Acordei com o barulho da porta do quarto se fechando, me sentei em um sobressalto, mas não havia ninguém no quarto. Ao meu lado havia um banco de madeira, com um lampião aceso, Malcon deve ter posto durante a noite. Apaguei o lampião e me levantei, lentamente observei o quarto, estava do mesmo jeito de ontem, mas com uma nova bandeja de comida sobre a mesa, isso explica o barulho da porta, ele já trouxe meu café da manhã.
Tomei um banho e vesti outro conjunto de roupas que ele havia deixado no banheiro, comi o mingau de aveia com mel que ele pôs na mesa e me pus a pensar. Fugir sozinha não era uma opção no momento, eu não teria muito tempo até perceberem que o quarto está vazio, mas não posso ficar esperando que, magicamente, alguém me encontre. Seriam necessários homens demais, e tenho certeza que Eldarya já perdeu muitos.
Abri as janelas e comecei a prestar mais atenção nas barras de ferro que a bloqueavam, foram pregadas na parede do lado de fora, talvez possam ser retiradas. Passei um tempo forçando uma delas, quando me dei conta de que não iriam se soltar, teria que tentar de outro jeito. Fechei a janela novamente e me deitei na cama, mil pensamentos por minuto, mas nenhum claro o suficiente.
Foi quando tive um surto e levantei para verificar se o que eu tinha visto era verdade. As barras de ferro não estavam presas na alvenaria da casa, e sim na madeira da janela velha e roida, essa com certeza foi a melhor constatação do dia. Os próximos três dias, nas minhas contas, passei tentando afrouxar a moldura da janela e consegui. Aos poucos a madeira ia ficando bamba, mas eu teria que tomar cuidado, a janela não poderia cair e ninguém poderia perceber que estava solta, então eu só forcei as partes dos lados e de baixo, ficaria mais fácil para sair durante a noite.
Conto com o sono pesado e a despreocupação dos guardas que estão na floresta, afinal, que dificuldade há em guardar uma única mulher?
Mais um dia amanheceu, na minha cabeça, eu já estou presa há uma semana, estava trabalhando na janela mais uma vez, quando Malcon entrou, furioso. Fechei o lençol que fiz de cortina rapidamente e o olhei atenta.
- A senhora não podia ter me ouvido, não é mesmo? - Ele disse enquanto andava de um lado para o outro.
- Do que está falando, Malcon? - Perguntei com cautela.
- Imagine qual não foi a minha surpresa, quando ao caminhar pelo jardim, noto isto pendurado na grade da janela! - Ele tirou do bolso o pedaço de tecido que eu havia pendurado dias atrás.
- Você demorou pra descobrir. - Foi o que me permiti dizer.
- Bem. - Ele suspirou. - Já que a senhora não entende que apenas quero o seu bem, terei que ser mais rigoroso daqui pra frente.
- O que está fazendo? - Perguntei quando o vi se aproximar de mim com uma corda nas mãos.
- Amarrando suas mãos novamente. - Ele pegou minhas mãos e pôs a frente de meu corpo, amarrando-as firme.
- Por causa de um pedaço de tecido?
- Não! - Ele alterou o tom de voz. - Por que você tentou denunciar sua localização, por que você é esperta demais, e nem um pouco confiável.
- Ah, então agora é essa a denominação para quando uma mulher é mais inteligente que você? - Eu revirei os olhos. - Homens.
- Tudo vai se resolver em breve. - Ele disse após se afastar de mim. - Não tente mais nada. - Ele me olhou sério e saiu do quarto.
Ótimo, agora estou amarrada e sem poder continuar com meu plano. Como pude deixar o tecido lá quando já tinha outra estratégia? Ele podia ter percebido a janela solta, um grande erro, Ember. Estou enferrujada.