O salão onde a anciã ficava era bem pequeno. Muito diferente do cenário que minha imaginação fértil e desocupada criou durante esses meses de curiosidade. Foram poucas as vezes em que a vi, ela estava sempre ocupada com orações, sacrifícios aos Deuses e remédios de cura. Os Wonkru eram pagãos, nos termos mais simples, eles só acreditavam em Odin e nos Deuses nórdicos. Diferente dos habitantes da superfície, que, após meu avô Ragnar ter se batizado como cristãos, passaram a considerar o Deus cristão como nosso também. Existe uma divisão entre vikings considerados pagãos e cristãos, mas também há aqueles que, assim como eu, preferem acreditar em tudo que podem. O povo de Eldarya é todo assim, nós acreditamos em todos eles, por quê quem crê em tudo nunca fica sozinho no escuro.
Haviam muitas tochas acesas, objetos pendurados no teto, símbolos que eu não reconhecia feitos com madeira e linha. Ela estava sempre sentada no chão, cercada de panelinhas e folhas, o rosto sempre pintado com a faixa branca nos olhos, longos cabelos também brancos, ao seu lado, pelo menos três de suas aprendizes. Ela sorriu quando me viu entrar e apontou para minhas pernas, as mulheres ao lado dela abriram largos sorrisos também e se levantaram para vir me receber. Fui instruída a me sentar no chão, de frente a ela, tirei meus sapatos, como forma de respeito e me acomodei na terra fria. Ela ficou me observando por alguns momentos, suas aprendizes sentaram atrás de mim e começaram a trançar meu cabelo, que a essa altura estava enorme. Outra coisa que aprendi com os Wonkru, penteados de cabelo como os de Ezarel e Octavia, eu não fazia ideia de como eles dois conseguiam deixar os cabelos tão bonitos, cheios de tranças. Mas agora eu sei e só uso meu cabelo trançado.
- Eu sei por quê você está aqui. - Ela disse com uma voz calma, seus olhos serenos pareciam sorrir.
- Eu gostaria de agradecer pelo que fez por mim. - Me refiro às inúmeras poções e chás que ela me mandava tomar. Emori nunca aparecia sem um copo em mãos.
- Você é boa, Ember. - Ela suspirou. - Boa demais para morrer de uma forma tão indigna.
- Eu preciso voltar para Eldarya. - Ela assentiu.
- Sim, você precisa. - Seu olhar, agora enigmático, parecia ler todas as células do meu corpo. - Você tem muito o que fazer.
- O que quer dizer?
- Você finalmente entendeu o que precisava entender. - Dessa vez ela sorriu.
- O quê? - Eu não estava entendendo nada do que ela dizia. Parecia um enigma.
- Sua mente teima em pensar tão logicamente. - Ela pegou meu braço e começou a enrolar uma linha vermelha em meu pulso. - Mas o seu coração tem conseguido quebrar essas barreiras da sua cabeça. - Ela deu um nó na linha e cortou as pontas que sobraram.
- Um fio vermelho... - Encarei meu punho e depois olhei para ela.
- Ele te achou inúmeras vezes desde que você veio para cá. - Ela continuou. - Você ainda estava desacordada quando senti sua presença e o ouvi gritar o seu nome pela primeira vez. - A anciã me entregou outra linha vermelha e fechou minhas mãos sobre ela, dando um sinal para que eu a levasse comigo.
- Quem? - Ela riu e não me respondeu.
- Desde então, ele sempre volta ao mesmo lugar. Por quê algo dentro dele sabe que você sempre esteve aqui, ele sempre é atraído até você.
- De quem a senhora está falando? - Insisti. Meu coração batia acelerado. Minha mente gritava por um nome, mas meu coração ansiava que fosse outro.
- Você já sabe. - Sorriu. - Vai perceber uma hora ou outra. - Ela simplesmente ignorou tudo que perguntei. - Vocês estão destinados a fazer grandes coisas, juntos. Ele não cruzou o seu caminho por acaso, vai te ensinar muitas coisas, principalmente sobre o amor.