Capítulo 31

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KIM BALDRICK

Agarro minha blusa com mais força e me levanto do banco. Não sei ao certo por quanto tempo estive sentada nesse banco meio escondido do pequeno parque, mas enfrentei todos os estados possíveis de luto pela minha situação. Chorei todas as lágrimas que venho guardando desde os treze anos até que elas secaram e eu apenas... parei. Foi duro reviver minhas memórias. Passei tantos anos dizendo a mim mesma que estava bem em relação ao abandono do meu pai e bastou um único encontro com ele para provar que nada do que eu dizia a mim mesma era sólido.

Me surpreendo ao notar que já escureceu. Meu primeiro pensamento é me desesperar por Sean, então lembro que ele fica na casa de Malkin depois da escola até eu chegar do trabalho. Não sei por quanto tempo fiquei fora do mundo.

Pego minha bolsa no banco e não dou mais que cinco passos antes de ouvir alguém gritar meu nome. Malkin corre pela trilha em minha direção como se fosse um homem com uma missão. Antes que eu pudesse perguntar por que ele estava aqui ou estava me procurando seus braços me cercaram em um abraço apertado e fui tão espremida contra seu peito que não sei como meu nariz foi não danificado.

- Joseph eu preciso respirar.

- Você assustou o inferno fora de mim, Kimberly! - Se afastou um pouco para segurar meu rosto em suas mãos - A senhora Brown me ligou e disse que estava com Sean, que você ainda não tinha chegado e que havia saído do trabalho cedo.

- Sean está com o a senhora Brown?

- Sim. O treinador tomou muito mais tempo de treino hoje e não me ocorreu de te ligar para avisar. Eu sinto muito.

- Quantas horas são?

- Nove e meia.

- Nove e meia?! Impossível. Eu me sentei aqui pouco depois das nove da manhã e...

- Aconteceu alguma coisa?

- Como está Sean?

- Bem, a senhora Brown se ofereceu para ficar com ele enquanto eu te procurava. Rodei a cidade inteira atrás de você.

- Oh, meu Deus! - Espalmo minha testa - Eu sou uma irmã terrível.

- Babe, o que aconteceu?

 Volto para o banco em que estive sentada e me permito cair ali novamente. Deixo minha bolsa de lado e me inclino para frente, apoiando meus braços em minhas pernas e passo minhas mãos por meu cabelo. Sinto Mal se acomodar ao meu lado em silêncio.

- Meu pai apareceu na lanchonete hoje e eu... Eu não me reconheci. Fui dura, fria e maldosa, disse coisas horríveis e não sei como isso aconteceu. Eu deveria estar com algum remorso, mas não estou e não sei como se sentir quanto a isso. - Continuei olhando para frente, sem coragem de olhar para o meu namorado. Não quero ver o julgamento em seus olhos agora. Mal é um homem tão bom, não espero que ele entenda a dimensão do que estou sentindo - Passei anos dizendo a mim mesma que sofri pelo que ele havia feito a minha mãe e por ter abandonado meu irmão, mas a verdade é que me senti traída. Meu pai era meu grande herói e ele simplesmente me deixou para trás. Ele foi viver uma nova vida, teve novos filhos e nunca se preocupou comigo.

- Você era uma criança que não tinha culpa Kim.

- Eu me vi mãe aos treze anos. Não estou reclamando disso, Sean é a melhor coisa que já me aconteceu, mas... De repente eu tinha uma casa para manter, um bebê e uma mãe que... Deus que me perdoe, eu tinha uma mãe que era praticamente um peso. Senti tanta raiva dela, Mal. Eu a culpei tanto. Como ela podia escolher a bebida? Como ela não ligava para o lindo bebê que era Sean? Como ela pôde simplesmente me abandonar a própria sorte? Meus pais me abandonaram, os dois. Foi tão difícil estar sempre forte para o meu irmão, mas estão à noite, quando eu me deito no sofá que chamo de cama, não posso deixar de me perguntar qual o problema comigo. Por que sou tão desprezível que meus pais escolherem me deixar? O que fiz de tão ruim para não ter ninguém comigo, me segurando e dizendo que está tudo bem? Qual é o problema comigo, Mal?

- Kim...

- Essa é a pior parte, sabia? Não me arrependo das palavras duras que disse ao meu pai hoje, mas me sinto péssima por ter esses pensamentos. Não se trata de mim, é sobre Sean e a felicidade dele. Meu pai escolheu nos deixar e construir uma nova família perfeita, minha mãe escolheu se afundar cada vez mais no maldito álcool e ignorar os filhos. Sean é a vítima da história. Nada disso é sobre mim e ainda assim esses pensamentos insistem em invadir minha mente sem serem convidados.

- Sabe o que eu acho? Não foi justo o que aconteceu com você, mas infelizmente a vida nem sempre é justa. Você não pode controlar as escolhas dos outros, seus pais escolheram errado, mas você escolheu estar com seu irmão, você decidiu ser forte e seguir em frente. Pode não ter sido perfeito, Kim, mas seu irmão te ama. Ele te olha como se você fosse o mundo dele e não duvido que realmente seja. Você era uma criança cuidando de outra, uma criança com responsabilidades que não cabiam a você. - Mal pego uma das minhas mãos e entrelaça nossos dedos - Eu não posso mudar seu passado, mas estou aqui agora e quero ficar, se você me deixar. Estou aqui para te segurar e dizer que está tudo bem. Não vou a lugar algum, Kim.

- Não precisa dizer essas coisas.

- Que coisas? Dizer a verdade? Kimberly Baldrick, eu te amo. Você está tão acostumada em manter o peso todo sobre si que esquece que estou aqui agora. Estou aqui para cuidar de tudo e você não precisar levar mais peso algum. Tenho ombros largos e fortes, posso cuidar disso. Eu te amo e quero cuidar de você e do seu irmão. Você me disse que vocês são um pacote e é o pacote que estive procurando por um longo tempo. Me deixe ficar.

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