Capítulo 15

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JOE MALKIN

- Oh, meu Deus! - Kim luta para controlar uma risada alta sem espirrar bebida em todas as direções possíveis.

- Aconteceu exatamente assim. - Sorrio ao pegar minha própria cerveja para tomar um gole.

- Okay, agora é sério. - Dá alguns tapinhas no próprio peito e arranha a garganta tentando recuperar a voz - Como foi parar na liga profissional?

- Eu estava na faculdade indeciso sobre o meu futuro. Não sabia se seguiria para o draft da liga profissional ou se pegaria meu diploma e procuraria um emprego na área.

- Você é formado em que?

- Química. Pensei em conseguir um emprego na Indústria ou lecionar em alguma escola, mas mudei de ideia e não me via satisfeito se seguisse esse caminho. - Como uma batata frita antes de prosseguir - Eu era um garoto pobre, filho de um operário de máquinas e uma dona de casa, foi um milagre conseguir uma bolsa para jogar na faculdade. Vivi para o hóquei desde que me lembro e não me perdoaria se simplesmente abandonasse esse grande sonho por medo de tentar.

- De onde você é?

- Essa é a parte interessante. Quer tentar o chute?

- Você não tem sotaque como aquele outro cara... Smith, eu acho.

- Exato.

- Então você não é do sul?

- Não.

- Leste?

- Não.

- Eu sou péssima com adivinhações. Tenha compaixão de mim e conte.

- Sou de uma cidadezinha perto de Baltimore.

- Você é de Washington?! - Surpresa domina seu rosto. Kim pode não entender sobre o esporte, mas aparentemente não é tão alheia assim.

- Nascido e criado.

- O time de Washington não é inimigo mortal do Emperors?

- Sim, uma piada maldosa do destino.

- Nunca pensou em ir para o Capitals?

- No início eu pensava nessa possibilidade, mas então Philadelphia foi o único time a me dar oportunidade no draft e minha mente mudou. Quase não fui escolhido para a liga, praticamente todos os times de dispensaram e foquei em me tornar um dos melhores no que fazia.

- Philadelphia para Missoula é  muito chão de distância.

- O Emperors fez uma oferta que eu não poderia recusar. Estudei muito a proposta e o time antes de tomar minha decisão, conversei com pessoas de confiança e percebi que tinha mais a contribuir para o Emperors que continuar na Philadelphia. Os Flyers são ótimos e me deram a grande oportunidade, mas eu sabia que uma hora eles encontrariam alguém que considerassem mais promissor e se livrariam de mim. Ser uma agente livre na liga profissional é perigoso porque os times não te dão tanta importância assim.

- Wow, você realmente pensou em tudo.

- Como eu disse, fui um garoto pobre do subúrbio. Aprendi cedo a ser responsável e fazer planejamentos. Os gastos de casa eram contabilizados até os centavos.

- Foi por isso que disse se identificar com Sean?

- Meus primeiros equipamentos eram caseiros. Pedaços de madeira que eu encontrasse em alguma construção eu levava para casa e o transformava em um taco, bolinhas eram meus discos e o gol era um amontoado de plástico amarrado com barbante.

- Vejo que você sempre foi muito esforçado.

- Não havia outra opção se eu quisesse jogar de verdade. Trabalhei um verão inteiro como entregador de jornal, cortador de grama, passeador de cachorro e tudo que um garoto de treze anos pudesse encontrar de contratação para juntar dinheiro. Meu primeiro kit de verdade foi o mais especial. Até hoje guardo meu primeiro taco, ele está pendurado como um quadro no corredor de casa.

- Mesmo? Eu não notei.

- Está partido ao meio, resultado de uma disputa pelo disco no meio de uma partida, mas ele é meu maior troféu.

Quando minha mente foge das lembranças e retorna para o presente, encontro Kim me olhando deslumbrada, com o cotovelo apoiado na mesa e o punho fechado servindo de encosto para o queixo. Um sorriso tímido aparece em seu rosto e me sinto tímido.

- Você parece bom demais para ser verdade, Joseph.

- O que quer dizer?

- Nada. - Balança a cabeça e noto como ela luta para segurar um sorriso. As maçãs de seu rosto ficam proeminente e avermelham um pouco, ela fica linda assim - Então você é formando em Química, hein? Nunca imaginei.

- É do tipo que acredita que os atletas são burros? - Tento soar ofendido - Pois saiba que é preciso ter um ótimo histórico para conseguir se manter no time.

- Não é como eu me lembro dos atletas da escola.

- Na faculdade é diferente e devo dizer que conciliar treinos, jogos e trabalhos era muito difícil.

- Por que química?

- Além de hóquei, química era a única disciplina que me interessava na escola. Pura lógica e faz sentido para mim. As reações acontecem por um motivo, nada é por acaso quando se trata de química. Sempre há uma explicação.

- Não consigo te imaginar como um químico, desculpe.

- Isso é por que você... - Aponto uma batata frita para ela em acusação - ... tem preconceito contra atletas. Somos muito inteligentes.

- Se você fosse meu professor de química na escola, eu certamente teria me dedicado um pouco mais.

- Então eu estaria interessado em minha aluna hipotética e teríamos um grande problema.

- Não tenho mais idade para estar na escola.

- E, pela matemática, eu não seria seu professor.

- Uma pena. - Dá de ombros.

- Está fantasiando comigo, senhorita Baldrick?

- Seria errado?

- Não. Longe de mim condenar a fantasia de uma senhorita.

- Professor de química... Soa interessante. Consigo te imaginar com uma roupa social e um óculos de grau quadradinho.

- Essa possibilidade não pode acontecer. Mantenha sua visão no atleta. É minha vida pelas próximas seis temporadas.

- Pretende trocar de time?

- Pretendo me aposentar. - Solto uma pequena risada ante a sua expressão de choque.

- Você não é muito novo para a aposentadoria?

- Com trinta? Ninguém consegue durar muito em um esporte de tanto contato. Hóquei sempre tem batidas e briga. Você está sempre em alta velocidade e se chocando contra alguma coisa, seja a parede de proteção ou outro jogador.

- Você teve algum problema de saúde por conta das pancadas?

- Felizmente não. Já me considero sortudo o suficiente por ter mantido meus dentes. Eu sei que você não assiste hóquei, mas se assistisse notaria a quantidade de jogadores que não se dão ao trabalho de repor os dentes perdidos.

- Por que não?

- Por que repor um dentes que pode ser arrancado outra vez? Se você está sempre brigando e batendo o rosto, não há implante que se mantenha.

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