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Yara🍭

Coloquei uma calça preta e antes de sair me olhei no espelho, depois da perda da mamãe, era a primeira vez que eu iria voltar naquele lugar.

Passando pelas lápides é possível de se imaginar que cada uma delas contam uma história.

A data de nascimento e a data de óbito uma ao lado da outra, nos faz pensar que aquela pessoa teve pouco tempo aqui, independente das contas que resultam sua idade.

Inúmeros motivos e causas que as trouxerem para cá e que por cada uma delas uma pessoa chora pela sua ausência.

Ele não tinha família de sangue mais as pessoas presentes ali o amava de verdade e era visível a comoção de todos.

Apenas uma pessoa não esboçou nenhuma reação e permaneceu calado durante todo o velório, a frieza em seu olhar pra mim foi como um aviso do que iria acontecer.

Ele estava de braços cruzados olhando para um determinado lugar.

Por fora parecia intocável mais bastava olhar bem que se via o sofrimento fazer morada em seus olhos.

O fato dele não ter esboçado sua tristeza e sua revolta me faz pensar no quanto aquele silêncio está lhe fazendo sofrer.

Antes dele se calar eu pude ouvir algumas palavras saírem da sua boca, era como se ele ainda não estivesse aqui ou como estivesse ignorando a realidade que lhe assustava.

Ao entrar, quando ele passou pela porta da minha casa ele me abraçou e disse que ele o fez sorri o caminho todo e lhe motivou dizendo que ele teria que voltar por mim e por final disse que iria me chamar pra colocar o papo em dia.

O que sabemos do que aconteceu dentro daquele carro é apenas o que o outro menino contou.

Ele disse que o Nh saiu depois de falar que era o único que não tinha nada a perder, Matias tentou travar a porta mais ele a abriu mesmo assim.

A imagem foi exibida na televisão ao vivo, sem nenhum corte.

Dois ou três passos foi o que o Nh avançou antes do único tiro o acertar e de uma forma decisiva aquele foi o seu último suspiro, foi horrível.

Foram segundos, mais pra mim aconteceu tudo em câmera lenta, quando o tiro o atingiu ele caiu de joelhos antes do seu corpo se chocar a pista fria.

Mesmo isso sendo impossível, posso dizer que pude escutar o barulho do corpo dele ao cair no chão e ver todo aquele sangue.

Antes que os socorrista tivessem acesso a ele a imprensa já havia pegado os melhores ângulos do seu corpo no chão.

E logo após ver o carro saindo dali eu pude ter certeza que independente de quem estivesse no volante essa pessoa iria se culpar pra sempre.

Yara: Eu tô aqui contigo e não vou te deixar sozinho. -Falei assim que entrei no carro.

A gente tinha acabado de voltar do enterro, voltamos em silêncio sem falar nenhuma palavra o caminho todo.

Moreno: Desce do carro por favor. -Ele falou parando o carro na porta da minha casa.

Yara: Eu não vou te deixar sozinho. -Falei colocando minha mão próxima a dele.

Moreno: Eu tô implorando pô, eu quero ficar sozinho Preta. -Ele falou destravando a porta do carro.

Yara: Tu vai entrar ou a gente vai pra algum lugar?

Vi ele fechar os olhos e uma lágrima escorrer, abri meus braços e o chamei pra deitar na minha perna.

Quase uma hora de total silêncio e um choro que doía em mim.

Quase uma hora de total silêncio e um choro que doía em mim

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Aᴛᴇ́ ᴠᴏᴄᴇ̂ ᴄʜᴇɢᴀʀOnde histórias criam vida. Descubra agora