Lucas, com toda sua pompa e ego, pediu para que desocupassem o quarto ao lado do meu, não perguntou a quem pertencia ou se poderia fazer isso, ele já estava agindo como se fosse dono do castelo. Mordi minha própria língua quando o vi agindo de tal maneira, dando ordens aos meus guardas e quase me atirei da janela só para não ver aquilo. Ezarel ficaria possesso quando voltasse e descobrisse que Lucas agora ocupava o seu quarto.
- Isso não vai dar certo. - Nevra apareceu ao meu lado. Os braços cruzados enquanto observava seus guardas carregarem os móveis. - Ezarel vai degolar ele.
- É meia noite e ele está fazendo os meus guardas carregarem móveis. - Resmunguei, não contendo minha irritação.
- Bem, ele será o rei desse castelo em breve. - Ele disse em um tom brincalhão. - Nunca imaginei que fosse dizer isso um dia.
- Dizer o quê? - Me virei para ele, me dei conta de que estava perto demais.
- Que esse castelo teria um rei. - Suspirei infeliz, tendo que conter minha vontade de explicar meus verdadeiros planos.
- Sacrifícios que eu faço pelos que amo. - Respondi calmamente e Nevra continuou me olhando. Eu gostava dos seus olhos e confesso que senti falta de sua presença também, Nevra era, além de um amante, um grande amigo. Ele, Deidra e Octavia formavam meu trio de confiança e isso não mudou.
- Espero que mantenham alguns guardas a mais por aqui. - Ele riu. - Por quê os guardas do príncipe não conseguirão o segurar quando ele descobrir isso. - Ele voltou a olhar para o quarto, agora ocupado pelas coisas de Lucas.
- Só preciso falar com ele. - Tentei me convencer disso.
- Claro. - Ele limpou a garganta e assentiu. - Eu já vou, só vim ver se estava tudo bem por aqui.
- Obrigada, Nevra. - Sorri levemente.
- Amanhã estarei de volta. - Ele me encarou e ambos entendemos que aquilo era um sinal de paz, que ele voltaria a conviver no castelo.
- Espero que sim. - Meu sorriso aumentou e o dele também.
Nevra saiu, acompanhado dos guardas que já haviam terminado suas tarefas. Lucas sorria satisfeito, observando o cômodo agora cheio de tapeçarias e móveis caros. Ele parecia estar à vontade demais para alguém que havia acabado de chegar, mas eu precisava que ele se sentisse assim.
- Confesso que achei um pouco desnecessário arrumar um quarto para mim. - Ele disse, se aproximando de mim com interesse no olhar. - Mas entendo que devemos seguir as tradições do casamento.
- Tudo que eu faço gera consequências. - Eu disse calmamente. - Dessa vez preciso seguir as regras.
- Eu compreendo. - Ele assentiu. Se meu noivo soubesse que o subcomandante que havia acabado de ir embora já esteve em baixo dos meus lençóis, entraria em colapso. - Bem, vou me deitar, terei um dia cheio amanhã. - O encarei um pouco confusa. - Seu sub comandante, Nevra Blackwood, se ofereceu para me apresentar ao reino e me explicar como as coisas funcionam por aqui.
- Ah sim. - Me esforcei para esboçar um sorriso. - Nevra é muito gentil.
- Ele me parece um bom homem. - Lucas sorriu animado.
Eu entendo que ele esteja contente por achar que conseguiu me dobrar, mas não é possível que esse homem possa ter esquecido tudo que aconteceu antes de chegarmos até aqui. Todas as batalhas, meu sequestro, meu sumiço. Em tudo isso, Nevra sempre esteve na linha de frente, me defendendo e me salvando, matando qualquer um que se colocava em meu caminho. Como ele podia confiar assim?
Somente o ego enorme poderia deixar um homem tão burro, ele estava dentro de uma armadilha e se sentia completamente à vontade com isso. Como um sapo dentro de um caldeirão fervente, se ajustando à temperatura da água até morrer cozido. Eu sempre soube que, com excessão de Ezarel, todos os outros príncipes era desprovidos de inteligência, todos eles foram ensinados a mandar nas pessoas, tomar territórios e tratar suas esposas como troféus. Mas, Lucas estava passando dos limites da burrice, chegava a ser cômico o quanto ele simplesmente acreditava que estava tudo bem e que eu, depois de tudo que passei, simplesmente me reduziria a ser sua esposa.
O dia amanheceu barulhento, do lado de fora do meu quarto uma gritaria me assustou. Levantei, ainda vestida com minha camisola de cetim e abri a porta apressada, meu arco e flecha pronto para arrancar o olho de alguém. Mas, a cena com a qual me deparei foi, de certa forma, muito cômica, para mim e para os meus comandantes. Ezarel segurava Lucas pela gola de seu pijama, o príncipe tinha os olhos arregalados de medo e segurava os pulsos do meu comandante. Os guardas pessoais dele não conseguiam fazer com que Ezarel o soltasse, pareciam não possuir força alguma diante dele.
- O que você estava fazendo no meu quarto? - Ele perguntou entredentes, mas Lucas não teve tempo de responder, pois a atenção de ambos pairou sobre mim.
- Minha rainha! - Lucas sorriu, desesperado. - Acho que tivemos alguns problemas de comunicação.
- Ember. - Ezarel engoliu em seco e me mediu de cima a baixo. Um sorrisinho pairou sobre seus lábios, talvez a visão de mim com um arco e flecha apontado para os dois tenha despertado algo nele. - Oi. - A cena se tornou mais engraçada, por quê agora Ezarel sorria para mim, completamente esquecido de que ainda estava segurando Lucas pela gola da camisa.
- O que está acontecendo aqui? - Perguntei, colocando o arco de volta nas costas.
- Esse brutamontes entrou em meus aposentos e me arrancou da minha cama. - Lucas disse, indignado. Ezarel o encarou raivoso e o largou.
- Pode me explicar o que está acontecendo? - Ezarel piscou algumas vezes e me olhou novamente.
- Comandante! - Nevra apareceu. As maçãs do rosto vermelhas, ele havia subido as escadas correndo e agora tentava esboçar um sorriso, embora parecesse desesperado. - Perdão pelo engano, eu deveria ter lhe avisado da nossa visita.
- O quê? - Ezarel alternou o olhar entre nós, confuso.
- Seus aposentos agora são no outro lado do castelo. - Nevra parecia mais do que satisfeito em dizer isso, mas ainda tentava evitar que Ezarel quebrasse o nariz de Lucas.
- Como é? - Ele deu um passo a frente, em direção a Nevra, mas parou quando Lucas falou.
- É isso mesmo que você ouviu. - Disse convencido. - Embora meu quarto logo vá ser o mesmo que o da rainha, por enquanto, dormirei aqui. - Levantou o queixo e sorriu. - No quarto ao lado do dela.
- Comandante Ezarel. - Sorri amarelo e arregalei os olhos, tentando lhe fazer lembrar dos meus planos. - Lucas é meu noivo agora.
- Claro. - Ele caiu na real e sorriu a contragosto. - Minha rainha.
- Minha rainha. - Lucas retrucou e Ezarel deu um passo na direção dele, fazendo com que o homem se escondesse atrás de um de seus guardas.
- Você tem muito trabalho a fazer. - Nevra o puxou pelo ombro. Acho que é a primeira vez que se falam depois de tudo. - Esse dia que passou fora, sua guarda precisa de ordem.
- Sim. - Ele engoliu em seco e deixou Lucas de lado. Ezarel caminhou na direção de Nevra, olhando diretamente para mim, que não tive reação nenhuma. Ele me olhou de cima a baixo quando passou ao meu lado e esboçou um sorrisinho. - Se for para o campo de batalha assim, serão as vitórias mais fáceis de nossas vidas. - Sussurrou e seguiu sorrindo.