Capítulo 90 - Para o mundo

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Camila Cabello  |  Point of View





Ela me derrubou, Papa. – Bia com um corte no joelho disse apontando para a menina que estava do lado dela.

— Porque você fez isso? – Eu perguntei.

— Foi do jogo.

— Não foi, somos do mesmo time e eu gritei para você deixar para mim. Eu já tinha marcado ponto. – A garota juntou a mochila e saiu dali.

— Respira, princesa. – Eu disse e me ajoelhei na frente dela. — Olha para mim. – Ela me encarou. Eu peguei algumas coisas no kit de primeiros socorros e cuidei daquilo.

— Nós temos uma enfermeira, Sra Cabello.

— Eu cuido dela. – Eu disse irritada, pois a deixaram jogando mesmo com o corte ali. — Vamos ao um médico.

— Papi... é só um cortezinho.

— Porque você joga essas coisas, princesa? É tão perigoso. – Eu já disse quase chorando e ela pegou meu rosto entre as mãos.

— Eu preciso disso, papa. Eu gosto muito de jogar.

— Mas você só tem nove anos.

— Eu já estou com nove anos, papi. Solte as rédeas.

— Nunca. – Eu disse levantando e pegando a mochila dela.

— Papi... eu tenho outra novidade para você. – Eu já fiquei com as mãos trêmulas.

— Bia... você vai me enfartar deste jeito.

— Bill! – Ela gritou e um garoto correu até nós. — Me empresta o skate? – O garoto foi até o banco e entregou o skate para ela.

Ela subiu nele e deu uma volta, eu até ficaria alegre, mas lembrei do quanto de tombos que levei e a quantia de pontos tive que dar.

— Menina... você vai me deixar com os cabelos brancos.

— Papi... é legal. A vovó me mostrou as suas fotos, você vivia de skate.

— Bia...

— Qual é, Papi? Vamos fazer disso uma coisa nossa.

— Isso é perigoso, meus joelhos e cotovelos têm cicatrizes até hoje.

— E você não olha para elas e sorri quando se lembra do quanto isso te fazia feliz.

— Você está sempre me deixando sem argumentos, Bia.

— Vamos lá! – Ela disse e empurrou o skate. O mesmo parou bem na minha frente. — Me mostre o que sabe. – Ela disse e piscou. Como eu nunca digo não para ela mesmo, achei que seria justo partilhar isso com ela.

— Ok. Mas vai ser com os meus skates e na pista do centro a tarde. Sua mãe está esperando e precisamos almoçar.

— Tudo bem.

Ela pegou o skate e devolveu para o garoto.


×××


Entramos na nossa casa e um pequeno furacãozinho pulou no colo de Bia.

— Hey minha bonequinha! Que saudade... – Ela disse enchendo o rosto da irmã de beijos e Lu gargalhava com isso.

— Sodade mana... – Ela estendeu os bracinhos para mim e eu a peguei no colo. Ah! Suspirei! Como ela é parecida com Lauren.

— Pode ir tomar seu banho, princesa. – Bia assentiu e subiu as escadas depois que eu entreguei sua mochila para ela. — E você pequena?

— Sodade papa... a mama feizi meu mamá, maisi ela num coloco muito açúcri como voche.

— Shi! – Eu disse olhando para os lados. — Lembra que é nosso segredo e é só no sábado, pois açúcar faz mal.

— Eu seio... maisi hoje ser sábado.

— A tarde eu a faço, ok? – Ela assentiu e me abraçou forte. Beijei a testa dela e encostei a porta. Caminhei até a cozinha e o cheiro estava divino.

— Vô vê a mana. Queio mexe no PC. – Eu a soltei e ela correu para as escadas.

Lauren não estava na cozinha. Encontrei ela no quintal, colocando água nos seus vasinhos de flores.

— Camz! Vocês demoraram.

— Sabe que sua filha está andando de skate? – Ela sorriu.

— Ela está treinando há tempos para te impressionar.

— E conseguiu me deixar com mais cabelos brancos. Céus, Lo.

— Se ela gosta, amor, que mal tem?

— Eu tenho cicatrizes até hoje.

— Ela vai andar de qualquer forma. Não lembra como você era? Quanto mais seus pais falavam, mais você andava.

— Coitados dos meus pais, agora entendo o que fazia com eles.

— Eu também. – Ela disse e colocou o regador sobre a mesa. — Mas não éramos tão ruins e elas também não são.

— Não. Não é isso, só acho a Bia muito aventureira.

— Melhor apoiá-la.

— Também acho, ou ela vai fazer e não nos contar. – Eu disse e abracei Lauren. — Falado nisso, ela está no banho e cortou o joelho. Eu fiz um curativo, mas não está lá essas coisas.

— Corte sério?

— Quase provocou desmaio.

— Meu Deus, Camila. Vamos ver ela...

— Eu que quase desmaiei. Ela está ótima. – Ela bateu no meu braço.

— Quer me matar, Camila?

— Mas eu cheguei e a menina estava no meio da quadra jogando e a perna escorrendo sangue, manchando a quadra toda. O treinador que me amparou e disse que ela quis jogar e o corte era superficial.

— Camila... você é uma dramática.

— Se fosse você tinha batido no treinador que eu sei.

— Tinha batido mesmo, mas não faria drama.

— Duvido muito... era muito sangue.

— Camz... ela cresceu. Ela sabe se cuidar um pouco, se você a ficar sufocando...

— Hey! Eu não a sufoco, só cuido dela.

— Eu entendo, mas ela é novinha e sabe como fica a cabeça dela nessa idade. Você já passou por isso.

— Na verdade quando eu tinha a idade dela, tudo que eu queria é que meu pai cuidasse de mim. – Ela deixou os ombros caírem um pouco e abriu os braços para mim. A abracei. — Não que eu esteja remoendo isso, só não quero errar com elas e que deixar claro que estou aqui para tudo.

— Então seja amiga delas, não a psicótica que não gosta que elas comam chiclete para não engolir eles.

— Foi só um susto.

— Se contenha ok? – Ela beijou minha testa. — Eu sei que seu pai foi bem ausente, mas não significa que você tem que ser a sombra delas. – Ela afagou minhas costas. — Agora repita um mantra comigo.

— Lauren...

— Só repete... criamos os filhos...

— Criamos os filhos...

— Para o mundo... – Eu fiquei calada... — Sem sexo se não repetir...

— Para o mundo.

Ela gargalhou e selamos nossos lábios.

Depois nos reunimos a mesa e almoçamos.

TramaOnde histórias criam vida. Descubra agora