Capítulo 34

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KIM BALDRICK

- Wow, isso que eu chamo de dia agitado. - Kelly se acomoda em sua poltrona com sua típica caneca de chocolate quente nas mãos - Apesar do seu pai ser um grande idiota, estou feliz por você e Malkin. Quero dizer, você está vivendo o que todas as leitoras de romance sonham. Praticamente encontrou seu final feliz.

- Não existem finais felizes.

- Bem, eu digo que existe. A parte difícil é manter o relacionamento parceiro e especial, é claro que nada é plenamente feliz, mas estou disposta a arriscar.

- Então por que continua trancafiada nessa loja?

- Quando você virou uma amiga tão malvada? - Fez um bico muito fofo. Kelly é uma pessoa singular, qualquer um se apaixonaria tão facilmente por ela e ela está sempre sonhando em encontrar seu príncipe encantado. Não sei como ela pode se manter trancafiada aqui quando diz ter conhecido o amor de sua vida - Eu vou te perdoar por que estou feliz com a sua felicidade. Apesar do inconveniente que seu pai representa no momento.

- Estou torcendo por você também, Kelly. Espero que consiga resolver sua situação logo. Você é uma mulher especial e merece ser muito feliz.

- Eu gostaria de ser uma mulher mais corajosa. - Solta um suspiro dramático e bebe mais um pouco de seu chocolate.

- Não precisa ser tão difícil assim, você sabe. Você pode procurar seu príncipe encantado misterioso e ver o que acontece. Não é possível que você tenha fantasiado todos aqueles sentimentos fortes, esse tipo de coisa não é unilateral.

- Não acho que tenha sido unilateral e por mais que eu sonhe em viver todo o romance que fantasio na minha cabeça, tenho medo de reencontrá-lo e todos os sentimentos desaparecessem ou esfriassem.

- Ou você encontrará seu grande amor, os sentimentos estarão tão intensos ou mais que antes. Não pensa em ter um homem bom ao seu lado para apoiá-la e protegê-la?

- Gosto de sonhar, mas não quero me decepcionar.

- Nunca pensei que encontraria alguém em meio a tanto caos na minha vida. Mal me fez ver as coisas de sob uma perspectiva diferente e sinto que posso lidar com qualquer coisa agora. Aquele homem vasculhou a cidade por uma hora atrás de mim, se sentou comigo em um banco frio do parque, ouviu meus problemas e inseguranças e não me julgou. Pelo contrário, Mal disse que me ama e agora está me incentivando a retomar minha vida com uma proposta boa demais para ser verdade.

- Como assim?

- Mal disse que eu posso retomar meus estudos e focar apenas nisso. Posso virar uma advogada, um sonho bobo de infância e me garantiu que cuidaria de Sean e eu agora. Que não precisamos mais nos preocupar com nada. Sinto que estou sonhando e não quer acordar.

- Você encontrou o homem dos sonhos.

- Sim. Ontem à noite, quando nos deitamos para dormir, Mal sugeriu que eu tivesse minha habilitação e um carro para poder ir às aulas da faculdade e levar Sean pela cidade quando precisasse.

- Ele está mesmo disposto a te ajudar na retomada de sua vida. Deveria aproveitar, Kim.

- Ainda é tudo muito novo para mim.

Curiosamente, olho para fora pelas enormes vidraças da loja e vejo meu pai caminhando do outro lado da rua. Imaginei que ele passaria por aqui hoje, por isso vim. Se ele está mesmo disposto a falar comigo, tentaria um encontro novamente. Não quero contato com ele, porém pensei por muito tempo durante a madrugada - o que foi curioso porque o leve ronco de Mal foi, de alguma forma, reconfortante para meus pensamentos tórridos - e concluí que Sean merece encontrá-lo. Não que o homem mereça, ele nunca fez por onde.

Todavia, quando meu irmão estiver maior, não o quero pensando que o privei de conhecer nosso único progenitor vivo. Sei que em algum momento Sean terá de conhecer a história real, mas então será decisão dele odiar nosso pai ou não.

- É ele?

- O que? - Olho para Kelly e a encontro olhando para o vidro também.

- Ele é o seu pai?

- Sim, como sabe?

- Você tem uma expressão engraçada no rosto. Uma mistura de mágoa e desprezo que é realmente interessante de ver.

- Quando você virou uma amiga tão cruel? - Arqueio uma sobrancelha para ela, conseguindo uma risada como resposta. Me levanto da poltrona com um sorriso de desculpa no rosto - Eu preciso ir. Nos vemos depois?

- É claro. Me mantenha atualizada sobre as fofocas.

Sorrio para ela e corro para fora da loja. Atravesso a rua e me apresso em alcançá-lo. O mesmo bolo de desconforto que senti essa manhã está em minha garganta. Não quero falar com ele. Sendo sincera gostaria de ficar longe desse homem o máximo possível. A fala de Mal ecoa em minha mente. Nós somos um pacote. Ele pode ter sido um marido negligente, um péssimo pai e um ser humano de caráter - no mínimo - questionável, mas se quer limpar um pouco do peso em sua consciência antes de morrer, deve ter em mente que não pode simplesmente falar comigo. Somos meu irmão e eu. É assim que as coisas são. Meu namorado nos aceitou assim, se esse homem não aceitar é um problema dele.

- Senhor Baldrick!

Meu pai interrompe sua caminhada e se vira para mim. Com ele de pé o choque é muito maior que ontem. Eu me lembrava dele muito mais alto, mais jovem e com um sorriso fácil no rosto. Seu rosto está magro, seus cabelos grisalhos e ele parece ter perdido metros comparado ao homem das minhas lembranças. Talvez seja a perspectiva mais baixa de uma criança... Memórias não são confiáveis.

- Kimberly. - Um pequeno sorriso aparece em seu rosto e meu desconforto apenas aumenta - Eu estava indo procurá-la.

- Não vai me encontrar lá. Eu perdi meu emprego.

- Por ontem? Eu lamento.

- Você nã... - Foco, Kimberly! Não precisa estender isso mais que o necessário - Vim esclarecer um ponto. Você quer conversar? Certo, podemos conversar, mas não é comigo que você falará. É com Sean. Você errou como um pai para mim, mas tem a chance de marcar a vida de Sean positivamente agora. Não ligo para o que você faz ou está fazendo, mas tudo o que você fará com o meu garoto é importante agora. Não estrague tudo.

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