Capítulo 3

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KIM BALDRICK

- Você já ouviu falar em folga? - Kelly pergunta com um sorriso divertido. Ela é uma cliente assídua daqui e o mais próximo de uma amiga que tenho nos últimos tempos.

- Você deveria maneirar na cafeína. - Dou-lhe um sorriso e coloco a xícara fumegante diante dela.

- Administrar uma loja de noivas é mais trabalhoso do que pensam. - Dá de ombros antes de pegar a xícara.

- Você é a personificação de um personagem animado, Kelly. - Abraço a bandeja prateada contra meu peito - Nunca conheci alguém tão sorridente e bem resolvida com a vida.

- Gosto de pensar positivo, mas com um toque de realismo.

- Você é uma romântica, isso sim.

- Talvez. Não se pode julgar uma garota por sonhar com o príncipe encantado.

- E seu antigo namorado?

- Encontrou o amor da vida dele e os dois vão se casar. Ela marcou um horário lá na loja para a próxima semana.

- Você está bem com isso?

- É claro. Tivemos um término amigável. Eu sabia que não era o amor da vida dele e me parecia injusto prendê-lo em um relacionamento que não seria para sempre. Ele merecia encontrar quem o amasse de verdade.

- Você é preciosa demais para esse mundo cruel, Kelly.

- Exagerada. - Solta uma risada contagiante.

- Kim! - Rudy, o gerente da loja, me chama do balcão - Telefone!

- Nos falamos depois. - Sussurro para Kelly antes de correr até Rudy. O homem me estende o telefone e praticamente o larga antes de eu pegá-lo - Alô?

Observo meu chefe rabugento, alto e muito magro desaparecer pelas portas da cozinha. Rudy pode não ser o homem mais gentil ou solícito do mundo, mas as gorjetas fazem o trabalho necessário e Sean e eu precisamos desse dinheiro.

- Senhora Kimberly Baldrick?

- Sim, sou eu.

- Aqui é da Escola Estadual. Houve um incidente com Sean Baldrick e o diretor gostaria de vê-la assim que possível. Seu irmão está detido na diretoria.

- O que?! O que aconteceu? Sean está bem?

- Ele está. Houve um incidente com alguns atletas da escola. O diretor a aguarda para conversarem.

- Estou a caminho. - Desligo o telefone e corro para a sala dos funcionários para pegar minha bolsa e deixar meu avental. Todos os cenários possíveis aparecem em minha mente. Meu peito aperta sob a mínima possibilidade de Sean estar machucado. É meu dever cuidar dele e mantê-lo seguro.

Grito para Rudy que estou saindo, que trata-se de uma emergência e não fico para escutar sua resposta. Preciso chegar até meu irmão. Tudo se transforma em um borrão e Kelly aparece ao meu lado na calçada do café.

- Kim, você está nervosa. Aonde precisa ir? Eu posso levá-la.

- Escola Estadual. - Engulo em seco e Kelly assente. Ela é muito gentil em me deixar na escola, sei que ela precisa voltar ao trabalho e agradeço que não faça perguntas sobre o que está acontecendo. Minhas mãos estão trêmulas e frias.

Corro para dentro e cruzo a escola até a diretoria o mais rápido que minhas pernas conseguem me levar. Estou ofegante quando encontro meu irmão sentado sozinho nos bancos de espera, com a cabeça baixa e seus cabelos omitindo minha visão de seu rosto.

- Sean! - Minha voz soou mais alta que o esperado. Meu garotinho levantou o rosto para me olhar e meu fôlego desapareceu de vez.

Sean tem um machucado no queixo, que está começando a ficar roxo, assim como seu olho. Há um corte na ponte de seu nariz e em seu lábio superior. Seus olhos parecem aterrorizados e me encontro dividida entre ampará-lo e gritar com alguém. É isso que eles chama de "incidente"?

- Kim. - Sua voz chorosa me alcança e corro para envolvê-lo em meus braços - Eu sinto muito, Kim. Eu só queria mostrar que sou bom.

- Senhora Baldrick? - Olho para cima, encontrando o diretor da escola nos encarando da porta de seu escritório.

- Sim. - Acaricio os cabelos do meu irmão.

- Me acompanhe. - O homem se vira e caminha para dentro do escritório. Deixo Sean sentado ali e agarro minha bolsa contra mim para seguir o diretor. Fecho a porta quando entro na sala observando-o se acomodar atrás da luxuosa mesa de vidro.

- Que tipo de incidente é esse que deixa meu irmão todo machucado? - Me sento em uma das cadeiras diante de sua mesa sem esperar pelo convite. Estou tão irritada, minhas mãos ainda estão trêmulas.

- Seu irmão pediu para fazer um teste na equipe de hóquei e quando o taco dele quebrou, não havia um de reposição no equipamento dele. Sean culpou alguns garotos do time de quebrarem o taco propositalmente e uma briga teve início.

- Onde estão os outros garotos?

- No treino. Eles são atletas e precisam se preparar para a temporada escolar. Seu irmão deu início a toda a confusão.

- Desculpe, acho que não entendi direito. Por um acaso meu irmão conseguiu os hematomas e os cortes sozinho? Bateram nele.

- O equipamento do seu irmão não é da melhor qualidade. Incidentes acontecem e os demais não devem ser responsabilizados pela falta de equipamento.

- Por que meu irmão é o único responsabilizado pela briga? Veja bem, senhor. Não sei se Sean foi o responsável pela briga ou essa história foi distorcida, mas prometo averiguar isso com meu irmão. O que quero saber é por que ele é o único sentado lá fora quando não foi o único a brigar?

- Como eu disse, senhora Baldrick, seu irmão incitou a briga.

- Mas ele não brigou sozinho. - Falo entre-dentes.

- Bem... Os outros garotos são atletas importantes para a escola e seus pais são bons doadores.

- Essa é uma escola estadual.

- Sim e a verba pública não é suficiente para proporcionar um ensino de qualidade. As doações são importantes e os prêmios dos campeonatos nos ajudam a manter essa escola. Não posso me comprometer dessa forma por que seu irmão causou uma briga durante um teste por causa de um equipamento ruim.

- É esse o ensino de igualdade e respeito que sua escola ensina ao alunos? Alunos de famílias endinheiradas podem fazer o que quiserem sem a devida punição? - Solta uma risada amargurada e me levanto - Estou indo embora com meu irmão.

Abro a porta do escritório com mais força que o necessário, surpreendendo-me ao encontrar nosso vizinho bonito sentado ao lado do meu irmão.

- Kim! - Sean é o primeiro a me notar.

- O que o senhor está fazendo aqui? - Olho para Malkin.

- Sean me ligou. Vamos, eu levo vocês para casa.

- Preciso conversar com meu irmão.

- Kim, eu...

- Em casa, Sean.

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