Capítulo 4

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JOE MALKIN

A tensão dentro do carro é palpável. Kim está sentada no banco do passageiro com os braços cruzados e o rosto contorcido em uma carranca enquanto Sean está sentado no banco detrás parecendo desesperado para esclarecer as coisas com sua irmã.

Estávamos no meio de um treino na academia quando Sean me ligou. Eu dei a ele meu número para caso de emergência e quando ouvi sua voz desesperada me contando o que havia acontecido soube que precisava correr para a escola. Abandonei a musculação no meio do tempo, o que não deixou os treinadores muito mais felizes comigo.

- Kim, eu juro que...

- Em casa, Sean. - Sua voz é fria como o gelo - Nós conversaremos em casa.

- Mas eu...

- Sean, em casa.

- Você não está entendendo!

- O que não estou entendendo é como você pediu para fazer o teste na escola quando já havíamos conversado sobre isso.

- Eu vou para o projeto, mas queria impressionar Malkin!

Desvio os olhos da estrada por um instante para encontrar Kim me olhando com acusação, como se eu fosse o grande culpado por Sean ter brigado com outros alunos. Acho que ela deveria apenas sentar e escutá-lo. Por tudo o que Sean me contou, ele foi sabotado. Os garotos maldosos quebraram seu taco de propósito e o humilharam pela baixa qualidade de seu equipamento. Hóquei é um esporte caro, não há como negar, mas aqueles garotos não tinham o direito de tratar alguém assim e Sean é um bom menino, não iniciaria uma briga sem motivo.

- Você não precisa impressionar Malkin. Você precisa escutar a sua irmã! - Kim fala de uma maneira tão dura que posso ver Sean se encolher no banco pelo retrovisor interno - Me prometeu que não procuraria o time da escola e o que você fez?

- Kim. - Tento atrair sua atenção.

- Eu posso ser um bom jogador sem aqueles equipamentos caros deles.

- Essa não é a questão, Sean! Como posso confiar em você agora se faz as coisas pelas minhas costas? Preciso te proibir de ver Malkin?

- Não! Você não pode fazer isso! Não fui eu quem começou, foram eles. Eles quebraram meu taco quando o treinador não estava na arena e começaram a me bater. Depois falaram para o treinador que eu havia começado tudo e que merecia ser punido.

- Você não deveria estar lá, Sean! O que conversamos sobre o time da escola e os garotos malvados?

- Kim. - Tento outra vez, suspirando aliviado quando viramos em nossa rua e estaciono na calçada de casa.

- Você nunca me entende! - Sean grita e solta seu cinto de segurança - Você só sabe brigar comigo. Nada do que eu faça é bom para você. Você é chata e agora Malkin não vai mais querer seu meu amigo!

Com muita agilidade para um garotinho tão novo, Sean salta do carro e atravessa a rua correndo na direção da garagem onde ele e sua irmã estão morando. Ouço Kim gritar por ele, mas Sean continua a correr até desaparecer de vista.

- Merda! - Kim tenta soltar o cinto de segurança para ir até ele, mas suas mãos estão trêmulas. Coloco minha mão sobre a dela para impedi-la e me impressiono com a frieza de sua pele.

- Deixe-o sozinho por um momento. Ele precisa disso.

- Você não o conhece.

- Não, mas já fui um garoto igual a ele.

- Cuidei de Sean sozinha nos últimos dez anos. Não preciso que me diga o que fazer.

- Não estou tentando tomar o seu lugar, estou oferecendo ajuda com seu irmão. É frustrante ter um sonho tão alto e sentir que nunca poderá realizá-lo. Eu sei como é e entendo o que ele está sentindo.

Vejo como minhas palavras a desarmam. Seus ombros caem e ela afunda no banco. De repente seu rosto parece muito mais cansado, como se ela tivesse responsabilidades demais para seus ombros pequenos e não dormisse bem há dias.

- Eu quero ajudá-lo a realizar seus sonhos, mas não tenho condições para isso. Economizei por meses para conseguir pagar o kit mais barato que encontrei e ainda assim não foi bom o suficiente. Estou tentando manter tudo e só estou magoando meu irmão.

- Sean é jovem. Não entende a complexidade da vida. Quando ele crescer, vai valorizar muito tudo o que você faz por ele.

- Ainda não sei como farei, mas quero tornar Sean um grande jogador ou o que quer que ele queira ser. Quero dar ao meu irmão a vida que eu não tive.

- Deixe-me ajudá-la.

- Não. Não posso aceitar.

- Kim, seu irmão é um bom garoto e nos tornamos amigos. Eu posso ajudá-los. Posso treinar Sean e prepará-lo para o time do colégio, é a melhor maneira de ele conseguir destaque no esporte e, quem sabe, uma bolsa de faculdade futuramente.

- Você está propondo demais. Não posso deixar que se comprometa dessa maneira.

- Eu quero me comprometer porque farei tudo isso acontecer. Deixe-me comprar novos equipamentos para ele e treiná-lo. Eu quero ajudar.

- Você não pode ter uma responsabilidade tão grande com duas pessoas que mal conhecem. Sua família pode não gostar, sua esposa ou sua namorada. Eu não quero que Sean se magoe, Malkin.

- Não vou magoá-lo. Você esteve na minha casa, Kim. Não há sinal de esposa ou namorada e ainda que tivesse, não atrapalharia minha vontade de ajudá-los. Eu me identifiquei muito com Sean e quero o melhor para ele.

- Eu preciso falar com Sean antes de voltar para o trabalho. - Ela faz menção de pegar na maçaneta da porta, mas coloco minha mão em seu braço e espero pacientemente até que ela me olhe.

- Uma chance. É tudo o que estou pedindo. Apenas uma chance para provar que posso ajudá-los.

- Eu não duvido que você pode nos ajudar, mas não há garantias de que meu irmão não se machucará no processo. Ele te admira demais e se você acordar amanhã e não quiser mais ajudá-lo, Sean ficará arrasado.

- Provarei que posso ajudá-los. Sou um homem com um objetivo, Kim. Eu só preciso da sua permissão.

Um suspiro derrotado escapa de seus lábios bonitos e me sinto orgulhoso que ela não esteja mais trêmula e fria. De alguma forma consegui despertar a esperança dessa garota.

- Tudo bem, mas eu só te peço que não magoe o meu irmão.

- Eu não o magoaria. Não magoaria vocês dois.

Apenas uma Chance - Os Jogadores #1Onde histórias criam vida. Descubra agora