17- Vinho

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(Alucard's Pov)

{Dallelah} -Então, no dia seguinte, eu fui para a aula sozinha já que Luís estava doente , e quando elas vieram mexer comigo eu surtei e acabei batendo nelas já que nessa idade eu já sabia lutar, pouco ou muito mas sabia. -Ela diz enquanto observava o vinho, não aparentando estar muito animada.

{Alucard} -Bem, não posso dizer que a senhorita estava errada... -Ela fala bastante, mas isso me agrada...

{Dallelah} -Eu entendo que não estava, mas as pessoas da escola na época não, então eu deixei de ser vista como uma novata com dificuldade de fazer amizades e passei a ser uma maluca agressiva que ao invés de se esforçar para se enturmar, bateu em três meninas que todos gostavam, mas quase ninguém sabia o que faziam pelas costas.

Eu a ouço atentamente, fazendo questão de focar bem em cada palavra, não sei porque, mas de alguma forma, ela consegue prender minha atenção, além é claro, de me fazer sentir muito a vontade na sua presença.

Graças as habilidades que desenvolvi com o passar do tempo, eu consigo "sentir o cheiro" de alguns sentimentos humanos, quando muito intensos, mas até os sentimentos que deveriam ser ruins nessa garota, não cheiram mal, pelo contrário, é como se me chamassem para estar perto dela, tenho sorte que ela é fácil de se decifrar já que olhando em seus olhos consigo ter uma idéia do que se passa na mente dela.

Ela tem olhos bonitos, parecidos com os de Íntegra, mas os delas são diferentes, são profundos como o oceano e ao mesmo tempo puros como o céu de um dia claro, diria que são os olhos mais únicos que já vi em toda minha vida.

Talvez seja por esse tipo de coisa que aprecio tanto a presença dela, principalmente por desde o ano novo, sempre que me aproximo, o cheiro doce e agradável que antes exalava dela, agora é mais intenso, não o suficiente para ser enjoativo, mas sim uma coisa  também única dela que eu gosto, principalmente por ser algo que só eu posso sentir, me dando a sensação que é algo exclusivo para mim.

{Dallelah} -Mas eu já superei isso...-Diz em um suspiro. -Foi uma fase bem complicada, se não fosse pelo Luís eu estaria completamente sozinha...

{Alucard} -Luís... A senhorita fala muito nele...

{Dallelah} -Ah, o Luís é quase meu irmão, ele teve uma história meio complicada, mas no fim, as coisas se arrumaram para ele e a mãe dele, eu os amo como se fossem da família... -Fala bebendo um pouco do vinho.

{Alucard} -História complicada? -Pergunto impulsivamente, movido pela minha curiosidade.

{Dallelah} -Bem, como você sabe, eu fui embora daqui bem jovem para morar com uma amiga da minha mãe, que embora fosse rica e tivesse tudo que queria, o seu maior desejo não podia ser atendido, que era o de ter filhos... enfim, quando cheguei no Brasil, conheci uma mulher chamada Aparecida, que todos carinhosamente chamavam de Cida, ela era cozinheira na casa que eu iria morar, e sempre tinha um menino magrinho dos olhões escuros agarrado a barra da sua saia, esse era o filho dela, o Luís...

Noto que ela fala dessas pessoas com tanto apreço, como se falasse do fundo de seu coração, de algo santo, sagrado para si...

{Dallelah} -Luís, embora bem tímido, era muito amado por todos na casa, principalmente pelo marido da mulher que logo comecei a chamar de tia, assim como também fiz com Cida... Talvez por terem aceitado desde cedo que o desejo deles não poderia ser atendido, eles amavam Luís como filho, amor esse que eles também passaram a compartilhar comigo quando cheguei, no começo foi bem complicado para mim já que eu não podia me comunicar com ele pois não falava português. Conforme eu fui me reeducando a meu novo lar, comecei a fazer amizade com o garoto, o qual sempre que brincávamos juntos, eu reparava ter um machucado novo, em alguma parte diferente do corpo, e mesmo que eu perguntasse, ele nunca dizia o que tinha acontecido... Até que um dia, em uma conversa com minha tia Cida, meus tios descobriram que tanto o menino, quanto a mãe sofriam violência, tanto física, quanto psicológica, e o culpado era o pai dele que era um bêbado vagabundo que se achava no direito de sumir pela manhã e voltar tarde da noite quebrando tudo que via pela frente, isso quando ele não levava amantes para dentro de casa, e minha tia Cida, não podia fazer nada, já que ele batia e  jurava ela e até o próprio filho de morte caso ela denunciasse ou tentasse escapar.

Dear AlucardOnde histórias criam vida. Descubra agora