Quando a noite caiu, eu finalmente me vi sozinha. Finan chegou para o jantar acompanhado de Ezarel, estava completamente sujo de lama, com o cabelo cortado e com a expressão de alguém que foi pisoteado por cavalos. Ele quase caiu com o rosto no prato de tão cansado que estava, meus comandantes se divertiram com essa cena até que Ezarel teve pena e o levou para o quarto. Alguns momentos depois eu também me levantei, me despedi de minhas amigas e segui para o meu quarto, estava cansada. Minha mãe sempre dizia que um dia cheio de emoções nos deixava mais cansados do que um dia cheio de afazeres. Tomei um banho demorado, ainda aproveitando meu banheiro e todas as minhas coisas, um hábito que percebi estar criando, aproveitar bem tudo que tenho. Saí do banho e pus minha camisola, também estava com saudades delas, na aldeia Wonkru eu dormia com calças e camisas, por que a qualquer momento Emori poderia entrar no quarto, estava feliz em dormir sem roupas íntimas novamente.
Estava perdida em pensamentos, observando o mar da minha janela. Quando Nevra passou por minha mente, ele não compareceu para nenhuma refeição no castelo, obviamente não precisava mais, sua esposa deveria cozinhar em casa. Fiquei impressionada comigo e a falta de sentimentos que tive por ele quando o vi, normalmente eu teria ficado completamente derretida ao vê-lo chegando desesperado no meu quarto. Sentir seus braços ao meu redor não me causaram os arrepios que costumavam causar, ver os seus olhos não me deixou nervosa, a sua presença não significou mais do que a chegada de um amigo. Muito diferente do que senti quando vi Ezarel, só de saber de sua chegada, o meu corpo já reagiu. Todas as minhas células queriam estar perto dele, o tempo todo. Batidas na porta me tiraram dos meus devaneios.
- Eu não me despedi de você no jantar. - Ezarel estava parado na minha frente. Usava sua típica calça de couro, mas sem o colete por cima.
- Estava ocupado carregando o Finan. - Sorri e ele concordou.
- Sei que já está tarde, mas eu gostaria de passar mais tempo com você. - Ele parecia nervoso ao falar. - Aceita dar um passeio?
- Eu adoraria. - Me animei.
- Acho melhor você pôr um casaco. - Ele apontou para o meu corpo pouco coberto pela camisola de seda.
- É verdade. - Concordei e fui buscar um casaco. Ele se escorou na porta e ficou me observando.
- Acho que nunca te vi vestida como alguém comum. - Ezarel comentou.
- Se estivesse aqui no dia em que cheguei, teria me visto com roupas de homem, cabelo cheio de folhas e terra em baixo das unhas. - Falei enquanto pegava um casaco comprido.
- Ainda não acredito que você está aqui. - Ele me estendeu a mão quando me aproximei já vestida.
- Eu cheguei quando você saiu. - Ri com a inconveniência.
- É verdade que me ouviu chamando por você? - Ezarel entrelaçou nossos dedos.
- Sim. - Assenti. - A sua voz fez minhas pernas voltarem a funcionar.
- O quê? - Ele riu.
- Quando te ouvi me chamando, tive vontade de correr para te encontrar e por um milésimo de segundo esqueci que minhas pernas não funcionavam.
- E então, elas se mexeram? - Me olhou com o cenho franzido e eu assenti.
- Eu acabei esquecendo de correr até você, tamanho o susto que tomei. - Suspirei. - Já havia perdido da esperanças.
Descemos as escadas para o grande salão. O castelo inteiro imerso nas sombras, pegamos o caminho para a cozinha, saindo nos fundos da construção, em direção ao mar.
- Então, você não voltaria se não melhorasse? - Ele me encarou desconfiado e eu diria que até um pouco bravo.
- Imagine como seria uma rainha aleijada.