Capítulo 3

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Jake

Entro no bar com a minha cabeça latejando. Odeio essa semana, e de tudo que ela me faz lembrar. Odeio principalmente ter que estar bêbado ou chapado para passar por ela mais rapidamente. Odeio também a regra estúpida do Phil de não estar bêbado ou chapado durante o trabalho, isso explica a dor insuportável na minha cabeça.

Sou surpreendido por ver o Phil no bar, ainda é de manhã, e Phil só aparece aqui a noite para abrir o Aurora, de manhã aqui é literalmente trabalho de escritório. Phil está sorridente enquanto me espera, sei que coisa boa não vai partir disso. Principalmente pelo meu humor atual.

- Maninho!

- Qual o problema, Phil?

- Não temos nenhum problema. Só estou aqui para te contar que achei alguém para aquela vaga.

Tem que ter mais alguma coisa aí, ele não sairia da casa dele tão cedo apenas para me contar isso.

- Qual é a pegadinha, Phil? Quem é?

- Não é nenhuma pegadinha. Você se lembra da Millah? Conheceu ela no fim de semana.

Se antes eu não estava prestando atenção o suficiente no que Phil estava dizendo, sua pergunta vem como um lembrete de perigo. No fundo eu sei exatamente qual o desfecho dessa história, mas meu cérebro não aceita. Porque isso não pode ser possível, não está certo, eu não deveria ver ela nunca mais. Millah me assusta pra caralho! Principalmente em como ela foi boa em me ler em apenas uma única conversa, ou pelo fato dela ser a única que me fez sentir algo desde a Amy... É loucura! Isso é muita loucura! O tipo de coisa que estou pensando sobre uma garota que tive uma única conversa.

- Por que está me perguntando isso, Phil?

- Bem, Millah estava precisando de um emprego. Então eu contratei ela

- Não! Definitivamente não. – Ele me olha confuso e com uma pitada de irritação.

- Como assim “não”? Pensei que tivessem se dado bem no fim de semana. Foi o que os dois me disseram!

“O que os dois me disseram”? Então ela tinha falado de mim... Não! Não! Eu não me importo. Preciso de distância daquela garota. Não ficar preso em uma sala com ela durante toda a semana.

- Não nos damos bem, eu estava apenas tentando ser educado. É burrice que ela não tenha notado. Talvez não seja tão esperta quanto faz a garota parecer – Minto completamente. Torcendo para Phil não perceber.

- Jake! Você não tenta ser educado, tipo nunca. – Ele está irritado, talvez porque a semana inteira ele veio trazer candidatos para essa vaga, e eu dispensei todos eles. Nunca me arrependi tanto de uma coisa! Mas também tenho a vantagem de conhecer meu irmão muito bem. Ele nunca disse nada, mas tenho 100% de certeza, de que ele está completamente apaixonado pela Millah, há anos! Outro ótimo motivo para manter distância dela, definitivamente não quero outra situação igual a da Amy, Phil e eu não precisamos disso.

- Não é uma decisão inteligente misturar sua vida profissional com a sua vida amorosa. – Phil me olha franzindo a sobrancelha.

- O que quer dizer com isso?

- Só porque está apaixonado pela garota não significa que pode dar um emprego para ela. Não é inteligente irmãozinho.

- Por que acha que estou apaixonado por ela?! Só porque ela é uma amiga que quero ajudar? Millah é boa no que faz, é por isso que está aqui. Apenas por isso.

- Está dizendo isso para si mesmo quantas vezes para parecer verdade?

- É melhor parar com essa merda! Ou eu juro por deus que... – Interrompo ele.

- O que Phil?! Qual é a outra porcaria que poderia fazer comigo?

Esse é o momento de parar, mas estou tão irritado quanto ele, que simplesmente não consigo. É o ressentimento de anos vindo a tona.

- Você definitivamente não vai falar assim comigo no meu bar, caralho!

- Seu bar porra nenhuma! Nosso! Nosso, porque assim como sempre, eu tive que arrumar suas besteiras. Não recebo ordens suas! Estão é melhor parar com isso. – Ele olhou para cima enquanto respirava fundo. Quando voltou a falar parecia mais calmo.

- Não vou abrir mão da Millah. Fizemos um acordo de que a próxima pessoa que eu trouxesse seria a escolhida. É a Millah. – Odeio o fato dele ter razão. E de não ter absolutamente nada que eu possa fazer.

- Não vou tratar ela melhor apenas por ser a garota que você gosta.

- Ela não é a garota que eu gosto! Para de falar isso! – Seu desespero me diverte. Tanto que estou rindo.

- Claro que não... Millah está ali? – Digo apontando para a sala que tinha sido apenas minha nós últimos dias. Ele murmura um “sim". – Ela sabe que sou eu com quem ela vai ter que trabalhar lado a lado? – Agora é a vez dele estar rindo. O que deixa claro que não vou gostar da resposta.

- E qual seria a diversão se eu tivesse contado?

- Odeio você pra caralho! – Me viro para ir embora e encarar aquele problemão.

- Irmão, sei que é a semana do aniversário da morte da Amy, e que deve estar sendo difícil, mas tente ser legal, tá bem?

Phil não tem o direito de falar sobre a Amy, e já tínhamos estabelecido isso. O que me deixa irritado, e também me dá uma ideia incrível, se Millah pedisse para sair Phil não teria nenhuma razão, além de também conseguir me livrar dela e de todo sentimentalismo a envolvendo. Como faria isso? Bem, sou ótimo em fazer as pessoas me odiarem.

- Não fale sobre a Amy. – Digo e por fim indo embora.

Eu sei que isso não vai ser fácil. Trabalho aqui 5 vezes na semana, e dividir uma sala com ela, durante 5 dias toda semana, seria de longe uma atividade muito difícil. Ainda me pergunto o porquê me submeto a coisas como essa. Phil está me levando a ruina.

Eu entro na sala, esperando encontrar o olhar surpreso dela, igual quando descobriu que eu era irmão do Phil, mas tudo que Millah tem é um sorriso convencido no rosto. De repente quem está com aquele olhar surpreso sou eu.

- Se você e o Phil queriam me fazer uma surpresa poderiam ter falado mais baixo, gritar no corredor não é muito esperto da parte de vocês. – Não tinha me dado conta de que estávamos gritando, fico preocupado com o quanto ela ouviu, ainda não consegui formular o motivo de não querer ela saiba sobre a Amy.

- Ou podemos pensar em investir em paredes mais grossas. – Guardo minhas coisas e me sento de frente para meu computador, e de frente para Millah também. Ficar trancado com ela já é sufocante o suficiente, mas dividir uma mesa, e ser obrigado a ficar cara a cara o tempo inteiro é loucura!

- Quer saber? Não me importo com você ou com a infinidade de questões que você claramente tem. Por algum motivo você tem algum problema comigo, foda-se, estou falando sério quando digo que isso não me interessa. O fato é que agora eu estou aqui, e não existe nada que possa fazer para mudar isso. Fique longe de mim e não teremos nenhum problema. – Isso me faz rir alto. Não é possível que a garota não tenha olhado um pouquinho ao nosso redor. Como ela acha que posso ficar longe dela?! Pelo amor de deus.

- Aí que está o problema, lindinha. Tudo o que mais quero é a distância, mas como caralho vou manter distância de você quando temos que dividir essa sala minúscula? Isso é literalmente impossível. – Ela me fuzila com os seus olhos cinzas. É engraçado o fato de ter adorado isso, porque tudo nela inspira o contrário de brava.

- Supere isso, já disse não vou a lugar nenhum. E não me chame de “lindinha” ou qualquer porcaria parecido com isso.

- Você não pareceu muito incomodada na outra noite. – Millah me olha com indignação. Suas bochechas estão no tom mais vivos de vermelho. Enquanto afasta o seu  cabelo chanel para trás da orelha. Me permito olhar por mais um tempo para Millah, seria tão mais fácil odiá-la se ela fosse feia, o que definitivamente não é o caso. Millah é pouco centímetros mais baixa que eu. Tem um sorriso impressionante, reparei isso bem desde que nos conhecemos. E olhos acinzentados, tão suave que tenho até medo de olhar para eles por muito tempo. Lábios carnudos vermelho, tento não pensar em como seria o gosto dele, ou como seria a sensação de beijá-la. Minha mente só pode estar brincando comigo, não posso e não quero imaginar nada disso.

- Isso foi antes de você se tornar um completo idiota!

- Me tornar? Você apenas não notou isso durante a única vez que nos vimos. Talvez estivesse ocupada demais chorando por uma galha. – Cruel. Eu sei. Mas tenho um objetivo aqui, não posso me esquecer apenas por ela me encantar.

- Eu sei exatamente como caras como você funcionam. Um Passado fodido fez você ser esse babaca. Aposto que tem a ver com a tal Amy que você e o Phil estavam berrando. Não está acostumado com um não, e acha que pode dizer qualquer coisa para me magoar e ter o que quer, mas Jake, é melhor saber agora que não existe nada que você possa me dizer que vai realmente me ofender, absolutamente tudo o que pensar, eu já escutei coisas bem piores, lindinho. – Estou irritado tanto quanto estou curioso. Irritado pelo fato dela saber que se existe a Amy, mesmo que não saiba exatamente o que aconteceu, Amy e sua morte é algo que estou me esforçando muito para manter longe da minha vida, porque caso contrário seria impossível lidar com a culpa. E curioso com sua última frase “já escutei coisas bem piores", é evidente que não conheço ela, mas Millah definitivamente é o tipo de garota que se imagina tendo uma vida fácil, por mais que me sinta mal em pensar isso. Talvez o idiota do ex namorado fosse mas do que só um infiel, ou talvez o pai dela fosse o problema... Preciso descobrir urgentemente porque esse pensamento me afeta tanto, não é hora de bancar o cavalheiro.

- Vocês parecem que vão se matar a qualquer momento... – Só agora percebo a presença do Phil.

- Do que está falando, maninho? Estamos nos dando tão bem! Não é, Millah? – O sarcasmo na minha fala é palpável. Exatamente como a tensão que existia nessa sala.

- É a verdade. Adoro esse garoto. Tão pouco tempo juntos e já não consigo imaginar minha vida sem ele. – Phil faz uma careta.

- ha ha engraçadinhos! O que me conforta é saber que vocês vão passar várias horas e dias juntos. Até mais, meus queridos! – É o que ele diz antes de sair tão rápido quanto entrou. Deixando mais uma vez Millah e eu sozinhos.

- Não gosto nada de você, Jake.

- Tudo é recíproco por aqui, Millah.

- Ótimo.

- Ótimo.

Acho que chegamos a conclusão de que não conversar é o que funcionaria para nós dois. Eu realmente gosto do silêncio, mesmo que trabalhar com Millah é longe de silencioso, ela em uma mania irritante de ficar batucando as unha na mesa ao mesmo tempo das botas no chão, mas fico bem caladinho, já percebi que brigar com ela é uma causa perdida. Fui embora por volta das 3 da tarde, mas não posso dizer que fiz alguma coisa hoje, simplesmente não consegui me concentrar, estou falando sério quando digo que realmente aprecio o silêncio.

Dan e eu estamos na minha sala, enquanto estou imerso nos meus próprios pensamentos. Ele está falando alguma coisa, mas não consigo prestar atenção.

- Qual é o problema, Jake?

- Do que está falando? – Dan bufa.

- Você não está acompanhando o que estou falando! É por causa da... – Interrompo-o. Se eu escutar mais alguém dizendo o nome dela, juro que vou surtar.

- Não, não é por conta da Amy! Lembra da Millah? A garota que te falei.

- A amiga do seu irmão? – Concordo.

- Estou trabalhando com ela, e tem algo nela... Millah não se esforça para esconder nada, mais é tão misteriosa quanto é fascinante. – Dan franzi as sobrancelhas.

- Está obcecado pela garota?

- O que?! Claro que não! Porra... Eu só estou curioso. Não sei nada sobre ela, e isso está me incomodando. Apenas isso.

- Bem, se esse é o problema, você sabe como pode resolvê-lo, se descobrir mais sobre ela vai te deixar melhor, temos como fazer isso... – Olho para ele indignado.

- Espera, você está falando de...? – Ele balança a cabeça indicando que a resposta para a minha pergunta é sim. – De jeito nenhum, Dan! Não vou hackear a garota apenas para descobrir mais sobre ela!

- Posso fazer se você não quiser. – Eu estou surpreso pra caralho! Dan e eu éramos mais que capacitados para fazer isso, e se fosse qualquer outra pessoa eu provavelmente faria, mas com a Millah me sinto estranho em fazer isso.

- Não acho que seja uma boa ideia.

- Não me importo, falou tanto da garota que quem está curioso sobre ela sou eu. – Ele alcança o notebook na mesa de centro.

- Não vamos fazer isso, Dan!

- E por que não?

- Não quero ultrapassar esse limite com Millah. E invadir as coisas dela é definitivamente ultrapassar os limites! – Ele parece pensar melhor na situação. Como se buscasse uma solução.

- Nada de hackear ela então... Vou apenas te dar informações superficiais. Apenas para não pensar tanto sobre isso. – Isso não faz o menor sentido, e ele sabe disso.

- E como vai me dar informações, mesmo que “superficiais” sobre Millah, sem hackear ela?!

- Relaxa, tá bem? Não vou ler nada privado dela, apenas informações sem importância. – Eu sei que o certo seria dizer para ele não fazer, que isso provavelmente chatearia a Millah, mas na realidade eu quero saber mais sobre ela. Então me deito no meu sofá apenas tentando ignorar o que estava acontecendo a meio metro de mim. Dan e eu ficamos em silêncio por alguns minutos, escuto apenas ele clicando freneticamente no teclado, sem nem precisar olha-lo, sei exatamente o que está fazendo.

- Tudo certo, eu consegui... – Eu concordo esperando ele falar. – Millah Faust. 24 anos. Nascida e criada em Nevada. Sua mãe é Brianna Faust. 39 anos. Não consegui encontrar nada sobre o pai. Ela também tem um irmão, Greg Faust de 10 anos. Namora há 3 anos com um cara chamado Richy.

- Namorava. – O corrijo.

- Seja lá como você sabe disso. – Ele volta a prestar atenção na tela do computador. – Divide apartamento com uma garota chamada Hannah Donfort. Se mudou para a Califórnia 4 anos atrás. É formada em Economia e Administração... Bem, é tudo que consegui encontrar sobre ela. Se você quiser algo mais aprofundado posso...

- Não! Você já fez o suficiente.

Informações novas, e muita coisa para pensar, mas nada que realmente deixou evidente o porque me sinto tão atraído por ela.






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