Capítulo 16

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KIM BALDRICK

- Isso está maravilhoso! - Pego mais uma colherada de sorvete.

Pensei que Joseph aproveitaria a oportunidade para me levar para casa quando o jantar chegou ao fim, mas não. Ele me trouxe para o principal parque da cidade e nos comprou sorvete com calda de chocolate quente. Agora estamos caminhando a passos lentos e conversando sobre nada em especial. Não basta ser bonito, atlético, atraente, inteligente e bondoso, Joseph Malkin também é um cavalheiro.

- Essa é uma das minhas atividades favoritas desde que me mudei para Missoula. - Fala dando uma colherada em seu próprio sorvete e me sinto hipnotizada pelo movimento.

- Tomar sorvete e caminhar?

- É uma boa oportunidade para relaxar depois de uma semana estressante.

- Cansado de brigar muito no gelo?

- Hóquei vai além disso. Temos ações sociais por todo o estado, fãs especiais são convidados para passar o dia conosco, estamos sempre dando entrevistas e gravando vídeos promocionais para a internet. O time é bem ativo.

- Fãs especiais?

- Fãs com histórias impressionantes ou portadores de necessidades especiais. É uma forma de nos conectarmos com nossa audiência e mostrar que somos gratos por tudo o que fazem por nós. Levamos presentes, os convidados para assistir aos jogos em lugares especiais... Esse tipo de coisa.

- É muito nobre.

- Não tão nobre assim. Esses encontros são gravados para serem postados na internet. Boas ações, ações genuínas, não precisam ser expostas ao público.

- Ao mesmo tempo não é uma maneira de incentivar que os fãs compartilhem suas histórias e mantenham a engrenagem girando? Se os encontros não fossem publicados, as pessoas não se sentiriam motivadas a se envolver mais com o time. Em tudo há pontos positivos e negativos.

- Ser otimista é da sua natureza ou foi uma característica adquirida?

- Prefiro pensar que sou realista. - Dou-lhe um meio sorriso antes de comer um pouco mais - Mas é difícil não ser um pouco otimista quando se tem uma criança em casa. Crianças são fáceis de se chatearem e é bom ter alguém que elas confiem para dizer que está tudo bem e mostrar que pode haver outra saída.

- Você é uma ótima mãe, Kim.

- Eu não diria que ótima, mas dou o meu melhor. Não quero que Sean pense que não pôde viver algo ou que lamente a tragédia que foi o início de sua vida.

- Ele sabe sobre a mãe?

- Eles não convivam muito, apesar de morarem na mesma casa. Não acho que ele lembre muito sobre ela e não, ele não sabe sobre o passado. Tenho praticado nos últimos dez anos em como contar para ele quando chegar a hora. Sean não precisa da história crua e nua.

- E se ele precisar da versão crua? - Joseph havia terminado seu sorvete e jogou a colher e o guardanapo em uma lata de lixo próxima.

- Então saberá que nossa mãe era uma pessoa doente. De muitas maneiras diferentes.

- Saber que ela era doente não alivia o rancor que você guarda dela, não é?

- É complicado. - Respiro profundamente - Eu sei que não era de todo culpa dela, mas ao mesmo tempo penso que ela decidiu tomar o primeiro gole de álcool e o segundo e todos os goles até não ter mais controle sobre isso. Pode ser egoísmo da minha parte, mas sempre me pergunto por que ela não preferiu focar nos filhos e nela mesma. Minha mãe preferiu se afundar na própria tristeza e ressentimento pelo meu pai, ela não se importou que havia um bebê inocente na casa. Um bebê que não tinha culpa pelas ações do meu pai ou pelas escolhas dela.

- Isso não te torna uma péssima filha também. Sabe disso?

- Não tenho tanta certeza. Por mais que eu ame Sean com todo o meu coração, foi impossível não conservar certa mágoa pela minha mãe nesses últimos anos. Ela preferiu acabar com a própria vida a tentar melhorar e pensar nos filhos. Não dizem que o amor de mãe é incondicional?

- Seu amor por Sean tem um limite?

- Não. - Respondo imediatamente.

- Então sim, o amor de mãe é incondicional.

- Sabe que não estou falando sobre mim.

- Se há algo que o hóquei me ensinou é que a mente humana é muito poderosa. Um atleta em perfeito estado físico pode ter sua carreira aniquilada se o psicológico não está bem, assim como um atleta de boa mente pode ganhar uma relevância inimaginável. Sua mãe não estava psicologicamente bem, Kim, mas isso não significa que ela não amava você e seu irmão. Ela não estava bem e se chegou onde chegou é porque já não estava bem antes.

- Esse é um bom ponto de vista.

- Você foi uma criança que precisou amadurecer rápido demais. Não houve alguém para dizer que estava tudo bem e mostrar que poderia haver outra saída.

- Pensei que era formado em química, não em psicologia.

- Você ficaria impressionada com a quantidade de coisas que se podem aprender no vestiário. Caras das mais diversas idades, alguns perto dos trinta querendo se estabelecer e outros jovens querendo aproveitar a vida.

- Deixe-me adivinhar. Você é do grupo perto dos trinta.

- Como sabe?

- Você fala com muita propriedade e maturidade demais para estar no início dos vinte buscando "aproveitar a vida".

- E você?

- Posso ter vinte e cinco, mas definitivamente não estou no momento de festas e farra.

- Você chegou a ter o momento de festas e farra?

- Não. O centro da minha vida é Sean e não me arrependo nem por um segundo das minhas escolhas.

- Você se lembra que tem uma vida também?

- Posso viver depois que garantir o futuro de Sean.

- Aí pode ser tarde demais. Você deveria procurar sua felicidade também, não apenas a do seu irmão.

- Não conheço outro modo de vida, Malkin. Minha mente está sempre trabalhando no que precisa ser feito. Se houvesse algo que pudesse desviar meu foco disso, por dois segundos que fosse, eu aproveitaria, acredite.

- Isso não é difícil. - A próxima coisa que eu percebi é que Malkin estava segurando meu rosto com as duas mãos e que sua boca estava cobrindo a minha. Se eu já não estivesse ferrada antes, eu definitivamente estou agora.

Apenas uma Chance - Os Jogadores #1Onde histórias criam vida. Descubra agora