Capítulo 37

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KIM BALDRICK

Entro na lanchonete de mãos dadas com Sean. Foi difícil a decisão de não mandá-lo para a escola hoje. Nosso pai não é o homem que merece o mínimo de esforço ou sacrifício, mas sei que preciso acabar logo com isso e encerrar esse capítulo de nossas vidas para que possamos seguir em frente sem fantasmas do passado. Estamos aqui para ele conhecer Sean, falar o que tiver de ser dito e seguirmos nossos caminhos separadamente. Ele escolheu criar uma nova família perfeita para si, logo posso imaginar que eles estarão lá com ele nos últimos tempos de sua vida. Não há necessidade de Sean e eu marcarmos presença, ele não se importou em fazer isso na última década.

- Se está aqui para pedir seu emprego de volta é tarde. - Rudy caminha até nós com um sorriso ensaiado no rosto, falando baixo para que apenas eu escute - Já preenchi sua vaga.

- Não estou aqui pelo emprego. Vim como cliente.

- Oh, bem. Posso tentar encontrar uma mesa para vocês.

- Não é necessário. - Aperto um pouco mais a mão de Sean, precisando sentir ao meu lado - Viemos encontrar alguém e vejo que essa pessoa já chegou. Por gentileza, traga o hambúrguer da casa e um milkshake para o meu irmão e um café para mim.

Sem esperar por Rudy, caminho com Sean até a mesa em que nosso pai está. Eu não tenho um discurso preparado para hoje. Sendo sincera, não pensei em nada que precisasse ser dito. Sempre haverá esse passado entre nós com ressentimentos e palavras não ditas. Um dia Sean saberá da história sem precisar do trabalho de tê-la vivenciado. Ele saberá que foi uma época difícil de nossas vidas que foi superada. É isso que importa.

- Olá. - O cumprimento e indico para Sean se sentar primeiro na cabine, eu escorrego para o banco acolchoado logo atrás dele. Posso ver a estranheza nos olhos do meu irmão, ele está acanhado e luta para reconhecer o homem a nossa frente, sem muito sucesso.

- Olá. - Seu sorriso é contido, quase tímido. Não consigo sentir qualquer empatia por ele, mesmo sabendo que seu tempo de vida é contado - Você deve ser o Sean. Você está tão grande e bonito.

- Kim disse que você é nosso pai. - Sean fala com desconfiança e damos as mãos debaixo da mesa. Meu irmão precisa de um apoio.

- Sim, eu sou. Quando eu precisei ir você ainda não tinha nascido.

- Por que nunca voltou?

- As coisas eram... complicadas, mas estou aqui agora e estou feliz por encontrar vocês.

- Por que agora?

- Sean. - Tento adverti-lo, se muito ânimo. Esse homem diante de nós não merece qualquer educação, mas não poderão me acusar de falhar na educação do meu irmão. Sean sabe os bons modos.

- Eu estou doente, muito doente e morrerei logo.

- Você nos procurou por que está doente?

- Eu não fiz coisas boas na vida, Sean e tenho consciência disso. Não posso consertar todo o sofrimento que eu causei a vocês, mas posso vir aqui e pedir desculpas, implorar por seu perdão. Eu não fui um bom pai, mas vocês parecem ter se saído muito bem.

- Kim se casará. - Sean dispara a informação. Crianças e sua completa falta de filtro. Nosso pai me olha com surpresa, uma certa especulação em seu olhar e detesto pensar que estou lhe dando qualquer explicação sobre minha vida, mas é melhor fazer isso a ter que responder depois as perguntas de Sean sobre não ter falado de Mal.

- É verdade. Ainda não temos uma data, um anel ou qualquer coisa assim, mas eu encontrei um bom homem. Um homem de verdade que entende que Sean e eu somos um pacote que não pode ser separado. Ele é o homem em quem eu confio e sei que posso formar uma família sem medo de me arrepender pela minha escolha no futuro. Ele não viraria as costas para nós.

Entrar em um assunto que Sean gosta alterou até sua postura corporal. Para alguém que estava praticamente tentando se mesclar ao banco, Sean endireitou a coluna, abriu um sorriso no rosto e simplesmente parece no paraíso por falar de Mal. É notório que não fui a única dos Baldrick encantada pelo homem. É impossível não se apaixonar por Joseph Malkin.

- Mal é muito legal. - Sean fala - Ele joga na liga profissional e até me levou para a Arena conhecer o time dele. Ele é um dos melhores jogadores.

- Kim está se casando com um atleta? - Seu olhar deixa claro que ele tem vontade de perguntar mais e não estou disposta a responder. Infelizmente, Sean é uma criança inocente e não nota o clima de tensão entre nós.

- Sim. Malkin é jogador de hóquei. Ele é muito legal. Tem uma casa bem grande e bonita e me levou para comprar equipamentos novos para eu entrar no time da escola.

- Você gosta de hóquei?

- Sim, quero ser um jogador profissional igual ao Malkin. Kim disse que você só gosta de futebol.

- Sim, passei muitas tardes e noites assistindo aos jogos. Como começou seu interesse pelo hóquei? Poderia ser pelo futebol.

- Eu sempre assistia aos jogos na televisão enquanto Kim cuidava da nossa mãe ou estava no trabalho. Então nós nos mudamos e viramos vizinhos de um dos meus jogadores favoritos. Foi assim que Kim e Malkin se conheceram. Eles se apaixonaram e agora vão se casar e eu vou ficar com eles. Malkin disse que nunca tiraria minha irmã de mim e eu poderia ficar com o quarto mais legal da casa. Parece um museu de hóquei. É muito legal.

- Você fala tanto do Malkin. - Para mim é evidente que o sorriso em seu rosto é forçado, com uma mistura de escárnio. Sean só está interessado em falar do que ele gosta e do que o faz feliz, não quero atrapalhar seu momento.

- Malkin é incrível. Ele disse que somos amigos e cunhados. Ele também disse que vai ao meu jogo na próxima semana e vai contar a todo mundo que somos uma família.

- Você terá um jogo? Quando?

- Na sexta, lá na escola. Vai começar às oito, mas eu preciso estar lá mais cedo porque vou jogar e os jogadores se apresentam antes.

Graças ao bom Deus a conversa não se entendeu muito depois disso.  A comida chegou e todos nos ocupamos em comer. Nosso pai me lançou alguns olhares indagativos e os ignorei com maestria. Comemos todos em silêncio, escutando o cantarolar de Sean enquanto aproveitava seu milkshake. Em dias normais eu nunca o deixaria comer esse tipo de coisa a essa hora, mas todos precisamos de um incentivo hoje. Assim que meu irmão acabou sua comida e nosso pai não fez qualquer movimento para continuar a conversa, paguei o que comemos, nos despedimos e voltamos para casa.

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