Coração Aberto

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𝐑𝐢𝐜𝐚𝐫𝐝𝐨 𝐀𝐥𝐦𝐞𝐢𝐝𝐚 𝐧𝐚𝐫𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨:

Sol me arrastou para fora da cabana. Por sorte, todos já estavam dormindo e a madrugada estava silenciosa.

- Para onde você está me levando, Joaninha? - perguntei, totalmente curioso.

- Espero que você não seja friento. - ela sorriu e me conduziu até um píer e na frente dele havia um lago enorme - Esse é o melhor lugar do mundo.

- Realmente, aqui está bem frio. - brinquei e depois a abracei por trás, tentando aquece-la.

- Está quase amanhecendo. Vamos ser sinceros um com o outro e tentar abrir os nossos corações. Acho que já passou da hora, Rick.

Meu coração disparou, fiquei nervoso e isso não é normal.

- O que você quer que eu diga, Sol?

- Não sei. Diga o que tem dentro do seu coração. - Sol me apertou forte - Eu te vi chorar hoje e confesso que isso me desesperou.

- Eu não quis te deixar preocupada, é só que... - hesitei.

- Pode falar, Rick. Eu vou fechar os olhos e assim, você pode dizer o que quiser.

- Tudo bem. - suspirei fundo e tentei falar tudo o que estava guardado dentro de mim a anos - Eu fiquei muito nervoso quando vi o seu pai. Ele me lembra alguém, aliás, vários alguéns.

- Tem algo a ver com o seu passado?

- Tem sim. - Em minha mente passou um filme da minha vida. Por alguns segundos eu consegui sentir todas as dores do passado - Em algum momento eu achei que a minha mãe era um ser intocável, como uma deusa ou algo do tipo. Uma deusa de um planeta distante e que eu não conseguia alcançar. Quando eu era pequeno, falava sozinho e imaginava que ela estava ali pra me ouvir. A princípio ela estava, mas ela nem se quer me olhava.

Sol me abraçou mais forte. Era como se ela pudesse sentir a minha dor.

- Todos os dias entravam homens no meu quarto e faziam coisas ruins comigo. A todo o tempo eu chamava por ela, gritava para que ela pudesse me salvar. Mas ela era como uma deusa, não me ouvia, não me respondia e não me mandava nem uma luz sequer. Era somente escuridão e um grito no vazio. - Comecei a me lembrar das vezes em que eu gritava por ela e a mesma não me ouvia. As vezes eu chamava ela de mamãe, mas por algum motivo, isso lhe causava repulsa - Sol, eu não sei que tipo de homem é o seu pai, mas se em algum momento ele pareceu um deus para você, desista dele. Nenhum ser humano pode ser comparado a um deus, por isso, evite decepções.

- Eu sei exatamente o que você está querendo dizer, Rick. - Sol suspirou fundo - Eu não me lembro muito do Lorenzo, só alguns flashes. A maioria dessas lembranças são boas e até hoje eu não consigo entender se foi a minha mente que criou ou se realmente é real.

- Se você não tem certeza, é porque não é real.

- Eu me nego a acreditar que ele me deixou porque quis. - Sol se virou e me encarou com os seus olhos castanhos - Rick, ele é o meu pai e teve os seus problemas, mas pra mim ele...

- Ele é um deus. - peguei em sua mão e a apertei forte, passando segurança.

- Rick, ele me ensinou a desenhar, contava histórias para mim dormir e me abraçava quando eu sentia frio. Essas imagens estão meio embaçadas na minha cabeça, mas é como se eu sentisse que é real. - A voz da Sol ficou alterada e embargada.

- Ele era alguém antes de você? Quem é a sua mãe biológica? Por que ele se entregou as drogas e por que ele te deixou na rua? - Passei a mão em seu rosto - Eu não entendo nada sobre o que é ser pai, mas te garanto que eu jamais deixaria um filho meu na rua. Correndo risco de ser abusado ou passando fome, frio, sede e sei lá mais o que. Eu amaria meu filho, lutaria por ele e superaria tudo.

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