003-Cartas, certezas e inseguranças

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Anne ainda estava atordoada com o que aconteceu, mas mesmo assim, sentou-se e começou a escrever uma carta para Gilbert. Afinal de contas, aquele era o momento do dia que ela mais aguardara.

Então, sentou-se em sua pequena escrivaninha, a qual dividia com Diana, pegou sua caneta da duplicidade e começou:

" Querido Gilbert;

Nem acredito que estou lhe escrevendo uma carta, da última vez que escrevi, você não chegou a lê-la, e na vez antes disso, eu havia dito que tinha ouro em Avonlea, se lembra disso?
Como está sendo sua estada em Toronto? Aqui está sendo ótimo, com exceção da única coisa que tornaria este lugar realmente perfeito; você.
Ah querido, como é maravilhoso poder lhe escrever de forma aberta e demonstrando todo o afeto que carrego por você; sei que fazem apenas dois dias, mas sinto como se já estivessemos separados há décadas, mas não acha romântico estarmos nos comunicando por cartas, como faziam Elizabeth Bennet e o senhor Darcy? Não é lindo, estarmos nos esforçando para permanecemos conectados um ao outro? Como se eu realmente precisasse de algum esforço para estar eternamente ligada a você.
Sabe, hoje me aconteceu algo estranho, enquanto Diana e eu andávamos pelo parque da cidade; eu esbarrei em um homem que é exatamente como o príncipe encantado de todos os meus ideais românticos, imagine só! Um cavalheiro alto, lindo, de olhar melancólico, cabelos pretos como corvos, covinhas, e um estonteante sorriso, além de sua visível elegância e sensibilidade, confesso que fiquei extremamente mexida.
Espero que o curso de medicina esteja sendo maravilhoso, e que você esteja feliz.
Com amor;
Anne."

Três dias se passaram desde que Anne enviara a carta, mas nesse tempo Anne, se esbarrou com roy mais quatro vezes, e a cada dia, ele se demonstrava o mais perfeito cavalheiro de toda a história da vida terrena, um verdadeiro príncipe; que ao descobrir onde Anne estava hospedada, lhe mandava violetas todas as manhãs, com cartões repletos de versos escritos por ele mesmo, tudo como Anne sempre sonhara; mas de uma forma estranha, isso só servia para deixar ainda mais óbvios seus sentimentos por aquele, em que dia de aula ela quebrara um lousa em sua cara após ser chamada de cenourinha... e então na quinta feira ela recebeu uma carta de Gilbert:

" Querida Anne;

Fico feliz que esteja gostando de Queen's, e também estou muito feliz aqui em Toronto, o curso de medicina é realmente tudo o que imaginei. M as preciso ir direto ao ponto e fazer-lhe uma pergunta, pois não pousaria minha cabeça em paz a noite se não a fizesse; você sentiu-se atraída por este rapaz? Você o considera, um pretendente melhor do que eu? Acha que seria mais feliz ao lado dele? Acha que estaria melhor? Por favor, peço-lhe somente que seja sincera, pois eu a amo, com toda minha devoção e odiaria em algum momento vê-la infeliz por estar ao meu lado, pois eu te amo o suficiente para deixá-la ir, pois, por mais doloroso que seria, a sua felicidade é tudo o que realmente me importa, não irei ficar zangado, mas por favor diga-me como se sente.
Também sinto sua falta imensamente, espero que mesmo me rejeitando, possamos continuar amigos.
Atenciosamente;
GILBERT."

Todos os dias Roy, esperava Anne sair de casa ou da faculdade para assim, poder acompanhá-la; ele lhe fazia os mais belos e devotos elogios, e deixava bem claro seu interesse e paixão por ela.

Passado-se os dias, o carteiro passou pela manhã, e trouxe consigo as violetas enviadas religiosamente por Roy toda manhã, mas dessa vez além dos poéticos versos escritos por ele, havia uma mensagem escrita no rodapé da folha, onde ele pedia para que Anne se encontrasse com ele no meio da tarde.

- Aí meu Deus, Anne, Royal Gardner, o homem mais cobiçado da cidade quer se encontrar com você! O que você vai vestir?- perguntou Diana animada.- será que ele irá te pedir em casamento? Anne ele disse que tem algo importante para te dizer! - Diana estava realmente eufórica- só pode ser isso Anne, como você é sortuda! Você vai não é?

- Eu não sei...estou confusa.

E antes mesmo que Diana pudesse questionar o motivo, Anne percebeu que ali também havia uma carta de Gilbert, então a pegou rapidamente e começou a ler e em seguida lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, ao ver como magoou Gilbert, descrevendo Roy, como o homem perfeito para ela.
Então rapidamente subiu para o quarto e começou a escrever uma carta em resposta a Gilbert, deixando Diana sem entender nada no andar de baixo.

" Meu querido e amado Gilbert;

Todos os dias Roy me envia poemas e flores pela manhã; ele é o solteiro mais cobiçado e rico de toda a cidade, talvez seja o mais rico de todo o Canadá, e hoje pediu para que eu me encontrasse com ele pois tinha algo de importante para me dizer. Mas eu não irei. Sabe por que? Porque nada disso me importa, e eu lhe peço perdão se o magoei pela forma como o descrevi na minha carta anterior, não queria magoa-lo ou fazê-lo se sentir inferior.
Gilbert, eu te amo, de uma maneira que eu nem sabia que era possível amar alguém. Não, eu não seria feliz ao lado dele, ou de qualquer outro rapaz; pois não me imagino feliz ao lado de qualquer outro que não seja você. Da mesma maneira, que eu não seria feliz sendo apenas sua amiga, pois desejo muito mais que isso.
Confesso-te que por breves momentos, o vislumbre dos meus infantis desejos deixou-me atordoada; mas, isso só serviu para deixar ainda mais explícito tudo o que sinto por você, e digo isso com toda sinceridade do meu coração e da minha alma.
Nunca foi minha intenção deixá-lo triste ou com dúvidas, e espero que nunca possa ficar entre nós, a sombra da dúvida do que sentimos um pelo outro, porque nos amamos e talvez, mesmo com todo estudo e educação que venhamos receber, essa venha ser uma das poucas certezas que teremos na vida, e assim espero que permaneça até o fim dela.
Dona de mim, mas também sua;
Anne".

Anne saiu apressada de seu quarto, com a intenção de enviar aquela carta o mais rápido possível.
Ela decidira, que durante os próximos dias, o melhor seria evitar Royal, pelo menos pelo resto da semana, até que a poeira de toda aquele confusão, se abaixasse.

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