Papo reto que eu não acreditava nisso, mais hoje eu tenho certeza.
Como qualquer outra dor essa em especial te faz mudar ou pelo menos te faz querer agir de uma maneira diferente.
Te faz da valor nas pessoas ,e não nas coisas ao seu redor.
Uma semana depois de tudo ele tá na rua de novo, longe do morro por enquanto até a poeira abaixar.
Moreno: Eu ia colar mais cedo aqui, mais tava resolvendo uns bagulho no barraco. -Falei com ele que tava olhando pela janela.
Pesadelo: Não era nem pra vim, já falei que não te quero correndo perigo e tu pisando aqui é arriscado. -Ela falou ainda de costas pra mim.
Moreno: Tá moscando achando que tu se livra fácil assim. -Falei e escutei ele da uma risada daquelas sem vontade, sem ânimo.
Fiquei em silêncio vendo ele com os olhos parados olhando pro nada.
Pesadelo: Qual foi irmão, tá doendo de mais. -Ele falou de uma vez.
Moreno: Não consigo nem imaginar o que tu tá sentindo, mais tô aqui pro que tu precisar.
Pesadelo: Saudável pô ela tava bem, carregou a cria esse tempo todo fazendo os bagulho certinho pra acontecer um parada dessa? isso só pode ser castigo. -Ele falava suspirando, nem lágrimas tinham pra rolar mais.
Na real eu sabia que ele não queira ouvir nada, ele queria desabafar queria alguém pra escutar e é isso que eu tô fazendo.
Ele não chorou por um bom tempo, e tudo foi pior quando ele não pode se despedir isso só contribuiu pra ele se fechar mais ainda.
Fiquei mó tempão com ele, tentando ao máximo deixar ele confortável pra expressar os bagulho que ele tá sentindo.
Moreno: Próxima vez que eu colar aqui, te quero bonitão pô e comendo o rango que a tua irmã fez pra tu. -Falei e ele sorriu fraco.
Pesadelo: Cuida dela pra mim e de tudo que é importante pra mim lá no morro. -Ele falou olhando nos meus olhos dessa vez.
Um olhar vazio, mais que parecia pra mim, um pedido de socorro.
Sai do barraco que ele tá escondido cheio de perguntas e questionamentos pô.
Voltei pro morro o caminho todo pensando.
Moreno: Cheguei amor. -Falei passando pela porta.
Ela veio com os olhinhos pequenos de puro cansaço.
Yara: Ela tava chorando até agora tem nem dois minutos que ela dormiu. -Ela falou me abraçando de lado, dei um beijo na testa dela e ela me levou até o quarto.
Moreno: E esse traje pô tá igual uma princesa. -Falei segurando na mãozinha da pequena.
Yara: Fala baixo amor, tu sabe que ela não pode ouvir sua voz. -Ela falou me beliscando e eu logo reclamei de dor.
A gente saiu do quarto e foi pra sala, sentei no sofá e logo ela deitou a cabeça no meu peito.
Moreno: Tá ligada que eu te admiro e te acho a mulher mais foda desse mundo. -Falei juntando nossas testas.
Yara: E eu te amo ainda mais por me acompanhar nesse mundo tão novo pra gente. -Ela falou apontando pra porta do quartinho da Liz que tem uma joaninha, Yara que desenhou.
Liz dona das nossas noites e dos nossos dias, nosso despertador natural.
Mãe dela faleceu logo quando ela nasceu, Gabi teve uma parada cardíaca enquanto a Liz dava seu primeiro suspiro aqui fora, Gabi partiu trazendo a filha dela e do Yago ao mundo
Yago passou pela pior coisa que eu já vi alguém passar, moleque tava preso e longe de tudo que acontecia aqui fora.
Assim que a neném nasceu teve todo um corre pra avisar ele, mais o pior foi quando o médico saiu lá dentro dizendo que a mãe não tinha resistido.
Foi o diálogo mais doloroso que eu já ouvi na minha vida, Yara falava com ele enquanto ele gritava e implorava pra ela dizer que era mentira.
Não teve um que não chorou doeu de mais saber que em um quarto havia vida e no outro uma vida tinha sido perdida.
Desde então Yara não pensou duas vezes e fez todo corre pra pegar a Liz.
Parte complicada é que Yago não suporta nem a ideia de que ela é saudável e tá aqui pra ser amada e receber carinho.
Na real ele sente um bagulho parecido com culpa, ele não pergunta por ela e nem se quer eu escuto ele falar o nome dela.
Eu não pensei duas vezes antes de entrar nessa ideia junto com a minha mulher.
Qual foi, se hoje eu tô aqui é graças a ela, jamais vou soltar a mão da minha manhosa.
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