Apenas uma Chance - Os Jogadores #1

Capítulo 13

JOE MALKIN

- Smith, cara, você precisa sair. - Kane desata os laços de seus patins com os olhos grudados em Smith que, para variar, está com aquela expressão rabugenta no rosto - Vai acabar enlouquecendo se continuar isolado naquele fim de mundo.

- Nunca considerou que talvez eu queria estar isolado ali? - Smith retira o uniforme, deixando todos os equipamentos e pele à vista -  Eu tenho coisas a fazer. Uma vida para viver.

- Que vida?

- Ir para festas de segunda a segunda não é uma vida também, cara. - Fleury retira seu enorme capacete de goleiro antes de despencar no banco em frente ao seu armário - Você deveria encontrar um meio-termo.

- Vocês estão loucos. - Kane balança a cabeça, erguendo os braços para flexionar os bíceps - Essas belezas devem ser exibidas por aí. Não passo horas trabalhando nesse corpinho para ele ficar aprisionado em casa.

- Você é deprimente. - Downing ri e lança uma blusa qualquer no rosto de Kane.

- Vocês são invejosos. Não há boceta nesse mundo que me faça ficar em casa. Gosto muito da minha liberdade, obrigado.

- Se você diz. - Downing dá de ombros - Mas me sinto na obrigação de dizer que passar as noites com a pessoa que você gosta compensa muito mais que uma transa rápida com uma desconhecida.

- E é assim que o mais novo do grupo parece ter mais cérebro que você. - Smtih abre um meio sorriso para Kane, que apenas revira os olhos.

- Onde está o garoto? - Fleury pergunta enquanto digita algo em seu telefone.

- Sean? Está no gelo, tendo alguns minutos com a equipe técnica.

- Droga, o garoto realmente conquistou a todos por aqui. - Kane balança a cabeça, retirando os muitos protetores de si.

- Ele não ficará por muito mais tempo. Sean volta para a escola na segunda-feira e nossos treinos seguirão normalmente.

- Você foi esperto em trazer um garoto fascinado pelo treinador. - Downing termina de tirar os equipamentos térmicos e pega uma toalha - Nunca vi aquele homem tão estufado de orgulho. Juro que até vi um quase sorriso.

Abro um singelo sorriso. De fato Sean conseguiu conquistar a todos por aqui, mesmo nossa equipe técnica rabugenta, com seu entusiasmo pelo time. Suspeito que nosso treinador principal esteja sonhando com a possibilidade de Sean jogar pelo Emperors no futuro. Esse tipo de investimento não é incomum e o garoto tem habilidade para ir longe, quem sabe conseguir uma bolsa para a faculdade se ele desejar seguir no esporte.

Após um banho rápido e mais uma longa rodada de Kane tentando convencer Smith a sair de seu rancho, volto para a arena procurando por Sean. Vejo o treinador lhe passando algumas instruções e gesticulando na direção do gol. Sean assente e o treinador se afasta para lhe dar espaço.

Sean agarra o taco e dobra os joelhos, toma impulso e começa a manobrar um disco com o taco enquanto patina na direção do gol ganhando velocidade. Aprender a dominar o disco é uma competência básica de qualquer jogador. Por mais que Kim tenha proibido o irmão de jogar no time da escola, lá é o melhor caminho para que ele seja visto pelos olheiros e pelas faculdades. Atletas de alto rendimento recebem investimento desde cedo e uma bolsa de faculdade é uma grande oportunidade para chegar até a liga profissional. Se no meio do caminho Sean decidir que não quer a NHL em seu futuro, ele ainda terá o currículo de uma importante instituição de ensino. Não há como sair perdendo.

Sean desliza para a direita e bate no disco com força. O vulto preto voa pelo gelo até balançar a rede do gol. Ele patina perto da cerca de acrílico até parar ao lado do treinador, tirando uma das luvas e destravando o capacete.

- Foi bem, precisamos trabalhar um pouco mais da sua coordenação motora, mas você teve um notável progresso.

- É meu último dia aqui. - Sean responde com desânimo - Segunda-feira eu volto para a escola e minha irmã não vai me deixar voltar outra vez.

O treinador me lança um olhar inquisidor, quase como se eu fosse um vilão terrível tirando sua futura estrela de suas mãos. Apenas dou de ombros, não sei o que explicar quanto a isso. Me comprometi em ajudar Sean no hóquei, ele ter conquistado todo o time e a equipe técnica foi um efeito inesperado.

- Continuarei treinando coordenação motora com ele. - Tento.

- Faça isso. - O treinador dá um tapinha nas costas de Sean - É bem-vindo para voltar depois, filho. Quero você como um Emperor daqui a alguns anos.

- Sério?! - Os olhos de Sean brilham como duas estrelas - O senhor me quer vestindo a camisa do time?

- Você precisa ser um pouco mais velho para isso, é claro, mas vejo um futuro para você na liga profissional.

- Liga profissional. - Sean repete com puro deslumbre - Jogar na NHL.

Meu peito se aquece. Sean está tendo a oportunidade que a maioria dos garotos apenas sonha. O mais perto que eles podem chegar dos jogadores ou da equipe é nos assistir jogar em dia de treinos abertos e pegar alguns autógrafos. Sean caiu nas graças do grande chefe do Missoula Emperors.

Com as instruções certas e os equipamentos novos, Sean pode ganhar os holofotes do time escolar. Já imagino Kim, protetora e desconfiada, negando a oferta por medo de seu irmão acabar envolvido em outra briga, mas posso minimizar as chances disso acontecer. Garotos estão sempre brigando e fazendo amizades. Algumas ligações e mensagens de texto podem resolver tudo... Eu só preciso convencer a mulher de que isso não será perigoso e que ela pode confiar em mim.

Não estou usando Sean para chegar até ela. Quero ajudá-lo porque ele se parece comigo alguns anos atrás e, infelizmente, eu não tive um padrinho ou algo assim. Meu caminho foi mais complicado e tortuoso. Por um acaso Sean tem uma irmã gata e estou interessado nela, mas a parte difícil será provar que não estou fazendo tudo isso por ele para entrar nas calças dela. Eu estou envelhecendo, já não sou um dos recém-chegados pelo draft no auge da juventude e com o organismo repleto de hormônios. Quero me estabelecer e sossegar, fazer o meu melhor pelo time e esperar até que a aposentadoria bata à minha porta. Talvez o que? Mais umas cinco ou seis temporadas?