O dia se passou tranquilo, a feira da cidade foi fechada mais cedo e os aldeões se recolheram em suas casas ao invés de ir até as tabernas, como de costume. A noite caiu e pela primeira vez em muito tempo o reino estava silencioso, sem músicas nas estalagens e tabernas, sem fogueiras para assar carne e sem risadas altas até tarde da noite, os pescadores não estão no mar esticando suas redes. Apenas algumas galinhas e porcos andavam livres nas ruelas, sem medo das crianças os perseguiream com galhos.
O muro de madeira continua de pé e há guardas no espaço entre ele e a muralha o tempo todo. Também estão vigiando a entrada pelo mar, a floresta dos bastardos e o grande paredão rochoso que protege as costas do reino. Qualquer sinal de um ataque surpresa será visto. Eu observava o mar de minha nova varanda até que vi alguém caminhar na areia. Segurava um pequeno lampião com uma das mãos e as botas na outra. Eu reconheceria aquele andar a qualquer distância, era Nevra. Em um dado momento ele se sentou na areia e ficou um bom tempo parado olhando o mar, contive minha vontade de descer até onde ele estava, mas não sai da varanda até que ele levantasse e fosse embora, eu sinto falta dele, a essa hora ele estaria em baixo de meus lençóis me aquecendo do frio.
Deixei esses pensamentos de lado quando dois guardas relusentes passaram marchando em sua checagem de terreno. Percebi que minha roupa era curta demais para me dar ao luxo de ficar muito tempo exposta, então entrei em meu quarto e fechei bem as portas de vidro. Apaguei os castiçais, deixando apenas um candeeiro a óleo aceso ao lado da cama, me deitei e fechei os olhos orando para conseguir dormir logo.
Os piores momentos para se estar sozinha é quando está na hora de dormir, minha mente me leva até Nevra e me faz pensar em como ele está, se já dormiu, se há outra mulher em sua cama, se pensa em mim como eu ando pensando nele. Acalmei minha respiração e lentamente o sono se apossou de mim, é apenas quando estou dormindo que minha mente me deixa em paz.
No dia seguinte acordei com passos apressados no corredor e batidas persistentes na porta do quarto. Não tive tempo de mandar a pessoa entrar, Deidra já havia entrado apressada e ofegante.
- O que houve? - Me sentei assustada.
- A segunda carta de guerra. - Ela andou de um lado pro outro. - Os reino de Encantia e Efrir vão nos atacar em breve.
- E todos eles vão atacar em conjunto?
- Amber! - Ela arregalou os olhos e quase gritou.
- O quê?!
- De algum jeito eles fizeram a carta chegar atrasada, eles vão nos atacar hoje ou amanhã, não temos tempo!
- Como assim? - Me levantei da cama, minhas pernas tremiam.
- Eu não sei como fizeram isso, mas fizeram. Só temos no máximo até a tarde de hoje.
- Apenas faça o que eu disse, Deidra. Siga minhas instruções.
- Como você pode se manter tão calma ?
- Você é minha comandante, deveria estar tão ou mais calma quanto eu. Ponha sua cabeça no lugar e vá fazer o seu trabalho. - Fui séria com ela e parece que funcionou, pois Deidra endireitou sua postura e saiu marchando para fora de meus aposentos.
Mais um ataque, vinte e quatro horas depois do outro, parece que os reis não estão de brincadeira. Corri para a cozinha e tomei café rapidamente segui até o salão principal onde Octavia me esperava junto a Nevra.
- Me atualizem, por favor.
- O exército dos reinos de Efrir e Encantia já estão marchando pra cá. - Octavia disparou.
- Quando chegam?
- Estimamos que amanhã de manhã. - Nevra me respondeu.
- Então eles estão vindo por terra. - Eles assentiram. - Como estão as defesas dos muros?