiquei com raiva de você, muita raiva. Essa maldita raiva que me consome por dentro e eu não consigo controlar. Eu fui para a academia e tentei descontar a minha raiva lá e não deu certo. Foi ai que eu perdi a cabeça, fui para o subúrbio e participei de uma luta clandestina.

- Rick! Você podia ter morrido! Olha o seu rosto como está! - agora era eu quem estava preocupada.

- Olha só você, Sol. Depois de tudo o que eu fiz, depois de tanta humilhação, você continua se preocupando comigo. Você é incrível, você merece algo melhor na vida.

- Não me importo com os socos que a vida me dá, Rick. Já te disse que eu tenho um bom motivo para continuar existindo e seguindo em frente, minha mãe. Mas você, eu não ia aguentar ver você gravemente ferido ou até mesmo morto. Então escute bem o que eu vou te dizer, se eu souber que você está fazendo esse tipo de loucura novamente, sou eu quem vai acabar com essa carinha de cachorro que caiu da carroça. - cruzei os braços e fiquei irritada.

- Eu tenho cara de cachorro que caiu da carroça, Sol? - Rick sorriu.

- Tem! E é daqueles bem vira-latas, cor cinza e cheio de pulgas.

- Eu sou um vira-latas cheio de pulgas?

- É, você é. - me virei de costas.

- E você é uma cadelinha muito arisca. - Rick deu uma risadinha.

- Você me chamou de cadela? Você perdeu o juízo? - o encarei.

- Talvez sim, talvez não...

- Olha que eu... - Rick me interrompeu. Fiquei totalmente sem fala após ele me puxar pela cintura.

- Continua, o que você estava dizendo? - Aqueles olhos verdes me hipnotizaram.

- Eu me esqueci.

- Você me deixa louco, sabia? - Rick sorriu e me beijou com vontade.

Ele me apertou contra si, matando a saudade que estávamos um do outro. Eu também o abracei forte, sentindo o seu beijo e inalando o seu cheiro. A saudade que eu estava dele era muita, ele estava se tornando o meu vício. O Ricardo Almeida era uma espécie de droga para mim, prazerosa, alucinógena e tem alto poder de dependência. Eu queria me afogar nele, me prender a ele, não conseguia mais viver sem o beijo dele.

Rick parou o beijo com um selinho. Eu continuei de olhos fechados, somente sentindo o êxtase do momento passar. Ele me abraçou e eu fiquei com a cabeça encostada no seu peito, seu coração estava disparado e sua respiração, irregular.

- Eu te amo, Sol. - Rick disse essa frase do nada, assim como Deus criou a terra, do nada.

- O que você disse? - me assustei e sai de seus braços.

- Você não me ouviu? Quer que eu repita? - Rick sorriu maliciosamente.

- Não, é... Não precisa. - fiquei nervosa e não consegui responder direto.

- Você ficou nervosa? - Rick debochou.

- Não, é só que você me pegou de surpresa e....

- Shiiiu... Não precisa me responder nada. - Rick voltou a me beijar.

Pelo visto, o meu nervosismo não o deixou com raiva e nem magoado. Não é que eu não ame ele, mas essas coisas são tão complicadas e dizer eu te amo, não devia ser assim, com todas
essas circunstâncias peculiares.
Felizmente ou Infelizmente, o beijo foi se tornando mais quente. Rick já estava investindo pesado em mim, ele me queria e eu queria ele, mas eu tinha prometido a Brenda que não ia fazer nada ali e vice versa.

- Rick, para. Eu quero você, mas aqui não dá.

- Tudo bem. Vem. - Rick me puxou para fora do quarto.

- Para onde você está me levando? - falei baixinho, assim que cruzamos o corredor dos dormitórios.

- Você vai gostar, prometo.

Vimos o supervisor passando pelo corredor, nos escondemos atrás de uma coluna e assim que o mesmo passou por nós, saímos correndo em direção a saída. Por sorte ele não nos viu, rimos bastante da situação, até chegarmos a entrada do campus, onde a moto do Rick estava estacionada.

- Você aceita a minha garupa como a sua legítima esposa? - Rick brincou.

- Aceito se ela for fiel a mim. - respondi bem humorada.

- Você sabe que sim. - Rick me deu um selinho e subiu na moto.

Ele me entregou o capacete e eu subi em sua garupa. Logo ele acelerou e saímos sem rumo pela cidade, somente sentindo o vento passando pelos nossos corpos.

(Continua) 🏍️

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