001-Doces memórias

294 15 5
                                    

Eram quatro da manhã, e lá estava Anne, debruçada à beira da janela, com um pedaço de papel em mãos, em silêncio, para não acordar sua fiel amiga do peito, Diana. As aulas na Queen's college, começariam amanhã, e ela, assim como as outras garotas, deveria estar no meio do sono dos justos, para obter êxito em seu primeiro dia de aula. Mas Anne, não se importava, afinal de contas, ela já não teria tanta preocupação com aquele com qual ela disputara o primeiro lugar da classe nos últimos 4 anos, pois agora ele ocupava um lugar diferente nos pensamentos de Anne. A garota ruiva estava se deleitando nas recentes memórias daquela tarde. Ah, que belas memórias eram essas, mesmo tão recentes, eram carregadas de significados, que Anne levaria para o resto de sua vida. O momento em que descobriu que seus sentimentos por Gilbert Blythe eram correspondidos.

*FLASHBACK*

- Oh, minha doce Anne, diga-me, você realmente sente alguma coisa por mim?- perguntou após um longo beijo que já deveria ter deixado obvio todos os sentimentos da garota.

Anne então fixou seu olhar nos negros e brilhantes olhos do seu amado, e antes mesmo que pudesse recobrar o raciocínio e formular palavras que respondiam aquela óbvia pergunta, ela se atirou em seus braços e o beijou novamente.

Durante aquele beijo, Anne se lembrara de todos os ideais românticos que havia gerado ao longo dos anos, de todas as vezes que imaginava-se cortejada por um lindo rapaz de olhar melancólico e de como nada disso chegava aos pés daquele momento.

*FIM DO FLASHBACK*

Por um momento Anne, sentiu-se insegura com o fato de que Gilbert, agora estaria a caminho de Toronto, para se formar em medicina, mas todas as inseguranças foram embora com o vislumbre das recentes memórias.
Talvez fosse um pouco de ironia do destino, compreender sobre seus sentimentos e escutar sobre os de Gilbert, agora que eles estavam se separando, mas Anne, não se importava, não após saber que Gilbert rompera com Winnyfred Rose, a bela e encantadora, Winnyfred Rose, por amor a ela. Em nenhum momento de sua vida, mesmo com toda a imaginação que tinha, jamais poderia ter imaginado, alguém rompendo um noivado tão vantajoso por amor a ela. Mas já não haviam inseguranças ou dúvidas. Não após ter em mãos a carta de Gilbert, que o mesmo escrevera novamente para que sua amada pudesse lê-la sempre que quisesse recordar-se de seu afeto e devoção.

Anne a abriu novamente, pela oitava vez desde que Gilbert partiu ( a dez horas atrás) e sorriu ao ler seu conteúdo novamente:

Querida Anne,
Agora que estamos nos separando, talvez para sempre, sinto que devo abrir meu coração, você é objeto da minha afeição e do meu desejo, você, e só você, tem a chave do meu coração. Por favor não se assuste, não espero ser correspondido, mas não posso em sã consciência esconder isso. Não vou me casar, e nunca me casarei... Ao menos que seja com você Anne, minha Anne com E, sempre foi e sempre será você.

Anne dobrou a carta e a colocou cuidadosamente na gaveta de sua mesa de cabeceira e deitou-se, com a esperança de sonhar com Gilbert, pois agora sabia, que até os sonhos que eram secretos para ela mesma, poderiam se realizar da maneira mais doce e inimaginável.

O Sono poderia esperar. Ou talvez a pressa de dormir e acordar, pudesse esperar. Pois se aquilo era um sonho, ela jamais iria acordar.

Mas não. Era demasiadamente real. Os vários roxos de beliscões em seu braço direito, que ela mesma se dera desde a tarde daquele dia, provara isso.

Mesmo que só estivesse ali, sentada em sua mais nova e desconhecida cama, em uma casa que não era Green Gables.

Ela ainda poderia sentir a tensão no olhar, e o amor emanando pelo seu Gilbert.

Seu GIlbert.

Não poderia ser um sonho.

Pois nem mesmo os sonhos mais secretos e escondidos no profundo de seus coração e sua mente, poderiam gerar uma sensação tão boa.

Gilbert era seu sonho.
Um sonho realizado.

Seu sonho que completava todos os outros.

Na verdade.

Dormir parecia uma boa ideia agora.

Pois assim, inconsciente.

Ela poderia deixar ainda mais vividas as recentes lembranças de um de seus momentos mais deleitosos.

Seu primeiro beijo.

Quem diria. Ser chamada de cenoura já não parecia-se mais tão ruim assim.
De repente, a lembrança do ocorrido de quatro anos atrás, parecia tão doce, que lhe arrancou um genuíno sorriso.

Depois de perambular por seus pensamentos, ela finalmente adormeceu.

Torcendo para que ela e Gilbert pudessem se encontrar em seus sonhos.

Quando o amor bate a porta Onde histórias criam vida. Descubra agora