Aos olhos de Rick

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𝑅𝑖𝑐𝑎𝑟𝑑𝑜 𝐴𝑙𝑚𝑒𝑖𝑑𝑎, 𝑛𝑎𝑟𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜:

Eu não tinha muito o que me preocupar na época, agora eu tenho um motivo que me faz revirar na cama todas as noites. A Sol é o único motivo que me faz perder a cabeça e a razão, desde a infância ela mexe comigo. Aos sete anos de idade eu fui resgatado de um bordel, onde a minha mãe trabalhava como prostituta. Foi um alívio ter sido tirado de lá, mas eu levei bagagens comigo, nas quais não pude me livrar.

Na semana em que cheguei no orfanato, meus machucados e cicatrizes foram curados pelas inúmeras enfermeiras que havia naquele local. Fui recebido bem pelos outros garotos, apesar dos meus traumas, continuei sendo o que eu era antes de chegar ali, um menino problemático. Eu passava o meu tempo fazendo molecagem, eu adorava pichar os muros e paredes do orfanato. Rasgava livros, sumia com as coisas da cozinha, roubava comida de lá e bagunçava todos os ambientes possíveis. Esse era o meu maior prazer na época, ver os adultos loucos da vida, gritando e se descabelando. Eu ria muito.

Até que um dia ela chegou, toda tímida, retraída e solitária. Solange, uma menininha linda, olhos tristes, cabelos longos e castanhos, pele branca, magra e um rosto angelical. Foi muito fácil se apaixonar por ela, meu primeiro amor. Uma garota inteligente e que passava o tempo todo no jardim desenhando. Ela era tão meiga, tão delicada e aos poucos começou a se enturmar e sorrir. Porém, ela não ligava pra mim, não me notava e eu me sentia um bosta por não conseguir um simples sorriso dela. A minha única solução foi chamar a sua atenção da forma mais baixa. Eu atentava ela, bagunçava o cabelo dela, pegava insetos mortos e jogava nela, escondia os seus brinquedos e lápis de cor, zombava dela e as vezes a fazia chorar. Eu não consegui tirar um sorriso dela, eu só queria isso.

Em um dia qualquer, Sol foi adotada e tirada de lá. Fiquei muito triste e devastado, eu estava sem a menina que eu tanto amava. Meus dias se tornaram vazios e frios, as travessuras que eu fazia já não me satisfazia mais. Passei o meu tempo ocupando a mente com as lições da escola, em poucos anos passei de um moleque travesso, para um garoto prodígio. Eu não era como ela, a arte era o seu forte, eu me dava bem com cálculos e questões mais dinâmicas. Ganhei duas vezes a olimpíada de matemática e passei a ser um garoto mais centrado, minha vida mudou drasticamente depois que uma doce senhora me adotou. Madame Anastácia, minha querida mãe.

Ela me amou como ninguém nunca havia me amado. Minha mãe biológica era uma puta, drogada e narcisista. Ela não se importava de me deixar sozinho, onde por varias vezes fui abusado e sodomizado pelos "clientes" dela. Mas com a Anastácia era diferente, o amor que ela me deu foi incondicional e pela primeira vez me senti amado. O tempo foi passando e eu vi aquela velha mulher se desgastando, ficar doente e eu jurei a mim mesmo que cuidaria dela até o fim.
Se fosse por mim, eu já tinha morrido ou sucumbido a maldade do mundo. Mas o maior motivo deu estar aqui, ter me matado de estudar para ganhar uma bolsa nesse faculdade cara, é ela. Eu amo a minha mãe, eu quero tira-lá de lá e dar tudo o que a filha biológica dela não deu.

Reencontrar o meu amor de infância foi estranho. Antes era um amor platônico, inocente, puro e infantil. Mas o que eu sinto pela Sol é muito mais complexo, é desejo, algo carnal, uma paixão avassaladora e capaz de me levar a loucura. A Solange me deixa louco de paixão, eu fujo dela a todo instante e eu evito frequentar os locais que eu sei que ela gosta de ficar. Ela ama o jardim do campus e a biblioteca, ela fica o tempo todo desenhando por lá e eu corro, pois o meu desejo por ela me incomoda. O destino faz questão de nos reaproximar, aonde eu estou ela está. Parece uma perseguição, uma tentação e eu não consigo evitar.

Eu caminhei de volta para a academia, depois de ficar com a Sol naquele beco. Eu só conseguia pensar em como eu a odeio e a amo, tudo ao mesmo tempo. Esse sentimento me deixa louco e não me deixa dormir a noite. Assim que cheguei na sala de boxe, meu colega, Michel veio logo me atentar:

- Então, mano, resolveu aquele probleminha? - ele sorriu maliciosamente.

- Resolvi nada. - comecei a recolher as minhas coisas que estavam em um armário.

*Michel riu, com direito a mão na barriga.

- Eu te disse, cara! Esse tipo de patricinha só faz a gente perder a cabeça. - Michel se aproximou de mim e colocou a mão em meu ombro - Eu tenho uma amiga para te apresentar, ela não é igual as garotas daqui. Ela é gata, gostosa e faz de tudo.

* Balancei a cabeça e vesti a minha camiseta.

- Eu não quero saber de mulher não. - retruquei.

- Sei, você quer a santinha da Sol. - ele debochou.

- Você tá ficando maluco? Quem disse que eu quero aquela garota idiota? - bati a porta do armário com força, aquela conversa não estava me agradando.

- Eu sei que ela é gostosa, cara. Viu o tamanho daqueles melões? - ele gargalhou.

* Meu sangue ferveu e eu tentei disfarçar.

- Ficou calado assim tão de repente. Você não está incomodado porque eu estou falando da sua garota, né?

- Primeiro que você é um babaca e segundo, eu não tenho garota nenhuma. Não me importo com ela e nem com nenhuma outra. - coloquei a minha mochila nas costas e fui saindo da sala.

- Então eu posso ficar com ela? - Michel foi me seguindo até a porta da academia.

- Faça o que quiser.

- E se eu comer ela?

* Aquela frase me fez serrar os punhos e querer dar um soco na cara dele, mas me contive.

- Faça o que quiser! Coma quem você quiser, só me deixe fora disso. - eu disse em voz alta, fazendo todos que estavam na academia olhar para nós.

- Bom saber. - ele riu.

Sai da academia com vontade de socar a cara dele até a morte. O meu colega sabe muito bem manipular uma garota ingênua, eu já vi ele destruir vários corações por ai. O Michel é o tipo de cara que não dá um ponto sem nó, se faz de bom moço para envolver a mina e depois dar no pé. Eu espero que a Sol não se envolva com ele. Ela pode dar pra quem ela quiser, mas se o Michel a machucar, eu vou fazer da vida dele um verdadeiro inferno.

(Continua)

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