Estava parada na varanda quando ouvi a porta do quarto sendo aberta, por um momento tive a esperança de que fosse Nevra entrando no quarto e me dizendo que não aceita minhas desculpas e que a guerra não é maior do que o que nós temos. Mas esse vislumbre se foi quando Deidra entrou em meu campo de visão e minha primeira reação foi correr para abraça-la e chorar em seu ombro.
- Vamos, Amber, se acalme. - Ela me puxou para dentro do quarto. - Não podem ver a rainha desse jeito.
- Eu não aguento mais! - Sai de seus braços e gritei. - Tudo que eu faço e tenho que fazer tem haver com essa coroa amaldiçoada! Eu não posso ter a minha própria vida, por que tenho que abrir mão de tudo que amo para manter esse reino de pé! Eu não sabia que uma coroa podia ser tão pesada! Amaldiçoada seja! - Voltei novamente a chorar, me debrucei no chão e ali fiquei até Deidra sentar-se perto de mim.
- Me diga o que aconteceu. - Ela pôs a mão em meu ombro.
- Está aqui como minha amiga ou como a sub comandante?
- Sempre que estiver ao seu lado, estarei como sua amiga.
- Eu... - Comecei a chorar novamente. - Eu o deixei ir. Você me disse para não abrir mão dele, mas eu fui covarde.
- Está falando do Nevra? - Assenti e meu choro aumentou. - Por quê o deixou ir?
- Eu não posso perder mais ninguém que eu me importo. Eu já tenho você e Octavia na linha de frente em todos os conflitos, eu não posso me importar com mais um.
- Mas Amber, afastar o Nevra só prova que você se importa muito com ele.
- Mas eu não quero! - Pus as mãos na cabeça, estou parecendo uma louca.
- Afasta-lo não vai mudar o que você sente por ele, muito menos o que ele sente por você.
- Mas isso vai mudar, não estamos mais juntos, em breve tudo isso não passará de uma paixão de poucos dias.
- Nada que foi capaz de ser tão intenso em poucos dias deixará de existir tão facilmente, Amber. - Deidra me olhava preocupada. - Você precisa parar de temer.
- Me diga, como uma mulher na minha posição pode deixar de temer? - A encarei. - Eu temo todos os minutos da minha vida e quando eu deixar de temer, meu reino sucumbirá.
- Você tem que deixar de temer ao amor. Sabe o que aconteceu comigo quando eu temi tanto o amor que não tive coragem de vivê-lo? - Ela me olhava agora com os olhos cheios de lágrimas. - Seu irmão foi morto em batalha e eu não pude lhe dar um último beijo, todos os dias eu me lembro do quanto fui feliz em meus momentos com ele e no quanto ele queria que ficássemos juntos, mas eu fui covarde e o perdi para sempre. Agora você está fazendo a mesma coisa que eu fiz e uma guerra está batendo a sua porta. Amber, não faça isso!
- O que quer que eu faça, Deidra?! Eu não aguento outra perda!
- Volte atrás no que quer que tenha dito ao Nevra. Vá atrás dele e diga que o ama. Dê a ele um motivo para voltar vivo das batalhas.
- Eu não posso fazer isso. Não posso entregar meu coração e assumir essa fraqueza. Seria como ter parte minha pulsando fora de mim.
- Precisa dizer que o ama enquanto há tempo. Se Nevra morrer em alguma das batalhas que está por vir, você irá sofrer muito de todo jeito. Resta saber se sofrerá não tendo dito a ele o que sente, ou se sofrerá sabendo que ele morreu tendo consciência de seus sentimentos. Acredite Amber, isso faz muita diferença.
- Eu não posso. - As lágrimas começaram a descer novamente. - Ele perguntou se eu sou apaixonada por ele.
- O que respondeu?
- Que não. - Creio que já se podia ouvir meu choro pelo corredor, eu não tenho mais controle sobre isso, eu só quero chorar. - Ele me disse que está apaixonado por mim, ele disse olhando em meus olhos. E eu... eu disse que não sinto o mesmo. Ele vai ficar melhor sem alguém capaz de partir seu coração desse jeito.
- Amber, você pode voltar atrás.
- Mas eu não vou. Que futuro eu teria com ele? Não me casarei, teria que viver as escondidas, como dois bandidos. Ele merece um futuro melhor que o que eu posso oferecer.
- Mas ele ama você. Como acha que ele terá um futuro melhor se não estará com quem ama?
- O amor passa, não há nada nessa vida que não passe. - Limpei minhas lágrimas e me levantei.
- Está enganada sobre isso, alteza. - Deidra me olhava fria. - Você errou. Decidiu desitir do amor por medo, optou pelo caminho mais fácil.
- Não preciso que me diga isso, pois eu já sei, comandante. - Me virei para ela.
- Parece não se dar conta de que está abrindo mão da coisa mais preciosa que pode ter na vida. Nevra te respeita, respeita cada mulher desse reino, ele poderia ter uma na cama por noite, ou até mais de uma, mas desde que se deitou com você, não se interessou por mais ninguém, mesmo você dizendo que não há nada entre vocês.
- Pare de me dizer essas coisas. Acha que não sei o quanto ele é um homem bom?
- Sabe?! - Ela alterou um pouco o tom de voz. - Está diposta a abrir mão dele, então você não sabe, Amber.
- Eu sei. Por isso estou tirando das costas dele o alvo que seu envolvimento comigo havia pintado. Lá no campo de batalha ele vai ser apenas mais um soldado e não a cabeça premiada para fazer a rainha sofrer. Você sabe muito bem que são capazes de mata-lo e jogarem sua cabeça na minha janela. Se o matassem por minha causa, eu enlouqueceria.
- É um ato nobre que está fazendo, mas não deixa de ser covarde. Por que não disse a ele o que sente, não disse a verdade por trás desse afastamento. Está o fazendo sofrer tanto quanto você está sofrendo.
- É melhor para ele.
- Você é a rainha, mas não pode decidir o que é melhor para ele, nem para ninguém.
- Mas eu já decidi sobre o que é melhor para mim. E o melhor para mim é me afastar dele.
- Está tentando convencer a mim ou a você?
- Deidra, isso vai passar. Em breve não será nada. - Respirei fundo tentando me controlar.
- Também está errada sobre isso. O amor de verdade não passa. Quando sua alma encontra aquilo que ela vem procurando de outras vidas, não passa. Nunca passará.
- Eu que decido sobre isso.
- Espero que não seja tarde demais quando você descobrir que não tem poder nenhum sobre o que sente. - Ela baixou o olhar e enxugou algumas lágrimas. - Eu percebi tarde demais. Mas o meu amor por seu irmão, nunca passou. - Ela me olhou uma última vez antes de sair do meu quarto.
Corri para trancar a porta e poder chorar sem ser vista. Eu sei que tudo que ela disse é verdade, sei que o que sinto por Nevra jamais sumirá, mas não posso deixar que sentimentos o ponham como um troféu para o inimigo e nem posso deixa-lo ao meu lado sabendo que nunca passaremos de amantes. Não posso impedir que ela tenha mais do que isso, por que ele merece. Uma hora ou outra ele se casará com alguém e vai seguir sua vida sem mim e com certeza vai ser melhor do que viver as escondidas com a rainha.
Pesada é a cabeça de quem usa a coroa.