Capítulo 22

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Millah



Hannah está deitada ao meu lado do sofá, enquanto assistimos algum filme de romance idiota, não presto muito atenção, não preciso de um filme de romance para me sentir como uma boba apaixonada, Jake causa esse efeito naturalmente. Hannah também não parece muito interessada, ela insiste em me fazer perguntas sobre meu “amigo”, que ainda não tive coragem de contar que é o Jake. Por mais irritante que seja, é normal ela estar curiosa, passei muito do meu tempo com o Jake, e com certeza, Hannah percebeu.


- É sério? – Hannah continua.


- Não. – Respondo olhando para a TV, fingindo estar interessada no que estava passando.


- Tipo casual?


- Sim. – Mantenho minha atenção na TV. Incapaz de olha-la, tenho medo dela perceber que de certa forma estou escondendo algumas coisas.


- Casual, mas passa tanto tempo com ele... Definitivamente diferente do casual que costuma ter antes do Thomas. – Seu tom de voz é sugestivo. Pela primeira vez olho para ela com indignação.


- Não passo tanto tempo assim. É muito exagero da sua parte.


- Você sai antes de escurecer e só volta quando já está amanhecendo. Quando não fica o dia todo fora. Não achei que seria possível fazer tanta coisa casual, em tanto tempo. – Ela repete propositadamente o “casual”, claramente tentando me irritar, mas só acho engraçado. Ela não tinha ideia do quão era possível. Meu telefone vibra repetidas vezes, é o suficiente para me deixar muito curiosa.


Phil: Millah, preciso da sua ajuda

Phil: Por favor me encontre aqui na casa do Jake

Phil: É urgente, Millah!

Phil: Estou falando muito sério



Sinto meu coração bater descontroladamente, estou assustada pra caralho, Phil foi bastante incisivo. Só consigo pensar em tudo que pode ter dado errado.



Millah: Estou indo.



Levanto em um pulo, Hannah me olha sem entender.



- Preciso fazer uma coisa, não se preocupe. Vou pegar seu carro emprestado. – Não espero confirmação, apenas pego a chave e saio correndo porta afora.



Entro no carro, e só agora me dou conta de que estou tremendo pra caralho. Eu preciso me acalmar, ou nada de bom vai sair disso. Continuo  repetindo isso até forçar meu cérebro a acreditar. Realmente funciona, porque agora pelo menos consigo dirigir. Parto em direção ao apartamento do Jake.


A sua casa nunca pareceu longe, mas nesse momento sinto como se fosse em outra cidade. Não entendo o que está acontecendo. Não entendo porque justamente o Phil entrou em contato e não o Jake. Também não consigo entender porque entre todos os lugares do mundo Phil pediu para ir até o apartamento do Jake. Está claro que isso envolve o Jake, e ele não ter falado nada está acabando comigo. Porque entre todas as pessoas do mundo, ele é quem mais me preocupa. Principalmente quando lembro que a família da Amy jurou matar ele. Tento não pensar nas infinitas possibilidades do que poderia ter dado errado, pelo menos até falar com o Phil.


Minutos que pareciam uma eternidade, finalmente acabam quando paro em frente ao prédio onde Jake mora. Me apresso para entrar e logo Phil abre a porta para mim.


- O que aconteceu, Phil? Onde está o Jake? – Disparo contra ele, antes que possa pensar em falar qualquer coisa.


- Eu não sei, Millah. Tudo que recebi dele foi uma mensagem. – Phil tira o telefone do bolso e mostra o visor para mim.


“Estou com problemas. Vá até o Dan e apague a pasta com o nome BNZ no meu computador. Só envolvam a Millah em último caso.”


- O que caralho significa “BNZ”?


- Não temos certeza.


Eu ainda estou confusa, mas antes que possa expressar isso, Phil me puxa e me leva em um dos cômodos, o único onde nunca tinha entrado, Jake mantinha trancado, imaginei que não quisesse que eu visse o que tinha dentro, por isso nunca insisti. Minhas sobrancelhas se franzem mostrando o quão sem entender estou agora, a sala tem pelo menos três monitores, teclado, uma série de fios, e muito coisa que não tenho a menor ideia do que é. Dan está sentado em frente ao computador falando alguma coisa freneticamente, tanta coisa está acontecendo que não consigo focar no que Dan está dizendo. Só percebo que ele está falando comigo, quando vira em minha direção, e questiona:


- Entendeu, Millah? – Nego com a cabeça porque não fui capaz de escutar uma única palavra. Dan levanta seu olhar para cima do meu ombro, provavelmente para Phil, porque logo em seguida sinto sua mão no meu ombro, me fazendo olha-lo.


- Millah, eu sei que é muita informação, mas precisamos de você. O Jake precisa de você. – Phil prossegue - Ele vai ficar bem, mas para isso precisamos da sua ajuda. Tudo bem? – Eu concordo com a cabeça, sem ter certeza se é mesmo verdade.


- Ótimo, Jake me pediu para apagar uma de suas pastas em seu computador, mas preciso de uma senha, Phil e eu não conseguimos. Tentamos de tudo. Achamos que você deve saber.  – Dan fala sem tirar os olhos do monitor.


- Eu realmente não sei, ele nunca disse nada sobre isso!


- Acharia estranho se tivesse, mas Jake foi bem claro quando disse que você saberia nos ajudar, pense um pouco Millah. – Dan olha para mim, com algo parecido com esperança - Uma senha com quatro números. Presumimos ser uma data.


- Eu-Eu não sei! Não consigo pensar em nada. – É muita pressão. Principalmente sabendo que foi um pedido do Jake.


- Talvez alguma coisa envolvendo você? – Phil diz. Eu penso um pouco.


- Ok, tente 07/02. – Nosso primeiro beijo. Dan digita o que falei.


- Não. Tente outra vez, Millah.


- Tente 18/02. – Nossa primeira vez. Dan novamente digita no mesmo computador.


- Outra data, Millah. – Eu estava ficando sem opções...


- 26/01 – Foi quando conversamos de verdade pela primeira vez. Dan faz o mesmo.


- Não. Continue, Millah. – Tento por mais 5 vezes, buscando lembrar de qualquer momento marcante o suficiente para se tornar sua senha, mas nenhuma deu certo.


- Sinto muito meninos. Não consigo me lembrar de mais nada. – Digo com decepção. Ficamos em silêncio por um tempo, até Phil decidir acabar com ele.


- Coloque 16/01. – Dan obedece.


- É isso! – Dan comemora. Solto um suspiro que nem sabia que estava prendendo, estou tão aliviada. - Porra, o que significa? – Dan pergunta mas agora passou a digitar freneticamente, provavelmente fazendo o que Jake pediu na mensagem. Olho para Phil esperando ele responder. Ele parece envergonhado, quando olha para o chão. Mesmo que com uma voz baixa e hesitante ele fala:


- É o aniversário da morte da Amy. – É doloroso de se ouvir, talvez porque eu tinha criado uma expectativa voltada unicamente para isso, mais uma vez Jake arrumando uma forma de lembrar que isso não passa de puramente casual. Deveria ser algo tão simples, apenas a merda de uma senha, mas no fundo eu sei que isso poderia provar que ele se importa, que o que me disse de não se envolver poderia estar mudando.  Não dê mais significado do que uma coisa realmente tem. É o que deveria estar seguindo, mas foi tão gradual que nem mesmo fui capaz de perceber e parar. Eu estava apaixonada pelo Jake, e naquela noite, quando Dan terminou de apagar seja lá o que tinha naquela pasta, não consegui ir embora, porque me importava tanto com ele que era sufocante. Ficamos nós três lá em pleno silêncio, minha mente estava uma bagunça, muitas perguntas sem respostas, mas se algo ficou claro era que estava na hora de colocar um ponto final nisso. Antes que tudo possa sair do controle. Do meu controle.



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