Uma semana já se passou, Nevra foi liberado da enfermaria, mas não pode fazer esforço nenhum. Acomodei-o em um dos quartos do castelo, um próximo ao meu, que também dava vista para o mar. Tudo que ele pode fazer é andar pelo castelo e comer, como ele está melhor, vamos fazer o baile hoje a noite. Não podemos esperar muito tempo, por que podemos receber outra carta de guerra, então faremos logo. Uma festa leve e sem muitas bebidas alcoólicas, apenas para tornar oficial a nova guarda sob o comando de Ezarel.
Como Deidra bem disse, Nevra não aceitou que o baile também fosse em homenagem a ele, disse não ver nenhuma honra em voltar dos mortos, visto que deixou-se atingir. Temos conversado muito ultimamente, sobre todas as coisas, estamos muito próximos de uma maneira geral, mas nada além de conversas amigáveis. Eu tenho cuidado dos curativos dele e de impedir que faça coisas que não pode, ele tem se irritado bastante comigo por isso.
- Só falta você querer me impedir de descer as escadas, Ember. - Nevra cruzou os braços e parou em minha frente. Eu estou impedindo a passagem de seu quarto, por que ele quer ir caminhar na praia, mas não pode fazer esforços nos músculos do peito.
- Você não pode fazer esforços, Nevra. Deixe de ser teimoso.
- Eu pareço um refém dentro desse castelo.
- Eu não te tranco nas masmorras por que seu corte ainda não cicatrizou. Se considere com sorte. - O olhei de cara feia e ele bufou.
- Que chato.
- Acredite quando digo que não me da o maior prazer do mundo ficar de babá de uma mula. - Bufei.
- Bem, eu sei como te dar prazer. - Ele colocou o sorrisinho cafajeste no canto da boca e deu um passo em minha direção.
- Pode parando. - Estiquei minha mão para frente. - Nenhum esforço. - Sorri para ele e me virei para sair. - O almoço já vai ser servido.
Saí andando em sua frente e rindo sem que ele notasse, a verdade é que Nevra conquista meu coração cada dia mais, até suas teimosias o tornam atraente.
- Você devia estar me ajudando a andar, sabe que não posso fazer esforço. - Ele disse atrás de mim.
- Está falando sério? - Olhei incrédula pra ele. - Você queria ir andar na praia.
- Ai meu peito. - Ele pôs a mão em cima do corte. - Meu peito doí. - Fez uma careta e se encostou na parede e foi se abaixando.
- Nevra. - Corri em direção a ele. - Você tá bem? - Me agachei perto dele.
- Eu...- Ele abriu os olhos e sorriu. - Estou ótimo.
- Você me enganou.
- Só queria testar seu amor por mim.
- Pois então pode andar sozinho agora e não ouse falar comigo. - Me levantei brava e sai pisando firme no chão.
- Ember. - Ele veio atrás de mim, mas eu o ignorei. - Ember, vamos lá, fale comigo.
- Me deixe em paz Nevra. - Entrei no salão principal e Octavia já estava lá.
- O que houve? - Ela olhou desconfiada para nós dois.
- Nevra está sendo uma mula, como sempre.
- Ah, sim. - Ela riu e se sentou.
- Ora, me desculpe. - Ele me encarou com os olhos de cachorrinho perdido.
- Não quero saber de você. - Ele me olhou e sorriu.
- Ficou preocupadinha. - Soltou uma risada.
- Você tem sorte de já ter o coração apunhalado, se não eu mesma faria isso. - Pus comida em meu prato.
- Meu coração já estava partido antes de ser apunhalado, é verdade que te devo minha vida.
- Boa! - Octavia riu.
- Ah, me deixem em paz. - Dei um gole em meu suco e os dois se calaram.
Aos poucos as outras pessoas foram chegando e o almoço correu como sempre, apenas Ezarel não esteve presente, anda ocupado na organização de sua guarda. Após o almoço, Nevra voltou para seu quarto e eu fui coordenar a organização do baile.
- Isso está ficando bem bonito. - Ele apareceu atrás de mim.
- Ezarel! - Sorri ao vê-lo. - A que devo a honra se sua presença?
- Sentiu minha falta no almoço? - Ele se inclinou um pouco pra frente e sorriu.
- Todos sentimos, espero que nos dê a honra de sua presença no baile.
- Você sabe que sim. - Ele sorriu e piscou. - Só ando muito empolgado com tudo sobre minha guarda, acho que nunca te agradecerei o bastante.
- Suas ideias e criações tem atribuído grande vantagem a meu reino, quando se trata de batalhas. Não estamos em divida. - Sorri para ele e alisei seu ombro.
- Hoje é o dia mais feliz da minha vida, pois finalmente achei a minha missão, meu espírito agora está em paz. - Ele suspirou e continuou sorrindo para mim.
- Você tem sido um grande amigo Ezarel, espero que essa guarda não nos afaste.
- Não irá, você tem minha palavra. - Ele segurou minha mão e a beijou. Nesse momento, Nevra passou nos encarando e eu suspirei. - Ele está com ciúmes. - Ezarel sorriu e só então me dei conta de que estava acompanhando Nevra com o olhar.
- Não vejo motivos. - Tentei manter a compostura e não demonstrar o quanto me sinto feliz quando vejo alguma demonstração de interesse vinda dele.
- Se sente ameaçado na disputa pelo seu coração, me vê como um concorrente. - Ele me olhava com dúvida? Talvez. A fala de Ezarel parecia dizer muito mais do que de fato ele disse.
- Os dois fazem partes de minhas guardas, apenas isso. - Mantive minha expressão neutra.
- Parece que sim, por agora. - Ezarel me lançou um olhar risonho e se despediu com um beijo na bochecha. Mas o que diabos está acontecendo?
Não posso negar que o príncipe, agora comandante, Ezarel, é atraente em todos os pontos. Seus lindos olhos azuis chamam atenção, não mais que seu olhar, ele agora usa os típicos cabelos vikings, com seus cabelos castanhos batendo nos ombros, faz tranças que lhe atribuem um charme masculino que poucos homens são capazes de ter usando tais penteados.
Desde que se mudou para Eldarya, ele vem se aperfeiçoando em combate com a espada, está cada dia melhor e com o arco já se sabe que ele é tão bom quanto se pode ser. Ezarel está mais forte, musculoso e usando roupas menos principescas, quero dizer, menos cetim e muito mais couro preto. Anda pelos lugares arrancando suspiros de todas as mulheres, mas nunca o vi com nenhuma, porém, sua postura mais máscula e forte, tem atraído cada vez mais olhares, seus passos agora são mais decididos, como se não houvesse mais medo em seu ser, muito diferente do príncipe que dançou comigo no baile de verão, mas suas ideias continuam as mesmas, o que o torna ainda mais atraente.
Um homem a frente de seu tempo, quase tão inteligente quanto meu pai, Ivar, as vezes chego a desconfiar que seja algum herdeiro que se perdeu. O fato é que, Ezarel tem se tornado um dos homens mais importantes de meu reino, e não por causa do seu título de príncipe, ele deixou de usá-lo assim que entrou para a guarda, e sim por que é confiável, extremamente leal e inteligente. Ezarel de Narceja essa noite se tornará Ezarel de Eldarya. Sendo consagrado como um comandante de guarda de Eldarya, seus laços com Narceja serão cortados definitivamente e ele perderá o título de príncipe lá também. A partir da noite de hoje, Ezarel se tornará comandante de guarda em sangue e alma, seu corpo e sua mente pertencerão a Eldarya. Sua lealdade e seu nome serão as coisas mais importantes que ele vai ter. E, é claro, sua palavra.