Capítulo 14

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KIM BALDRICK

- Okay. - Passo a mão por sua blusa, tirando qualquer amasso ou sujeira que eu não tenha visto - Se comporte, divirta-se e qualquer coisa me ligue. Você sabe as regras, é um garoto grande e vai cumprir tudo o que combinamos, certo?

- Eu já sei as regras, Kim. - Sean solta uma bufada aborrecida quando escovo seus cabelos rebeldes com os dedos - Não se preocupe.

- Eu te amo, okay? - O puxo para um abraço apertado e um beijo estalado em sua cabeça - Me ligue. Eu volto mais tarde.

- Eu também te amo. - Seu abraço é rápido e sinto meu coração apertar quando ele se afasta. Logan e Sophia estão parados na porta do prédio nos olhando e posso sentir o foco de Joseph sobre nós.

- Nós vamos cuidar bem dele. - Soph garanta ao se aproximar quando fico de pé.

- Vocês têm meu número?

- Sim, tenho salvo no celular. Não se preocupe. - Seu sorriso é doce e tranquilizador. Minhas mãos estão frias e entrelaço meus dedos na tentativa de controlar o impulso de puxar Sean de volta para debaixo da minha asa.

- Nós vamos nos divertir hoje. - Logan me dá um meio sorriso. Ele é bonito, mas nem de longe tem o mesmo efeito que Joseph tem sobre mim - Certo, campeão?

- Temos muita pizza esperando por nós lá em cima. - Soph fala a palavra mágica e Sean está praticamente correndo para dentro do prédio.

Sinto Joseph se aproximar de mim. Ele não está me tocando, mas sua presença é impossível de perceber atrás de mim. Um pensamento maluco passa por minha cabeça de me encostar contra seu peito, mas isso seria uma loucura e trato de desviar minha atenção disso.

- Nós voltaremos em algumas horas. - Joseph fala.

- Não tenham pressa. - Logan responde ao passar o braço sobre os ombros de Soph - Vamos nos divertir muito hoje.

- Obrigada mais uma vez. - Minha voz soa chorosa. Felizmente isso não parece incomodar o casal.

- Aproveitem o passeio e não se preocupem conosco. - Soph nos lança uma piscadela e os três caminham para dentro do prédio.

- Eles vão cuidar bem do seu irmão. - Joseph fala enquanto caminhamos de volta para seu carro.

- Eu sei que parece um tanto dramático, mas nunca nos separamos dessa forma. O tempo máximo é enquanto ele está na escola e eu no trabalho.

- Nunca se separaram? - Questiona ao abrir a porta do carro para mim. Um cavalheiro.

- Não, quando Sean nasceu eu saía de casa o mais próximo possível do início das aulas e corria de volta assim que acabava. Não queria que minha mãe fizesse alguma besteira.

Joseph fecha a porta e o observo dar a volta no carro para ocupar o banco do motorista. Talvez não seja o melhor tema para se abordar em um encontro, mas se Malkin quer mesmo nos ajudar, é justo que ele saiba a história. Isso pode ajudá-lo a compreender minha superproteção com Sean e meu esforço em mantê-lo o mais inocente possível sobre nossa situação real.

- Deve ter sido difícil.

- Definitivamente não foi fácil, mas não quero estragar nosso encontro. Quer mesmo ouvir a história?

- Se eu quiser te conhecer melhor, preciso saber tudo sobre você. - Dá de ombros e sai com o carro para a via principal - Garanto que não é a história sobre o seu passado que acabaria com nosso encontro. Se estiver à vontade para contar, derrame.

- Meu pai nos trocou por uma nova esposa, uma mais jovem e mais bonita, aquilo acabou com a minha mãe e ela acabou desenvolvendo problemas com álcool. Como se já não fosse problema o suficiente, ela descobriu que estava grávida algum tempo depois. Meu pai só tinha olhos para a nova esposa e não se interessava por nós ou pelo bebê. Ele nunca se importou.

- Jesus, Kim. Eu nunca imaginei.

- Devo continuar? A história não fica mais bonita.

- Se não te fizer mal. Eu já disse, quero conhecer você.

Solto um longo suspiro e cruzo os braços antes de prosseguir. É estranho compartilhar isso com alguém, guardei tudo para mim e o máximo que fiz foi ensaiar maneiras mais brandas de contar a história para Sean no dia que ele me perguntar sobre nosso passado. Eu não quero que ele sofra.

- Sean foi um acidente que meus pais não esperavam. Meu pai apenas o ignorou e minha mãe fingiu que ele não existia. Confesso que no começo ela tentou ser uma boa mãe, lutou para largar o álcool e fazer tudo corretamente, mas quando ela soube que meu pai estava dando uma vida de rainha para a nova esposa... Aquilo acabou com ela e tudo desandou. Quando Sean nasceu ela não o amamentava, não o trocava, não o banhava e estava sempre reclamando dos choros dele. Ela não foi diagnosticada, mas tenho quase certeza que teve uma depressão profunda. Ela apenas nos deixou à própria sorte. Sean pode ser meu irmão de sangue, mas ele é como um filho. Eu passei as noites em claro cuidando dele, eu esperei que estivesse maiorzinho para conseguir um trabalho e nos sustentar, eu cuido dele e o eduquei. Sean é meu filho.

- Eu não ousaria questionar isso. Basta olhar para ver como ama e se preocupa com seu irmão.

- Obrigada.

- E sua mãe? O que aconteceu com ela?

- Um dia eu cheguei do trabalho e ela estava caída na cama com uma garrafa vazia de vodka barata no chão e um vidro de comprimidos na mesa de cabeceira. Sean não lembra muito dela, já que costumava estar sempre trancada no quarto bebendo, reclamando do nosso pai e se afundando na própria desgraça.

- Eu lamento por isso.

- Eu também, mas tenho uma veia egoísta. Não posso dizer que lamento demais quando lembro a maneira como ela rejeito Sean. Eu saía mais tarde e chegava mais cedo porque tinha medo de ela fazer alguma besteira enquanto estivesse na escola. Não permitirei que Sean sofra mais. Ele passou por muita coisa nos primeiros anos de vida e é meu dever garantir a felicidade e a realização do meu irmão. Essa é minha missão de vida.

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