Capítulo 40 - Vero

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Camila Cabello  |  Point of View





Eu estava no prédio de Vero. Ela não quer me receber e inventou várias desculpas. Caminhei no quarteirão e subi as escadas de emergência, parando em frente ao andar de Vero. A janela não devia ser a do apartamento dela, não tem como saber os números por fora. Uma senhora apareceu para regar as plantas e se assustou quando me viu.

— Não se preocupe. Eu só queria ver minha amiga e estou tentando achar o apartamento dela. Desculpe incomodar.

— Tudo bem... se você fosse malvada, teria me matado, não se explicado. Então... ela é só sua amiga, ou vocês ficam de retoço por aí?

— Retoço?

— Sabe... namorico.

— Ah. Não, ela é só minha amiga mesmo, faz anos que não a vejo.

— Entendi. Bom... me diz o nome dela, talvez eu posso ajudar.

— Vero... – Ela pensou.

— Sei quem é. A menina triste do número em frente ao meu.

— Hum... muito obrigada. Vou fazer a volta.

— Não precisa, menina. Entra por aqui. – Ela abriu mais a janela.

— Eu nunca faria mal, mas a senhora não deve fazer isso. É muito perigoso.

— Eu conheço muito do mundo, mas você... nunca senti presença mais calma... como uma jovem tem essa paz?

— Idade não me representa nada. Sou jovem... mas já vi de tudo. A intensidade se fez presente em todos os momentos e agora... só vivo na paz de Buda.

— Claro... uma budista.

— Obrigada pela ajuda. Fique em paz.

— Você também. Espero que faça as pazes com ela.

— Eu também.

Ela apontou uma das portas e logo parei em frente a ela. Eu bati, mas o rock pesado estava tão alto... eu tentei abrir, mas estava trancada. Procurei alguma chave reserva, quando estava quase desistindo, passei a mão pelo marco da porta e acabei derrubando a chave longe. A peguei e abri a porta. O apartamento fedia... estava carregado, eu fiquei enjoava com a massa densa de negativismo que adentrou minha aura. Vero estava deitada de bruços no sofá. O cinzeiro tinha um morro de cinzas, na mesa, um cartão de crédito e um pó branco que eu espero do fundo do meu âmago que não seja o que estou pesando.

— Vero? – Eu desliguei o som e toquei o ombro dela. — Vero. Acorda!

Ela ergueu o tronco... e levantou rápido quando me viu.

— Camila? – Ela estava zangada. — Como você entrou aqui?

— Achei a chave reserva e tive a ajuda da senhora ali na frente.

— O que você quer?

— Poxa... eu quero ver você. Estou com saudades.

— Já viu. Agora vaza. – Ela sentou no sofá e acendeu um cigarro.

— Vero... o que está fazendo com você?

— Acho que isso não importa a você.

— Vero! Para de me tratar assim. Somos melhores amigas. – Ela riu em desdém.

— Melhores amigas... não lembrou disso quando eu foi embora.

— Vero... eu precisava e não sabe o quanto me fez bem.

— Voltou porque?

— Eu vou me casar com Lauren. – Ela me encarou... ficou me olhando...

— Faz sentido. Foi por causa dela e voltou por causa dela. Deixou a família, os amigos... por ela, e voltou... por ela.

— Vero...

— Não use essa fala mansa comigo, Camila. Eu não quero sua pena, estou muito bem.

— Usando essas porcarias? Acha que está bem?

— Estou ótima. Sou responsável por minhas atitudes desde sempre. Meus pais já desistiram de mim, minha namorada não aparece há dias... e agora devo saber que é por que você voltou. Deve estar maquinando como trepar com você.

— Vero... – Sentei de frente pra ela. — Eu senti sua falta. Ficar sem você foi uma das coisas mais difíceis. Eu estava assustada, em uma cultura bem diferente e você sabe quem era a única pessoa que me fazia dormir quando eu passava por dificuldades. Você me ajudou tanto... – Eu toquei o rosto dela. — Me perdoa se te fiz sofrer... eu só não podia continuar aqui... a Lucy me perseguindo, você e os meninos aprovados na universidade e eu ficaria sozinha.

— Eu disse que ficaria com você.

— Mais me ajudou a ir... eu nunca prejudicaria seu futuro. Me perdoa, Vero. Eu posso ter errado com você, mas eu nunca pensei que você ficaria assim...

— Eu estou ótima. – Eu a abracei, ela demorou, mas acabou retribuindo. — Você é uma idiota. Eu odeio você... eu não consegui sem você. – Ela começou a chorar...

— Se você respondesse minhas cartas, me contasse como estava se sentindo, eu teria te ajudado... eu daria um jeito.

— Eu te odeio... – Ela disse acertando um soco no meu ombro.

— Tudo bem. Pode me odiar... mas não me ignore mais. – Eu disse e levantei. — Bom... Agora, você vai seguir minhas regras.

— Há há! Mal voltou e quer mandar em mim.

— Exato... quero que coloque todas as drogas pesadas que tem nesse apartamento sobre essa mesa.

— Eu não vou...

— Agora, Verônica! – Eu disse em um tom irritado e ela me encarou por um tempo. Logo ela saiu e voltou com uma caixinha. Tinha muitas coisas... abri uma sacolinha e lambi uma pitada... — Cocaína? Sério isso?

— A vida é minha. E eu paro quando eu quiser.

— Agora é nossa. Eu não sei a quanto tempo usa isso, mas vamos limpar esse apartamento e você vai morar na minha
casa até se firmar.

— Não vou mesmo.

— Vai... ou eu vou ligar pra Sra. Iglesias e contar o que a preferida dela anda fazendo.

— Pode contar, eles já desistiram de mim.

— Que bom que eu voltei então. Vou arrumar sua mala e você vem comigo.

— Camila.... eu não sou criança.

— Então pare de agir como uma. Vamos logo, pois vou queimar isso aqui e amanhã alguém vai vir organizar isso aqui. Se você não quer ser presa, é melhor todos os seus passatempos estarem aqui. – Ela saiu e voltou com uma mochila e mais uma caixinha. — Bom... podemos ir.

— Isso é ridículo.

— Ridículo é a garota incrível que eu conheci se afundar nisso. Ridículo é a garota inteligente que eu conheci, se sujeitar a um relacionamento destrutivo com uma pessoa que não lhe dá o devido valor.

— Eu odeio você. – Eu ri.

— Continua ótima com seus argumentos. Eu tenho um serviço pra você.

— Não trabalho.

— Agora vai. Preciso de uma engenheira pra me ajudar a construir um templo aqui em Miami.

— Vai sonhando.

— Sim... é sonho, mas você vai me ajudar a concretizar. – Eu disse e fechei a porta do apartamento dela. Espero que nenhum policial me reviste com esse monte de drogas que tenho sob meu braço.

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