Capítulo 23

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Jake



A forte luz branca torna difícil manter meus olhos abertos, estava em uma sala de interrogatório, dessa vez sendo interrogado de verdade. Definitivamente aqueles caras que me trouxeram até aqui não estavam sendo tão agradáveis quanto antes, quase me sinto como um criminoso. Eu sei exatamente o que querem e tudo que posso fazer é torcer para que Phil tenha conseguido fazer o que pedi.


- O quão bom é com um computador, Sr. Hawkins? – O mais velho entre os dois, pergunta. Só confirmando meu ponto.


- Igualmente a uma pessoa normal, senhores. – Eles odeiam meu tom de indiferença, é por isso que continuo fazendo.


- Bom o suficiente para conseguir hackear o sistema policial do estado inteiro?


- Para fazer isso eu teria que ser muito bom, vocês não acham? Ou o sistema de vocês é uma merda tão grande que até uma pessoa normal conseguiria invadi-lo? – Acho engraçado quando o mesmo policial  que me fez a pergunta fica vermelho de raiva. O outro releva, e apenas continua.


- Sr. Hawkins, temos motivos o suficientes para acreditar que você foi o responsável pela extração de arquivos estritamente sigilosos. Precisamos do acesso a todas as suas contas. – Touché! Percebem que perguntas não estava dando em nada.


- Tem certeza que vocês podem fazer isso? Quero dizer, não me apresentaram uma única evidência que permita ter um mandado para olhar minhas coisas pessoais.


- Desculpe se passamos a ideia errada para você, Sr. Hawkins, isso não é um mandado, apenas um pedido e a sua chance de provar que não tem nada do gênero escondido. – Tenho quase certeza que eles não podem fazer isso. Eu poderia sair agora, mas não acho que seja a melhor ideia, porque depois eles vão voltar, e não vou ter tempo de tentar consertar minha bagunça, igual hoje. Já faz mais de 2 hora que estou aqui, tinha que ser tempo suficiente para Phil ter conseguido limpar aquela merda, não deve ter sido difícil, a parte mais complicada provavelmente foi a senha, o que poderia ser bem familiar para eles, em todo caso Millah provavelmente saberia, estava confiante, e sem nenhuma outra opção nesse momento.


- Como quiserem, não tenho nada há esconder. – Digo com um sorriso. Tentando disfarçar todo meu medo.


Em questão de minutos um dos técnicos de TI vem até a sala, ele possui um notebook nas mãos, dou acesso a minha nuvem e coisas parecidas, o cara do TI olha para seu computador freneticamente, eu espero com ansiedade até que tudo seja checado, estou nervoso pra caralho com o pensamento de que se Phil não tiver conseguido apagar o que pedi, irei estar com grandes problemas, torço para que não percebam o quão aflito estou, tento esconder da melhor maneira que posso.


Seria bem mais fácil para eles descobrirem o que querem se estivessem no meu próprio computador, mas não são idiotas, sabem que isso iria bem além por apenas suposições. O processo de verificação demora mais de uma hora, uma hora de puro desespero para mim. O técnico não fala nada, apenas vira para os dois oficiais e balança a cabeça negativamente antes de recolher suas coisas e sair pela porta. Uma onda de alívio me invade, um sorriso ameaça sair dos meus lábios, funcionou! Eles tinham conseguido apagar.


- Bem senhores, já que não acharam nada, eu posso ir para casa? – Eles não estão contentes, com a certeza de que sou culpado pelo que falaram, o que não é uma mentira, mas também nada pode ser provado, e sabem que também não podem me manter aqui por mais tempo.


Antes que possa sair rua afora, o mais velho me olha ameaçadoramente, e diz:


- Vamos nos manter informado sobre você. Só para caso de fazer alguma merda.


- Me decepcionaria se fizessem o contrário. – Digo com ironia antes de pegar meu carro e ir dirigindo até minha casa.


Destranco a porta da frente, me deparando com os três espalhados pela minha sala. Eu imaginei que estariam mesmo aqui. Não é nenhuma surpresa.


- Oi pessoal. – Dan parece curioso, Phil me olha com raiva, e Millah... Ela se mantém inexpressiva no canto da sala enquanto olha para mim, isso me deixa preocupado, porque a única coisa que consigo sentir quando ela me olha é arrependimento, e esse momento, não é nada reconfortante vindo dela.


- “Oi pessoal”?! Tá brincando comigo? Você me manda uma mensagem dizendo que está com problemas, desaparece por horas e tudo que diz é “Oi pessoal”? – Phil diz.


- Talvez se você deixar ele falar, antes de destilar todo o ódio nele. – Dan responde igualmente irritado. Eu sei que aqueles dois tem problemas e provavelmente isso nem se trata de mim, mas não consigo prestar atenção em mais ninguém se não na Millah, ela abandonou seu lugar no canto da sala e agora caminha até mim com hesitação. Phil e Dan ainda continuam discutindo, não consigo ouvir porque estou ocupado demais olhando Millah. Ela para alguns centímetros de mim.


- Queria ter certeza de que você estava bem. Agora que tenho, estou indo para casa. Tchau Jake. – Eu não estava esperando por isso, ela vai simplesmente agir como se as últimas horas não tivessem existido? Não vai ao menos questionar o que aconteceu, ou o que tinha na pasta que pedi para apagarem? Isso não faz o estilo dela. Estou confuso e com medo do que isso significa. A porta atrás de mim se fecha, só então percebo que ela foi embora.


- Aconteceu alguma coisa com a Millah? – Questiono para os dois, que agora pararam de brigar. Phil apenas dá de ombros.


- Ela estava preocupada, só isso. – Dan responde, mas não facilita nada. Sem dar explicações, ultrapasso a porta para alcançar Millah. A vejo de longe.


- Millah! – Grito, fazendo ela parar de andar para me olhar, eu a alcanço. – O que aconteceu?


- Por que acha que aconteceu alguma coisa?



- Eu estou olhando para você, Millah! É claro que alguma coisa está te chateando, e quero saber o que.


- Isso não é sobre você, Jake. Não fez absolutamente nada de errado, só tenho coisas o suficiente para pensar. Posso por favor ir agora? – O seu tom parece agonizado, estou me sentindo péssimo e nem sei o motivo para tudo isso.


- Tudo bem. – Eu iria deixa-la ir, mas existia uma necessidade desesperadora de senti-la. Antes que tivesse a chance dela se virar para continuar sua caminhada, eu a puxo para um abraço. O seu cheiro eletrizante me preenche, e sinto um pouco de alívio, por mais que ainda estivesse tudo muito estranho entre nós, Millah ainda era a garota que estava nos meus braços, e esse definitivamente foi a melhor parte do meu dia. Não preciso de muito tempo para lembrar de todas as circunstâncias. Estou assustado pra caralho, o medo dela finalmente ter percebido que é boa demais e que eu sou um perigo constante para ela e para todos ao meu redor, e o pior de tudo, é que não existe como fazer nada para mudar isso. – Você me diria se eu pudesse fazer qualquer coisa para mudar como estar se sentindo, não é?


Ela não responde apenas balança a cabeça positivamente, e logo se afasta, antes que possa ir, ela deposita um beijo rápido nos meus lábios, e vai embora.

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