XXXII

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Acordei me sentindo mal, eu não sentia meus membros, mas podia me sentir ferver por dentro, um calor quase insuportável. Tentei chamar por alguém, mas minha voz não saiu, minha boca estava tão seca que minha garganta parecia estar rachada.

Movi meus olhos e pude me ver em uma sala muito diferente, mais parecia a toca de um hobbit. Pela janela que estava bem ao meu lado, pude ver que ainda era dia, mas a iluminação da casa provinha totalmente de lamparinas, a luz do sol simplesmente não entrava no cômodo.

Tentei me levantar, mas percebi que apenas meus braços me obedeciam, minhas pernas estavam dormentes, o efeito do paralisante ainda não havia passado. Puxei minhas pernas mais para cima e me sentei mais ereta na cama. Onde diabos eu estou?

A porta se abriu lentamente e uma moça jovem pôs a cabeça para dentro do cômodo. Ela possuia a mesma faixa branca pintada na linha dos olhos, uma coisa que eu nunca vi antes. Ela me encarou por um tempo, como se me estudasse, tentando descobrir que se tinha ou não permissão para entrar.

Quando ela entrou, segurava um copo nas mãos, me olhava curiosa e ao mesmo tempo preocupada, ela sentou na cadeira ao lado da cama e ficou um tempo em silêncio, segurando o copo com as duas mãos. Até que levantou e caminhou para o outro lado, abrindo a janela completamente.

- Nunca tem luz aqui. - Ela disse, ainda de costas para mim. - Casas subterrâneas, muita segurança, pouca iluminação.

- Subterrâneo? - Questionei.

- Ah, sim. - Ela se virou sorrindo e voltou a se sentar. - Beba isso. - Me entregou o copo. - É um chá.

- Obrigada. - Peguei o copo de suas mãos e dei um gole, o gosto não era tão ruim. - Qual seu nome?

- Eu me chamo Emori e você?

- Ember. - Lhe dei um sorrisinho.

- Você, por acaso, é a rainha de Eldarya? - Ela arregalou os olhos.

- Acho que ainda sou.

- Nós sabemos o quanto você é boa. - Ela me olhou com admiração. - A única rainha que governa pelo povo.

- Obrigada. - Sorri e tentei mecher as pernas novamente, mas não consegui.

- Não consegue mexê- las, não é? - Ela me olhou triste.

- Não. Me disseram que o efeito passaria em algumas horas.

- Ember. - Ela tirou o copo de minhas mãos. - Você ficou desacordada por duas semanas.

- O quê? - Quase gritei, minha cabeça estava girando com a novidade.

- A toxina que atingiu você, entrou na sua corrente sanguínea e atingiu um nervo da sua coluna.

- Isso explica as minhas pernas. - Ela assentiu. - Quer dizer que não vou mais andar?

- Acreditamos que vai sim. - Ela sorriu animada. - Você passou duas semanas completamente paralisada, mas foi mexendo os braços aos poucos, achamos que a toxina está saindo aos poucos do seu corpo.

- Isso é bom. - Suspirei aliviada.

- Mas isso pode demorar. - Ela entortou um pouco a boca. - Por você não poder se movimentar, talvez suas pernas demorem mais a funcionar.

- De quanto tempo você está falando?

- Talvez, dois anos. Na melhor estimativa.

- Você só pode estar brincando. - A olhei indignada. - Eu não posso voltar para o meu reino desse jeito.

- Eu sei disso e sinto muito. - Ela suspirou. - A flecha que te atingiu fez um corte mais fundo do que o normal. Talvez, se alguém tivesse sugado a toxina do local, não tivesse te afetado tanto.

- Não tinham como saber.

- Exatamente. Quando te encontramos na floresta, você estava suando muito e pálida, ardendo em febre. E continuou assim durante quinze dias, tivemos medo que seu corpo não reagisse ao veneno.

- Obrigada por me ajudar, acho que teria morrido se não tivessem me encontrado.

- É provável que sim, mais algumas horas e a toxina chegaria ao seu cérebro, paralisando suas funções.

- Mas, e agora, o que acontece?

- Você deve ficar aqui até se recuperar totalmente. Não sabemos por que o veneno agiu assim em você, queremos que fique se cuidando com a nossa curandeira.

- Eu não posso voltar para Eldarya assim, serei um alvo fácil, as guardas terão que voltar seus olhos para mim. - Passei a mão no rosto. - Isso desestruturaria tudo.

- Você tem quem cuide do reino por você? - Emori me encarou. - Pessoas de confiança?

- Tenho sim. - Me lembrei de Octavia e Deidra, elas assumem na minha ausência.

- Bom, então está decidido. - Emori sorriu.

- Emori. - Ela voltou a atenção para mim. - Eu posso avisar a alguém que estou aqui?

- Infelizmente não, Ember. - Me olhou triste. - Existem motivos para não reverlamos nossa localização.

- Eu entendo. - Suspirei. - Quer dizer que passarei dois anos sem ver aqueles que amo.

- Sei que vai ser difícil, mas tenho certeza de que você vai se recuperar. Quando estiver completamente curada, te levaremos de volta em segurança.

- Só posso agradecer. - A olhei com os olhos marejados.

- Não se preocupe, Ember. - Ela segurou minha mão. - Você está mais segura aqui do que em qualquer lugar, ninguém sabe da nossa existência e já que tem pessoas querendo te matar, é bom que achem que conseguiram, por um tempo.

- É um plano doloroso e egoísta.

- Eu não diria que é egoista. A rainha viva significa um reino vivo, mesmo que as muralhas desabem.

- Elas não vão desabar. - Eu sorri. - Espero que as pessoas que eu amo também não.

- Não irão. - Ela sorriu. - Quando você voltar, estarão todos lá.

- Queiram os Deuses que sim.

- Bem, você ainda está com febre. - Ela pôs a mão na minha testa. - Vou buscar um remédio e já volto. Não faça esforço.

Emori saiu do quarto e eu me pus a pensar. Dois anos longe de Nevra, Octavia e Deidra, dois anos longe de Ezarel. A pior parte nem é essa, é o fato deles não saberem o que aconteceu comigo, provavelmente vão pensar que estou morta, mal saberão que se essas pessoas não tivessem me resgatado, eu realmente teria partido dessa para melhor.

Me permiti chorar, imaginei as reações de Ezarel e Nevra  ao voltarem ao lugar onde me deixaram e não me encontrarem. Provavelmente Ezarel brigaria com Nevra, por ter me apoiado em meu plano e se culparia por ter me deixado lá.

Como seriam os próximos dias? Provavelmente de buscas intensas em todos os cantos de todos os reinos, provavelmente passariam por cima de mim várias vezes, sem imaginar que eu estou tão perto. E quando não me achassem? Como agiriam? O que será que passaria pelas cabeças dos mais próximos a mim? Octavia com certeza cortará a cabeça de Malcon quando ele disser que não sabe onde eu estou.

Dois anos é muito tempo, o que será que vou encontrar quando voltar?

Realm of EmberOnde histórias criam vida. Descubra agora