Capítulo 29

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AVISO: Eu sei, não houve postagem no sábado, mas não estou deixando vocês no juízo! Não! Nesse sábado teremos a tradicional MARATONA de encerramento, por isso vou focar todas as minhas energias para encerrarmos esse livro com o final maravilhoso que ele merece. Boa leitura <3

KIM BALDRICK

Entrego o último pedido quando o sino da porta anuncia a entrada de mais um cliente. Hoje o lugar está um pouco mais cheio que o costume para essa hora da manhã. O homem caminha a passos confiantes até uma das mesas perto da janela, ele não me parece exatamente familiar por aqui. Recolho a bandeja e pego meu bloco de notas e caneta antes de me aproximar do desconhecido.

- Bom dia, em que podemos ajudá-lo? - Abro o caderninho e passo para a próxima página. Esqueci completamente que havia usado a primeira página para testar a tinta da caneta. Clico no pequeno botão para que o bico com tinta saia antes de olhar para o homem.

- Olá, Kimberly. Já faz um tempo.

A voz me congelou no lugar. De repente eu já não tinha controle sobre meu próprio corpo, me senti entorpecida e minhas mãos soltaram o bloco e a caneta. Fiquei olhando para os olhos castanhos que marcaram tantos momentos da minha infância antes dele decidir que não valíamos a pena e ir embora.

- O que faz aqui? - Minha voz soou dura e fria como eu nunca havia ocorrido. Por um instante perguntei-me se era mesmo minha.

- Não posso ver minha filha?

- Não sou sua filha. Você mesmo decidiu isso quando criou uma nova família com sua amante e nos abandonou. - O olho de cima a baixo, incapaz de esconder meu escárnio. Não consigo me reconhecer, não sou esse tipo de pessoa, mas sua presença parece ter despertado um desprezo que eu não sabia que existia - Vejo que a traição e a covardia te fizeram muito bem.

E não é mentira! Seu cabelo muito bem cortado brinca em diferentes tons de cinza, os olhos castanhos calorosos e suas roupas engomadas. Ele é o retrato perfeito do pai de família de classe média, com uma bela esposa, filhos lindos e uma vida impecável. Bem... Se esse era seu grande sonho, ele conseguiu realizá-lo. Só lamento que isso tenha nos custado tudo.

- Eu entendo a sua raiva, mas estou aqui para conversarmos.

- Não há o que conversar. Acha que estou com raiva? Você não me viu com raiva de verdade. Como ousa aparecer aqui depois de tudo o que fez? - O mero pensamento de que sua partida afundou minha mãe no próprio vício e quase me custou a vida de Sean aquece meu sangue a níveis inexplicáveis - A melhor coisa que poderia ter feito era continuar ignorando nossa existência enquanto vive sua vida perfeita.

- Não é bem assim.

- Não? Trair o laço sagrado do matrimônio, trocar sua esposa por uma mulher mais nova como se ela não fosse mais que uma peça de roupa usada e negligenciar um bebê que você sabia ser seu? Não sei se é corajoso ou extremamente estúpido de aparecer aqui.

- Soube que sua mãe morreu. - Sua voz é fria, seu rosto se mantém inexpressivo enquanto eu mesma sigo me alterando. Algumas pessoas já olham em nossa direção, mas eu simplesmente não posso me calar agora.

- Sim. Ela se afundou na própria desgraça até morrer. Você era a vida dele... Infelizmente.

- Ela se tornou uma viciada.

- E mesmo sabendo disso você não se importou, não é mesmo?

- Eu estava com raiva e magoado, não queria saber da sua mãe naquela época.

- Você estava com raiva e magoado? - Uma risada de pura amargura me escapa - Você é quem foi embora e nos esqueceu por completo! Como pode se achar no direito de sentir raiva ou mágoa? Você não se importou nem mesmo com o bebê!

- No estado que sua estava eu sabia que o bebê não duraria.

Recuei um passo como se ele tivesse me esbofeteado. A sensação foi essa. Minha raiva não é por ele ter me abandonado. Eu era uma garotinha que amava seu pai e o viu ir embora para criar novas garotinhas para amar enquanto eu ficava para lidar com os estragos. Nunca alimentei a raiva por mim, mas pela mulher que o amava mais que a própria vida e pelo filho que ele escolheu negligenciar.

- O bebê é um garoto lindo, saudável, talentoso e muito especial. Sean será um homem incrível um dia e eu tenho o alívio de saber que você não participou de nada. - As palavras eram cruéis e em outra circunstância eu não diria algo assim para uma pessoa, mas a dor acumulada por todos aqueles anos se transformaram em palavra afiadas e prontas para ferir - Eu não sei o que quer conversar e não me interessa. Pode ir embora ou aguarde até que alguém venha atendê-lo por que eu não o farei.

- Estou morrendo, Kim. Eu sei que não há justifica para tudo que lhe causei.

- Não apenas a mim.

- Eu vim para me desculpar.

- Uma simples desculpa não apaga tudo. Não vai trazer minha mãe de volta, não tornará as coisas mais fáceis. Eu lamento que sua saúde não vá bem, mas sei que tem uma bela esposa e filhos que o ama em casa. Aproveite seus últimos momentos com eles.

- Não seja cruel, Kimberly. Você nunca foi assim.

- Isso foi antes de correr para casa todos os dias perguntando se encontraria minha mãe ou Sean vivos. - Senti a umidade escorrer por minha bochecha e não me preocupei em limpar. Não são lágrimas de tristeza, são de raiva -  Isso foi antes de me perguntar como faria para comprar comida, como cuidaria da minha mãe ou do bebê; antes de implorar que minha mãe pudesse aguentar até que eu tivesse idade suficiente para manter Sean comigo. Foi antes de você toda a inocência ou magia que uma infância pode ter. Diga-me, senhor Baldrick, você chama suas outras filhas de princesinhas do papai também? Promete estar sempre lá para protegê-las?

- Kimberly. - Rudy se aproxima de mim com a mandíbula cerrada, sussurrando meu nome em tom de advertência, mas eu não ligo. Continuo a olhar para o homem, o belo pai de família - Pare com essa cena. Está assustando os clientes.

- Estou fora daqui por hoje. - Retiro meu avental e o entrego em suas mãos - Me desculpe por isso. Não posso ficar aqui.

Uma última olhada para o homem que um dia considerei meu herói e não consigo controlar o nível crescente de ódio ou as lágrimas que querem cair novamente. Eu preciso sair daqui. Preciso de ar e tranquilidade. Há uma parte em mim que deseja tanto lhe falar coisas mais ruins, mais cruéis e causar algum dano para que ele sinta uma pequena porcentagem do que nos causou. Fácil pedir desculpas agora. Ele não se preocupou com isso quando nos tratou como lixo.

Apenas uma Chance - Os Jogadores #1Onde histórias criam vida. Descubra agora