- O que houve, Ember? - Nevra me olhava preocupado enquanto eu andava de um lado para o outro na sala.
- Você pretende cavar uma vala com os pés? - Deidra me olhou séria. - Pare de andar de um lado para outro e nos explique o que aconteceu.
- Eles me ameaçaram. - Respondi irritada. Meu sangue fervia em ódio.
- O quê? - Nevra se levantou da mesa onde estava apoiado.
- Como assim, Ember? - Deidra franziu o cenho e me encarou preocupada.
- Eles tiverem a audácia de me ameaçar dentro de meu próprio reino! - Joguei o tabuleiro de xadrez que ficava sob minha mesa no chão.
- Ember, se sente. - Nevra veio até mim e me conduziu até uma cadeiras, se agachando em minha frente. - Conte-nos do início.
- Eles propuseram uma aliança forjada no meu casamento com príncipe Lucas, mas eu recusei. Então começaram a me fazer ameaças sobre o decreto do casamento, tentando me obrigar a aceitar o matrimônio com aquele inútil.
- O que você disse a eles? - Deidra também se agachou em minha frente.
- Que não aceitaria. Então eles disseram que derrubariam meu reino e matariam a mim e minhas comandantes.
- E você? - Nevra me encarou.
- Disse a eles que se não saissem de minhas terras imediatamente eu os mataria.
- Bem, diante de uma ameaça de morte, você manteve a postura que qualquer rei manteria. - Deidra concluiu.
- Precisamos nos preparar para um suposto ataque. - Nevra me olhou nos olhos.
- O decreto do casamento real demora a ser convocado. É uma discussão longa, e a decisão só pode ser tomada após um mês. Os antigos julgaram que se em um mês os pensamentos dos reis não mudarem, é por que deve ser a decisão certa. - Deidra conhecia tudo sobre as leis reais.
- Significa que temos tempo? - Nevra a encarou.
- Sim. Mas precisamos pensar além da cabeça deles, e deduzir suas estratégias. - Ela cruzou os braços e sorriu. - Faz tempo que não travo uma boa batalha.
- Por enquanto não há necessidade do povo saber o que aconteceu hoje. Em quinze dias nós os avisaremos, quando tivermos planos traçados. Não podemos esquecer que nosso maior exército é o nosso povo, mas também precisamos defendê-lo.
- Eu concordo. - Nevra sorriu para mim. - Parece que retomou o controle de sua mente, minha rainha.
- Só o perco em momentos excepcionais. - Deidra nos olhou de olhos arregalados e todos nós rimos.
- Tudo bem, eu vou até o meu QG, vou mudar os treinamentos de minha guarda. - Ela nos avisou já saindo da sala.
- Você poderia avisar a Octavia, por favor. - Direcionei meu olhar para Nevra.
- Sim, majestade. - Ele riu e me olhou.
- O que foi?
- Jus drein, jus daun. - Ele repetiu. - Falou como uma guerreira.
- Eu também sei me virar no campo de batalha. - Sorri de lado.
- Tem mais do seu irmão em você do que imagina. - Ele acariciou meu rosto.
- Espero que sim, por que os tempos de guerra vão chegar, e eu precisarei ser tão boa quanto ele.
- Seja quantas forem as batalhas, nós vamos vencer. - Ele me olhou determinado. - Use sua estratégia, Ember e nos faça vencer.
- É difícil pensar com você tão próximo. - Respirei fundo para sentir seu cheiro.
- Sua mente é a coisa mais valiosa desse reino, foi ela que alçou Eldarya a posição que estamos hoje e é ela quem vai esmagar cada um daqueles reis. - Ele segurou meu rosto e me beijou. As carícias entre nós estavam ficando cada vez mais frequentes, eu não sei se gosto ou não de toda essa proximidade. Com meu irmão eu aprendi que quanto mais pessoas você tem, mais tem a perder e no meu caso, eu posso perder tudo.
Quando Nevra separou seus lábios dos meus, eu apenas tive o impulso de abraça-lo. Nunca passei por uma guerra, meu reino nunca foi atacado e agora, provavelmente, os nove reis unirão forças contra mim. Eu sabia que essa hora chegaria, o tempo definitivo de fincar minha soberania ou sucumbir ao sistema de sempre. E sucumbir não é uma opção.
- Tudo bem, hora de seguir o dia. - Me soltei dele. - No meu tabuleiro de xadrez não existe rei.
- Certo. - Ele riu e nós começamos a sair da sala. - Vi que Ezarel agora faz parte da guarda da sombra. - Nevra pôs as mãos nos bolsos e me encarou.
- Ele pediu para ser admitido a Octavia e seu pai me pediu que aceitasse a presença do filho aqui.
- Hum. - Ele me olhou de lado.
- Talvez tenha sido uma decisão muito útil, afinal. - Pus meu cabelo atrás da orelha.
- Por quê?
- Nós agora temos um alquimista no reino e esse dom pode ser muito útil nas batalhas que virão.
- Você já tem uma estratégia, não tem? - Ele me olhou sorrindo.
- Talvez eu tenha algumas ideias. - Sorri para ele.
- E quando pretende nos contar?
- Talvez eu te conte hoje a noite. - Lhe dei um beijo no canto da boca e saí andando em sua frente.
- Não posso desobedecer uma ordem de minha rainha. - O ouvi dizer logo atrás de mim.
- Não deve. - Olhei para trás e lhe soltei um beijo. Sai andando e deixei Nevra para trás rindo e negando com a cabeça.
Eu, sinceramente, não sei o que estou fazendo da minha vida. Tudo em relação a Nevra é confuso, somente perto dele é que entendo que quero estar com ele, mas depois que me afasto todos os sentimentos se tornam confusos, tudo se confunde em minha mente quando o rosto dele aparece. Mas quando estou com ele, eu não penso em mais nada. Sua presença deixa meu fardo mais leve e seu olhar me faz tremer na base e seu toque faz minha mente ficar em branco. Só sei que quando estou com ele ajo como a adolescente que nunca pude ser, tenho vontade de beija-lo na frente de todos e de andar por aí de mãos dadas. Mas nada disso é possível para mim, nada que seja parte de uma vida normal pode ser um dia sonhado por mim.
Nevra apareceu para confundir a minha mente, mas nesse momento em especial, minha mente não pode estar confusa.