Capítulo 25 - Vingança

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Lauren Jauregui  |  Point of View






Quando cheguei na frente do templo, agradeci mentalmente ao meu pai por ter me enchido a paciência pra aprender várias línguas. Me virei muito bem aqui.

Falei meu nome na recepção e chamei por Kevin. Um garoto magro e alto, que me olhou e logo baixou a cabeça.

— Srta Jauregui. Sou Kevin, vou lhe acompanhar até seus aposentos. K. Perguntou se a Srta prefere um hotel ou se vai ficar no cômodo que ela organizou para a senhorita. – Eu notei que ele não me olhava.

— Que gentileza a dele.

— Dela. Conselheira K.

— Uma mulher?

— Sim. Ela é muito gentil mesmo.

— Vou adorar ficar aqui. Já que ela organizou tudo.

— Sim. Ela organizou tudo, trouxe uma TV e pediu comida italiana pra senhorita. E uma sobremesa estranha.

— Nossa... estou ficando super curiosa pra conhecê-la.

— Ela perguntou se a entrevista pode começar amanhã as dez. É tarde, pois as oito começaram as orações.

— Claro.

— Me acompanhe. Se tiver alguma dúvida é só me perguntar.

— Obrigado.

Ele me levou até o quarto, muito luxuoso, a TV estava ligada e em um carrinho estava minha comida.

— Diga pra ela que acertou em cheio. Amo comida italiana e arroz de leite é minha sobremesa preferida.

— Eu direi. Amanhã as dez lhe esperarei na porta. Ah. – Ele me entregou quatro chaves. — Essas duas são da porta e as outras do banheiro. K ordenou que lhe entregasse a reserva também, caso a senhorita não ficasse a vontade em um local onde em sua maioria há homens.

— Ela é muito cuidadosa.

— Boa noite, Srta Jauregui. Deixe o carrinho no corredor, pois amanhã lhe trarão o café.

— Boa noite, Kevin. Obrigada e agradeça a ela por mim.

Ele saiu do quarto e logo tranquei a porta. Estou com uma curiosidade enorme de conhecer essa gentil senhora. Pelo livro notamos a extrema sensibilidade dela.

Depois de um belo banho, saboreei uma bela refeição, peguei a sobremesa assistindo TV.


×××


Se continuar assim, vou engordar uns trinta quilos aqui, pois meu café tinha tudo que eu adorava. Pensei que iria sofrer com a comida local.

— Dez horas, Srta Jauregui. – Kevin bateu a porta e eu saí. Tranquei a porta.

— A Sra K tem alguma mania ou alguma coisa que ela não gosta que façam perto dela?

— Várias manias. Mas não pode falar palavrão que ela detesta, e que elevem a voz. Fale o mais calmo e audível que
conseguir. Mas não eleve a voz.

— Ok.

— Ao entrar na sala, Kevin fez sinal para que sentasse. K. estava de costas pra janela, eu esperava que ela fosse careca, mas ela apenas tinha os cabelos presos em um coque extremamente bem feito.

— A Srta Jauregui chegou.

— Obrigado, Kevin. – Eu fiquei fraca e minhas mãos começaram a tremer. Não podia ser... ela virou e eu quase desmaio. Não pode ser... a Camila... o que eu faço?

— Oi Lauren. – Ela disse e se aproximou. Minhas pernas não me obedeciam mais. Estendi minha mão e a impedi de me abraçar. Ela me olhou confusa.

— Prazer, K. É uma honra conhecê-la. – Ela ficou me olhando por um tempo e logo seus olhos marejaram.

— Prazer. – Ela sentou em um pequeno altar e ficou me encarando. — Pode começar. – Ela disse calma e eu fui pegar a caneta e a derrubei. Juntei e não achava o rascunho das perguntas... senhor ajuda.

— Como você conheceu esse lugar? Você é daqui?

— Não. Eu vim a passeio e encontrei o Mestre Ginze que me encontrou lá na skatepark. Eu estava perdida e confusa, ele era um homem extremamente sábio. Ele me disse que mostraria um lugar que podia me dar conselhos. Em dois dias já tinha conversado com meus pais e estava em meditação profunda.

— O que você fazia nessa meditação?

— Recebi meu Tripitaka e o aprendi inteiro. Fiquei sem comer, só bebendo água sagrada.

— E seus pais? Como reagiam?

— Não gostaram, mas respeitaram minha decisão.

— Você prega a abstinência...

— Eu não prego nada. Eu sou a conselheira dos meninos que entram aqui e não conseguem controlar os impulsos primitivos.

— Desculpe. Entendi errado seu livro.

— Não. Nele eu falei somente sobre meu caso e um pouco sobre o mosteiro. Não falei o que faço aqui.

— Não precisou raspar os cabelos.

—Não sou iniciada formalmente na cultura, sou uma conselheira.

— Como conseguiu um cargo tão alto?

— Eu passei os últimos anos do mestre com ele. O Mestre Khomeini, o substituto dele, achou que eu estava qualificada pra isso. – Eu não conseguia parar de tremer.

— K, não se ofenda, esqueci algumas perguntas no meu celular. Posso o pegar no quarto?

— Claro. Pode ir.

Eu corri para o quarto e fiquei sem saber pra onde ir. Liguei para Lucy e a vaca demorou pra atender.

— Oi. Como está a China, amiga?

— K.

— Conheceu o misterioso? É gato?

— É a Camila.

— Como?

— Camila. Camila Cabello é a misteriosa. Ela escreveu o livro e está respondendo minhas perguntas.

— O que você fez? Como você reagiu? E ela?

— Eu fingi que não a conhecia.

— Por quê?

— Eu fiquei apavorada. Não sabia o que fazer.

— Ela continua gostosa?

— O que?

— Ela está do mesmo jeito?

— Não sei. Ela está com as roupas monásticas.

— O que você vai fazer?

— Eu não sei.

— Ainda esta com raiva dela?

— Sim.

— Bom... sabemos que ela está há um bom tempo sem sexo. E eles são extremamente rigorosos com exposição.

— E?...

— E que se ela transar com alguém... e isso cair na mesa de um chefe, sei lá o nome de quem manda aí, ela seria humilhada, assim como você foi por ela na escola.

— Tipo uma vingança?

— É. Olha, o Nick deixou minha passagem reservada, como você está com raiva dela, eu posso fazer isso.

— Não. Meu problema eu resolvo. Sua idéia não é ruim.

— Eu posso fazer isso.

— Não se preocupe. Eu faço. Ela nem gosta de você.

— Ela está em abstinência, Lauren. Ela nem vai ligar aonde ela vai enfiar.

— Tchau, Lucy.

Desliguei. Seria uma grande vingança, ela tramou pra mim e eu tramaria de volta. Eu continuo sentindo a mesma coisa... eu amo a Camila, mas a mágoa se sobressaí.

TramaOnde histórias criam vida. Descubra agora