História do Goiaba e Ana.
Desde novinho sempre foi conhecido pelo seu jeito brincalhão, o mais bobão entre todos os amigos, aquele que sempre fazia alguém sorrir, nos melhores e piores momentos. Acostumado a sempre ter uma noite, não importa com que...
Pô, minha vida é mó maneira filho. Cresci em família humilde, minha mãe, minha vó e minha irmã maior coisa boa, as mulheres da minha vida. Aprendi muito bagulho com elas, a cabeça que eu tinha antigamente era horrível até de comentar, mas hoje tudo que eu sou é graças a elas.
Minha vó morreu quando eu tinha oito anos, a idade bateu e foi um bagulho natural, tá ligado?! Eu fiquei triste, foi minha primeira perda, não quis comer, me neguei a sair de dentro do meu quarto. Mas uma hora tive que superar e seguir, sempre morei no morro azul, até minha coroa se envolver com um carinha da Nova holanda e nós três mudar pra cá.
De começo eu fiquei desconfiado. Tinha dez anos já, tava começando a entender o mundo melhor, ver umas maldades, ficava olhando pro Rodrigo de cara feia, tentei até fazer greve de fome mas eu era maior morto de morte.
E também pô, nunca tive um pai! Sempre fui rodeado de mulher, aí do nada chega um viado querendo encostar? Se fode. Não ia com a cara dele, nem minha irmã, a Lays era toda na dela, igual eu. Mas ela era porque tinha convivido com o pai, então não queria deixar ninguém tomar o lugar dele.
Mas quando eu fiz onze anos, tive a coisa que eu sempre sonhei. Uma festa de aniversário com um pula pula! Irmão, tu tem noção?! Nunca havia tido uma porque minha família vivia bem, mas não tanto pra gastar dinheiro com esses bagulhos, e eu entendia! Todo ano ganhava um carrinho de brinquedo e tinha uma coleção, até hoje.
Foi a melhor e maior festa do morro, eu chorei de alegria e corri pra abraçar o Rodrigo. Mesmo eu sendo rebelde, olhando feio pra ele, ele fez um bagulho foda por mim, e hoje eu vejo e tô ligada que ele não tinha nenhuma obrigação, entendeu?! E mesmo assim ele fez, ele fez o bagulho mais bonito que meu próprio pai não quis fazer em nenhum momento.
E foi assim que eu descobri a sensação de ter um pai, de se sentir amado e mais importante ainda. Minha irmã também amoleceu o coração depois disso, e aí a família ficou realmente feliz, a família que eu sempre sonhava. Uma mãe e um pai.
Minha irmã Lays é seis anos mais velha do que eu, hoje em ela tem 29. Teve um dia que mataram meu pai, eu tava com quinze anos, ele morreu numa invasão, morro inimigo. Eu perdi meu rumo, quis fazer birra e voltar a ser criança, mas não dava. O pai do Coronel que assumiu, e eu fui aos poucos pedindo cargo, mas sei lá, sem achei que não era um bagulho pra mim.
Até que tudo aconteceu, o pai do mano morreu e ele assumiu. A gente criou uma amizade maneira, adotou o Orelha, adotou o Gaspar e hoje ninguém segura a tropa. O Coronel me deu o cargo de segurança dele, eu ganhava o dobro que qualquer outro moleque, mas também era pela nossa amizade, fora que o filho da puta me explorava a qualquer hora do dia, então não fazia mais que a obrigação dele...
••• Victor Araújo, 23 anos. @// mccabelinho.
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