Cansada, passei a noite inteira rolando na cama. Ezarel me pediu para que eu explicasse meu plano novamente, na verdade, ele é a única pessoa que realmente sabe de tudo que vou fazer. Essa foi a condição que ele me impôs para poder confiar em mim, não posso dizer que me senti ofendida, ele tinha total razão em estar magoado, desconfiado e triste comigo, por isso, lhe contei tudo, cada detalhe que passeava por minha mente. Ele ouviu tudo em silêncio e continuou assim por mais um minuto depois que terminei de falar, pude ver o brilho em seu olhar aumentando a medida em que entendia tudo, mas foi quando ele sorriu que meu coração voltou a bater.
Me senti bem em contar tudo para ele e gostaria de poder fazer o mesmo com minhas comandantes, mas sabia que uma pessoa tendo consciência do meu plano já era me arriscar demais. Gostaria de dizer que não tive escolha, que Ezarel me ameaçou para que eu contasse tudo, mas isso não aconteceu. Ele só precisou me olhar com seus lindos olhos azuis, estavam tristes e opacos, meu coração se partiu e eu não aguentei, contei tudo com mínimos detalhes, não podia perdê-lo. Quando ele me abraçou e selou nossos lábios, meu espírito teve um momento de paz.
Mesmo assim, não consegui dormir. Tantas coisas passavam por minha cabeça, tantas possibilidades para que tudo desse errado, falhar não era uma alternativa, se eu cometesse um erro, seria o último, para mim e para meu reino. A mesa do café da manhã estava vazia, minhas comandantes estavam ocupadas coordenando suas guardas para a chegada de Lucas, ele viria sozinho, seu pai não se deu ao trabalho de lhe acompanhar, o que indica que acham que estou fraca e que realmente estou me rendendo. Tolos, mesmo com todas as demonstrações do meu poder e da minha capacidade de acabar com todos, eles ainda insistem em me subestimar.
Ezarel não saia de sua sala para nada, estava treinando um novo esquadrão e passava boa parte do tempo com seus novos alunos. Além disso, ele anunciou que faria uma viagem ao reino de seu pai, para fazer uma visita e, tenho certeza, para estar longe de mim quando o casamento acontecesse. Conhecendo Lucas como eu conheço, no final de semana já estaríamos casados, ele não tinha interesse nas terras ou no poder, isso era coisa de seu pai, o interesse dele era em mim. Mas, como uma boa marionete, coloca as vontades do pai em primeiro lugar. Obviamente, eu nunca me casaria com ele sob circunstâncias normais, mesmo que ele não fosse controlado pelo pai e tivesse sentimentos verdadeiros por mim, Lucas nunca deixaria de ser um bastardo egocêntrico, ou deixará, em breve.
No almoço, minhas comandantes se juntaram a mim, pude ver as perguntas pairando sobre seus olhos e decidi falar antes que perguntassem.
- Ezarel foi para Narceja. - Elas continuaram em silêncio. - Acho que ele não quer estar aqui quando o casamento acontecer.
- Você precisa admitir que isso é perfeitamente compreensível. - Deidra o defendeu e eu assenti.
- Quando ele volta? - Octavia perguntou.
- Acredito que depois do casamento. - Suspirei.
- Então será em breve. - Ela disse, séria. - Lucas não vai querer deixar brechas para que você volte atrás em sua palavra.
- Eu jamais volto atrás em uma decisão. - Ela assentiu.
- Tenho certeza de que você tem um plano muito bom em sua mente. - Deidra disse. - E realmente espero que isso dê certo, Ember. - Ela suspirou. - Por quê tenho a impressão de que você está apostando tudo nisso.
Ela nem imagina o quanto.
- Nevra não acreditou quando ouviu os rumores do seu casamento. - Octavia mudou o rumo da conversa. - Ele teve um leve surto de negacionismo, o que foi ruim, pois a esposa dele estava lá.
- Ele não tem nada haver com isso. - Deidra disse, já irritada.
- Mas ele gostaria de ter. - Octavia deu de ombros, não se importando com o mal humor de nossa amiga.
- O reino inteiro já comenta sobre isso. - Deidra disse. - Alguns feliz, outros tristes, a maioria confusos.
- Isso vai passar logo. - Garanti para ela e para mim mesma. - Tenha certeza de que não estou disposta a abrir mão da minha felicidade de novo.
- Nós contamos com isso. - Octavia sorriu. - Não acho que Ezarel vá suportar continuar aqui no reino se esse seu casamento com Lucas for real.
- Tenho certeza de que ele voltaria para Narceja. - Deidra concordou. - E voltaria a se príncipe, o que, para ele, é a pior coisa.
- Ele não vai precisar fazer isso. - Declarei, pensando em como seria insuportável para mim saber que ele foi embora por minha culpa. - Tudo isso vai se resolver mais rápido do que vocês imaginam.
- Levando em conta que suas melhores ideias sempre acabam em uma guerra, eu vou me preparar. - Octavia se levantou. - Não que eu duvide da sua capacidade de resolver as coisas em paz, mas eu espero muito que isso tudo acabe em uma batalha.
- Você não tem jeito. - Deidra sorriu e se levantou também. - Mas eu concordo com ela, então vou fazer o mesmo.
- Obrigada por confiarem em mim. - Me mantive sentada.
- É a única escolha que temos, não é? - Octavia riu. - Sabemos que, se você quiser, consegue derrubar todos eles sozinha.
- No entanto, contamos que nos inclua na diversão. - Deidra completou.
Elas voltaram para suas guardas e eu fiquei sentada, mexendo a comida de um lado para outro no prato, não tendo o mínimo apetite. Era preocupante, por que a comida do meu castelo é muito boa e eu sempre como muito, mas toda a situação com Ezarel está me perturbando demais. Nada que envolva os reis ou Lucas me afeta, eu posso cortar a cabeça de cada um deles sem nenhum remorso, mas, Ezarel me afeta de todos os jeitos. Ontem a noite eu me senti melhor depois de conversar com ele, mas agora ele está longe de mim e me sinto perdida. Não havia percebido o quanto a presença dele era importante para mim, o quanto me sentia segura com ele aqui, mas, o fato é que, ele é importante demais e eu não o quero longe.
As portas do grande salão se abriram em um rompante de barulho, Nevra Blackwood entrou como um furacão e sem me dizer absolutamente nada, agarrou minha cintura e me jogou por cima do ombro como um saco de batatas. Passei segundos sem entender absolutamente nada e não fui capaz de esboçar uma reação. Ele empurrou as portas da cozinha e passou por ela me carregando, as cozinheiras olharam assustadas, mas não ousaram dizer nada.
- Que diabos você está fazendo, Nevra?! - Ralhei quando finalmente recuperei meu poder de reação. - Me coloque no chão, agora!
Ele me ignorou completamente e continuou andando em direção ao jardim do castelo.