Capítulo 32

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Jake



Estou no meu apartamento, com Amy sentada ao meu lado, é tão estranho que nem consigo dizer uma frase naturalmente. Eu sei porque estamos aqui, mas é tão difícil começar essa merda.


- Eu sei que é algo fora do comum, Jake. Leve o tempo que precisar. – Ela diz tentando ser compreensiva, mas só parece... Estranho. Penso muito antes de fazer a tão famigerada pergunta, preciso acabar logo com isso.


- Como decidiu que deveria se fingir de morta?


- Não seja tão categórico. Não vejo como se tivesse fingido de morta... – Amy não terminou de falar, mesmo assim interrompo ela.


- Bem, eu não sou nenhum gênio, mas fui no seu funeral 5 anos atrás, e mesmo assim você parece estar bem viva na minha frente. – Ela suspira.


- Jake eu preciso que me deixe falar, porque se não vai me odiar muito. Eu definitivamente não quero isso. – Eu concordo, e Amy retorna a sua história. – Depois que você terminou comigo perto daquele rio, eu fiquei muito mal e fui falar com o Phil, ele também estava puto, e me disse coisas realmente desagradáveis – E com total razão. Penso comigo mesmo, tinha decidido não interrompe-la. – Eu fiquei assustada e contei tudo para meu irmão e meu primo. Phil estava tão irritado, que começamos a temer que ele pudesse falar no que minha família estava envolvida, se soubessem não haveria segunda chance para nenhum de nós, ficamos todos muito desesperados. Então me irmão teve uma ideia, que se eu morresse, e de alguma forma vocês dois se culpassem, não contariam nada.


- E você simplesmente aceitou... – Digo baixinho. Mesmo que estivesse determinado em não interrompe-la.


- A princípio eu não gostei, parecia loucura demais, e não queria fazer isso com você. Eu disse isso para eles, e foi aí que tudo saiu do controle, eles ficaram tão bravos, começaram a dizer como eu estava sendo egoísta, e como não merecia fazer parte da família, eu não sei o que aconteceu comigo, mas a ideia de decepciona-los, me deixou desolada, eu não poderia suportar que mais alguém da minha família me afastasse, principalmente toda a minha família. Os dois fizeram tudo, encontrarem minhas coisas no lago, você ler aquele diário falso... – Ela diz chorando genuinamente. Me lembro bem da época em que estávamos juntos, ela sentia a necessidade de fazer tudo o que sua família queria, sempre me irritei com isso, até que entendi que tudo estava ligado ao pai dela. Amy nunca falou muito, mas seu pai era um viciado, que a abandonou quando só tinha 6 anos de idade, seu irmão que não era muito mais velho que ela, foi quem a criou, acho que foi o suficiente para faze-la sentir a necessidade de nunca o desaponta-lo, e de verdade acredito que esse seja o motivo para ter aceitado fazer essa loucura. – Eles me arrumaram uma viagem apenas de ida para a Itália, o combinado tinha sido manter essa mentira por apenas 3 meses, mas com o passar do tempo só tornou mais difícil para voltar, eles só desconversavam quando perguntava quando poderiam voltar, até que simplesmente cortaram total contato comigo, fiquei perdida, não sabia o que fazer, tentei voltar várias vezes para dizer que estava viva, mas nunca tive coragem, fiquei com medo que pudessem não acreditar em mim. Quase da mesma forma que Phil está fazendo, fico feliz por você pelo menos estar disposto a me ouvir. – Amy diz com um sorriso fraco.


Eu realmente acredito nela, porque a conheço bem demais, e sei muito bem que tudo faz sentido, mas o que Phil disse ainda não saiu da minha mente, por que Amy decidiu voltar agora?


- Você disse que tentou voltar algumas vezes, mas nunca teve coragem, por que voltou depois de 5 anos?


- Isso era justamente o que queria falar com você, descobri que meu irmão e primo tinham sido preso, e uma semana atrás foram soltos. – Eu congelo. Espero ela terminar, temendo muito pelo Phil. – Finalmente eles entram em contato comigo, e disseram o que tinha acontecido, alguém armou para serem presos, e estão convencidos de que foi você e o Phil. Pediram minha ajuda para descobrir se tinha sido mesmo vocês, mas prontamente recusei. – Ela faz uma pausa. – Eu não aceitei, mas tenho certeza que não desistiriam tão facilmente assim. Voltei porque me sinto culpada por tudo que fiz você e o Phil passar nos últimos anos, senti a necessidade de avisar que provavelmente eles estão mandando reforços para descobrir isso... Por isso não queria falar sobre isso na frente da amiga de vocês.


- A Millah? Não precisa se preocupar com ela.


- Confia nela?


- Confio com a minha vida. – Respondo se hesitar.


- Isso não é pouca coisa. – Ela diz com um sorriso. – Ah! – Amy exclama, como se tivesse acabado de lembrar de algo. – Vi ela mais cedo.


- O que?! – Eu praticamente grito de surpresa. Amy me olha sem entender. Sinceramente nem sei porque estou tão surpreso, talvez por Amy não ter falado isso antes.


- É, eu estava em uma cafeteria no centro da cidade, e a vi.


- Millah estava sozinha? – Nem sei porque estou tão interessado. Provavelmente porque isso é o que Millah tinha ido fazer quando saiu mais cedo, sem dizer absolutamente nada para mim. O que me intrigava pra caralho.


- Não, estava conversando com um cara loiro... Parecia bem intenso e íntimo, por isso não tentei falar com ela nem nada do tipo. – As palavras “intenso e íntimo” rodam repetidamente minha cabeça, e a sensação não é nada agradável.


- O que isso significa? Por que acha que era “intenso e íntimo”? – Eu tenho noção que o que estou fazendo é muito estranho, enchendo minha ex namorada de perguntas sobre a garota que atualmente estou apaixonado, mas me apego a esperança de que Amy ainda não tenha percebido que Millah e eu estávamos juntos.


- Eu não sei... Tive a impressão que eles já se conheciam há anos, o jeito que eles estavam conversando, parecia mais como se o cara estivesse consolando ela, e também, a forma que os dois se abraçaram, foi muito diferente. Eu definitivamente não conheço ela, mas se tivesse que chutar, diria que se eles não estão envolvidos romanticamente, eles já estiveram. Tinha química demais. – Ok, é o suficiente para estar surtando, porque dentre todas as pessoas a única que realmente se encaixa no perfil é o Richy, e juro que não consigo pensar em uma única razão para Millah ter ido vê-lo. Odeio a raiva dentro de mim ameaçando ceder, por conta de tudo que Amy disse. Isso está me incomodando, tanto que nem consigo pensar no que estávamos falando antes de Amy contar que viu Millah. – Jake? Você está bem?


- Estou. Na verdade, a gente pode terminar essa conversa depois? – Eu quero ir falar com Millah, e Amy aqui não está ajudando. Preciso que ela vá embora.


- Podemos, é claro! Mas você está mesmo bem? Parece estranho. – Eu levanto andando apressadamente até a porta. Tentando fazer com que Amy me acompanhe.


- Com certeza! Por que não estaria? – Digo com um sorriso tão falso que quase parece assustador. – Só preciso pensar melhor na história que me contou sobre os últimos anos. – Abro a porta. Amy passa por ela, ainda muito confusa.


- Tá bem então... Até depois?


- Eu entro em contato. – No momento que Amy virá de costas para ir embora, eu fecho a porta. Conto 5 minutos, para ter certeza de que não vou me encontrar com ela lá em baixo. Pego a chave do meu carro e vou para a casa de Millah, sentindo uma sensação ruim por todo meu corpo.








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