Ezarel se sentou no chão, na minha frente e segurou minhas mãos. Eu não sabia o que fazer, ver aquele vestido horroroso, o véu e me imaginar usando tudo aquilo, caminhando em direção a um homem que eu odeio. Sei que isso não irá durar por muito tempo, mas, é um momento que, mesmo sem esperar que acontecesse comigo, eu considero único e, se um dia decidisse me casar, teria que ser com alguém que me despertasse essa vontade, que me fizesse ter vontade de seguir com todas as coisas que envolvem um matrimônio. O olhar de Ezarel estava me destruindo, ver o homem que eu amo com os olhos marejados, a expressão tão perdida e triste quanto a minha, como se não pudéssemos fazer nada em relação a isso.
Mas eu podia, eu podia simplesmente abrir mão desse plano, matar Lucas de uma vez e declarar guerra a todos os reinos. Seria o fim de Eldarya, o fim do meu povo, seríamos massacrados, eu não aguentaria passar por isso e por pior que fosse a situação de agora, ela era necessária para evitar coisas piores no futuro.
- Isso está se tornando impossível para mim. - Respirei fundo e tentei controlar o choro. - Eu não quero fazer nada disso, Eza.
- Eu sei que não. - Ele apertou minhas mãos com mais força. - Eu só não vou saber lidar com tudo isso. - Ele suspirou. - Você se casando com outro homem, um homem que não sou eu.
- Eu queria que fosse você me esperando lá. - Ele deu um sorrisinho murcho. - Eu até usaria essa roupa horrorosa, se fosse para me casar com você.
- Usaria? - Soltou uma risadinha, eu assenti. - Eu te acharia linda, mesmo com esse vestido feio.
- Por favor, não me deixe entrar lá sozinha. - Algumas lágrimas desceram por meu rosto. - Você tem sido a minha força desde que chegou aqui, mesmo quando eu estive longe... era sempre você.
- Não chore, por favor. - Ele soltou minhas mãos e acariciou meu rosto, enxugando algumas lágrimas. - Eu faço o que você quiser, mas não chore assim na minha frente.
- Vai ser difícil, mas vai passar. - Disse para mim mesma. - Depois do casamento, as coisas vão acontecer mais rápido do que você imagina.
- Eu acredito em você. - Suspirou pesadamente. - Mas eu não sei se sou capaz de me controlar vendo aquele idiota beijar você.
- Uma única vez. - Respondi baixinho. - Eu te prometo isso, ele nunca mais vai encostar em mim de novo.
- Eu sei de tudo isso, meu amor. - Essas palavras aqueceram meu coração. - O problema é que eu ando querendo matar todos os que te fizeram mal a muito tempo e ele está tão perto, fazendo tantas coisas que me irritam.
- Eu sei. - Segurei seu rosto entre minhas mãos. - Eu conheço você.
- Eu demorei tanto tempo para poder te ter para mim. - Disse olhando em meus olhos. - E olha só tudo isso que estamos passando.
- Eu sinto muito. - O choro veio novamente. - Eu não queria nada disso.
- Vem cá. - Ele me puxou pela cintura, me fazendo sentar em seu colo, no chão. Apoiei uma perna de cada lado do seu corpo e o abracei com força, a impressão que eu tinha era de que ele podia ir embora a qualquer momento.
- Tudo que eu quero é ficar bem com você. - Ele deu um beijo em meu ombro. - Só com você.
- Eu acredito em tudo que você me diz. - O encarei. - E é por isso que ainda estou aqui.
- Ainda? - Meu estômago afundou de medo.
- Eu sempre vou estar. - Garantiu. - Eu posso caminhar por qualquer inferno, por você.
- Me desculpe por estar te fazendo passar por isso. - Ele assentiu. - Você é a melhor surpresa que já aconteceu em minha vida, eu não quero ter perder nunca.
- Você não vai. - Ele sorriu, mesmo fraco. - Eu te amo, Ember. Não sou capaz de deixar você.
- Eu também amo você. - Aproximei seu rosto do meu e lhe dei um selinho. - Eu juro que isso termina nos próximos dois dias.
- Eu prefiro estar em mil guerras, do que ver você com ele. - Ele devolveu o selinho. - Do que te ver com qualquer outro homem que não seja eu.
- Não quero estar com mais nenhum homem. - Neguei rapidamente e lhe arranquei um sorriso. - Eu demorei muito tempo até te encontrar, se eu te perder agora, não sei o que fazer.
- Eu mato todos eles antes de permitir que me afastem de você. - Eu assenti.
- Você foi esculpido pelos deuses, para mim. - Ele abriu um sorriso enorme. - E só para mim.
- Eu fico feliz com isso. - Ezarel me beijou, um beijo lento e longo, eu me perguntei como era possível estar tão feliz diante da situação que nos encontramos. Mas, toda vez que suas mãos encostavam em mim, que seus olhos me fitavam, que seu sorriso me iluminava, eu sentia que tudo ficaria bem.
Passamos um bom tempo na mesma posição, apenas respirando juntos e sentindo a presença um do outro. Eu poderia passar a vida inteira dentro desse abraço, era o único lugar no mundo que conseguia me trazer paz, me manter sã e me fazer feliz. Ezarel era meu lar e no momento em que percebi isso, entendi o motivo de não me sentir pertencente a nenhum lugar antes de o conhecer, por que era ele e somente ele.
Ele me bastava.
Dias depois, eu me encontrava parada em frente a penteadeira, enquanto Deidra tentava arrumar meu cabelo de alguma maneira. Nada estava bom para mim, nada ficava bonito, eu queria rasgar a garganta de todos que passavam em minha frente. O vestido era horrível, havia ficado horrível em mim, Lucas queria me ver vestida como uma católica, como alguém que meu povo não respeitaria, por quê eles amam os costumes vikings e a maioria deles, embora respeite, não é adepto ao cristianismo.
A sorte que tive na vida foi ter pedido por um casamento privado, eu sabia exatamente quem estaria lá e não estava me importando nem um pouco com a roupa feia ou o véu ridículo, eu cortaria a garganta dele e tingiria aquele vestido horrível com seu sangue. Seria um evento memorável.