- Então você quer revogar a lei que a sua irmã instituiu? - Deidra me olhou de boca aberta.
- Eu vou. - A corrigi. - Embora eu não concordasse com muitas coisas que foram instituídas, tentei respeitar sempre e olha só no que deu. - Revirei os olhos irritada. - Eles tentaram arrancar minha cabeça para colocar em uma estaca.
- Não estou te questionando. - Ela deu de ombros. - Só acho que você perdeu um pouco da sua sanidade.
- E quando foi que ela teve? - Octavia questionou. - Eu apoio totalmente, vamos tocar fogo nos miolos desses velhos!
- Para de jogar lenha na fogueira! - Deidra ralhou com ela. - Ela já é louca o suficiente sozinha.
- Mas ela está certa, Deidra! - Ela gesticulou bem brava. - Esses velhos desgraçados, temos que matar todos.
- Isso mesmo! - Concordei.
- Parece que eu sou a única que ainda mantém o juízo perfeito. - Deidra suspirou derrotada. - Tudo bem, vamos revogar a lei, mas isso vai causar o maior alvoroço.
- Eu quero mais é que aquele idiotas explodam. - Dei de ombros. - Quero o sangue deles nas minhas mãos.
- Não estou falando dos reis. - Olhei para ela confusa. - Estou falando de Ezarel, ele vai surtar e colocar esse castelo a baixo.
- Eu me resolvo com ele. - Fiz pouco caso. - Vai ficar calmo.
- Sei bem o jeito que você vai dar nele. - Octavia riu.
- O mesmo que você está dando no Sihtric? - Retruquei e ela ficou vermelha. - Quando iria me contar que está noiva?
- Ele não me pediu em casamento. - Resmungou.
- Ele pediu sim. - Deidra a interrompeu. - E ela disse não.
- Por quê? - Questionei Octavia.
- Cedo demais. - Deu de ombros. - Sihtric é romântico demais.
- E você é louca por ele. - Deidra brincou. - Deveria aceitar logo o pedido.
- Ele é corajoso. - Comentei admirada. - Como conseguiu conquistar você?
- Ele tem coragem? - Ela riu da minha cara. - E o Ezarel não?
- O que quer dizer? - Me sentei de frente para ela.
- Ember, ele te roubou do Nevra. - Era a primeira vez que alguém se referia assim.
- Ele não me roubou. - Me defendi. - Eu só percebi ter sentimentos por ele.
- Eu sou obrigada a discordar, minha amiga. - Octavia maneou a cabeça. - Ezarel sempre estava tentando, por isso Nevra nunca gostou dele
- Ele sim é o verdadeiro corajoso aqui. - Deidra riu. - Roubar o amor de um homem assim, é quase como assinar uma sentença de morte.
- Nevra está casado, tem uma família agora. - Cortei o assunto. - Ezarel não me roubou de ninguém.
- Não foi o que eu percebi quando vi a reação de Nevra ao descobrir que estão juntos. - Octavia disse como quem não queria nada e eu a olhei atentamente. - Ele ficou possesso.
- Pois não deveria. - Resmunguei. - Ele me deu como morta, se casou e parou de me procurar, mesmo que eu não estivesse completamente apaixonada por Ezarel, não ficaria com ele.
- Você acabou de admitir que está apaixonada por Ezarel? - Deidra sorriu da minha cara de susto.
- Foi sem querer. - Sorri sem graça.
- Essas coisas tendem a acontecer sem a gente querer mesmo. - Octavia riu.
- Tudo bem. - Balancei a cabeça, tentando afastar a conversa. - Vamos falar de outras coisas.
- Três dos nove reinos fizeram uma aliança. - Deidra disse. - Lucas é novo rei da tríade do Norte.
- Isso é sério? - Eu ri. - Aquele moleque?
- Ele tem a nossa idade, Ember. - Octavia riu também.
- Ele é um imprestável. - Dei de ombros, mas uma lâmpada se acendeu em minha mente desprovida de sanidade.
- É, mas está ganhando poder. - Deidra disse, parecendo preocupada. Eu entendia bem. - Ele já tem mais terras que você. - Continuou. - Se conseguir formar aliança com mais dois reinos, vai carregar a coroa mais pesada entre todos.
- É mesmo? - É uma pena que eu não iria permitir esse acontecimento épico.
- O que vamos fazer sobre isso? - Octavia questionou.
- Vamos derrubar todos os reis! - Eu disse animada.
- Vai nos contar o que pretende fazer? - Bem, parece que temos um problema.
- Eu ainda não sei. - Menti. - Mas vou saber em breve.
Depois de horas conversando e traçando planos, finalmente terminamos de colocar os pingos nos is, as meninas se despediram, indo para suas determinadas salas, elas tinham muito trabalho pela frente. Decidi falar com Ezarel depois, quando estivéssemos a sós, parte do meu plano não foi contado às minhas comandantes e tenho certeza de que elas vão me odiar pelo que pretendo fazer, mas, se Ezarel não entender o que eu pretendo fazer, talvez meu plano não valha tão a pena. Saí da minha sala com uma tremenda dor nas costas, mas, minha consciência pesava mais.
Bati três vezes na porta da sala dele e ela logo foi aberta. Ezarel me encarava com um sorriso cansado, suspirou pesadamente quando viu minha expressão tão acabada quanto a dele e me convidou para entrar. Meu estômago se revirava pelo que eu conversaria com ele, sei que corro o risco de perder tudo, no entanto, por mais que eu goste muito dele, meu reino ainda está em situação de ameaça e com Lucas ganhando um terreno que ele não vai saber administrar, corremos o risco de entrar em colapso.
Sei muito bem que se ele decidir atacar o meu reino, todos os outros reinos vão apoia-lo, menos o de Narceja. E mesmo que haja uma união de forças entre o pai de Ezarel e eu, ainda não teríamos força o suficiente para lidar com tantos ataques. Eu nunca os subestimei, mas, posso ter duvido de suas capacidades e paguei por isso, não pretendo errar novamente. Infelizmente, para proteger o meu reino e o meu povo, sempre preciso abrir mão de mim e de minhas vontades, meu coração, ao mesmo tempo que não se preocupa em se partir inteiro por Eldarya, sofre todas as vezes que preciso abrir mão de algo importante para mim. No entanto, uma rainha sem um povo é apenas uma mulher com um pedaço de metal sobre a cabeça, que não tem importância ou influência alguma e esse sempre foi o desejo deles para mim, que eu me reduzisse a nada. Mas isso não vai acontecer.
- Podemos conversar no meu quarto? - Embora parecesse um convite com segundas intenções, meus olhos entregaram minha preocupação e Ezarel franziu o cenho, desconfiado.
- Claro. - Ele limpou a garganta e suspirou. - Vamos?
Seguimos em silêncio pelos corredores e quem passasse por nós conseguiria perceber facilmente que alguma coisa de muito errada estava prestes a acontecer, minhas mãos suavam e meu peito doía, mais uma vez eu estava fazendo algo que jurei não fazer, algo que pode me custar coisas e pessoas muito importantes. Mais uma vez eu estava me sabotando, mas, no fim de tudo, talvez seja esse o futuro de uma rainha, abrir mão de si pelo seu reino, pelo seu povo.
Eu sou Ember, de Eldarya e ninguém tem o direito de se levantar contra mim. Ou você está com Eldarya, ou é inimigo de Eldarya. Escolha.
Eles escolheram.