A inauguração da livraria

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O sobradinho antigo pintado de branco com as janelas e portas azuis estava erguido a mais de meio século numa rua comercial, sendo um das residências mais antigas do local.
Ainda carregava em si o aspecto de casa de vó, transmitindo o aconchego para quem entrasse. O quintal era adornado de plantas  diversas e flores perfumadas. As que mais se destacavam eram as roseiras, que embelezavam toda a fachada da casa, dando ao local o carinhoso apelido de o sobradinho das roseiras.
Essa aparência não era fruto do acaso, ali fora durante muitos anos a casa da avó de Helena Dinis. A escritora tinha belas lembranças da época em que avó ainda habitava neste mundo e abria as portas da sua casa para os netinhos se esbaldarem em brincadeiras, carinhos e deliciosas  refeições.
Dona Sílvia falecera há mais de três anos, tempo em que o sobradinho permaneceu vazio de presença humana.
Helena sempre foi uma mulher nómade, não habitava por muito tempo na mesma cidade. Gostava de explorar o mundo em busca de inspiração para a crianção dos seus romances.
Como era muito querida por todos os amigos, Helena decidiu dar uma festa de despedida em sua casa convidando a todos os entes queridos.
Leandro ficou muito feliz pelo convite. Conhecera Helena na faculdade, onde deram início a uma amizade terna, trocando admiração um pelo outro.
Além de amigo, Leandro era fã da escritora, um grande admirador da escrita poética e intrigante de Helena.
Na ocasião especial, Helena, em meio a uma conversa, anunciou que alugaria o sobradinho que fora da sua avó, deixando sob os cuidados da corretora do seu marido.
No mesmo instante, Leandro recordou do local com carinho, sendo transportado para o tempo em que os universitários se encontravam no sobradinho numa daquelas agradáveis reunião de amigos.
A luz de uma boa ideia brilhou em sua mente, pensando em transformar o sobradinho na sua livraria.
Helena aprovou a ideia de imediato, se mostrando empolgada com as explicações de Leandro, de como pretendia decorar o local.
_ Não há mais o que discutir. O sobradinho é seu._ Helena deu o ultimato sorrindo, dando um trago no cigarro._ Mas tem uma condição.
Leandro a olhou interrogativo, mas sorria, sentia que vindo da amiga seria algo bom.
_ Quero que seja na sua livraria o lançamento do meu novo romance.
_ Perfeito! Será uma honra! Você sabe o quanto amo as suas histórias, sou um admirador da sua escrita.
Além da admiração pela amiga, Leandro pensou que esse evento de estreia na sua livraria seria um bom marketing para a sua pequena empresa, já que Helena Dinis era uma escritora consagrada de best sellers.

Leandro quis manter o clima de aconchego no local. Cuidou das plantas para que permanecessem ainda mais lindas e saudáveis, dando vida ao ambiente.
No térreo funcionaria a loja, com estantes simples de madeira parecendo uma biblioteca particular, onde best sellers, clássicos e revistas compartilhavam o mesmo espaço.
A livraria ofereceria aos clientes a opção de comprar livros novos ou usados, além de uma estante exclusiva para vinis, que ficava próxima a uma vitrola dos anos 1920 como decoração. O objeto pertenceu aos antepassados de Leandro que ficou  guardado por muitos anos  na casa de Angela.
Nas paredes, Leandro pendurou emoldurados os seus desenhos realistas com referências literárias de personagens de clássicos e autores consagrados.
Poltronas vintages e confortáveis foram postas perto das estantes, para aqueles clientes que gostam de curtir uma boa leitura numa livraria.
O espaço infantil não foi negligenciado. Oferecia diversos livros interativos e brinquedos com referências dos livros.
No segundo andar se tornou um escritório e o estoque da livraria.
Como as roseiras eram a referência do sobradinho, Leandro decidiu as homenagear, nomeando a loja de Livraria das roseiras.
Ele ainda não tinha poder aquisitivo o suficiente para contratar muitos funcionários, contava apenas pelos serviços prestados pela ex funcionária e atual amiga Patrícia.

Vanessa estava empolgada com a nova fase do pai. Estava tão feliz que insistiu para que pudesse contribuir de alguma forma.
Leandro a amava tanto que não resistiu a aqueles pedidos carinhosos.
_ Quero ficar responsável pelo marketing da livraria... já tenho ótimas ideias.
_ Sério?! E posso saber o que se passa dentro desta cabecinha linda?_ Leandro perguntou sorrindo, tocando na testa dela com a ponta do dedo indicador.
_ Como o evento de estreia será a tarde de autógrafos da Helena Dinis, penso em convidar alguns booktubers e bookinstagranrs . Eles podem divulgar o evento em seus canais ou perfis.  Isso seria um bafo, pai. Muitos leitores conheceriam a livraria.
_ Hum! Até que você não é fraca, moleca._ Valéria exclamou. Presunçosa, Vanessa piscou para ela.
_ A ideia é boa, mas nós não temos dinheiro para pagar essas pessoas.
_ Não se preocupe com isso, pai. Deixe comigo.
_ Nem pensar. Não quero meter o dinheiro do Júlio nisso.
_ Não é o dinheiro do meu pai! É meu. Se ele me deu é meu._ Vanessa respondeu irritada.
_ Mesmo assim. O dinheiro veio dele.
_ Deixe de ser idiota, Leandro! A Vanessa tem razão. Se o demônio transferiu o dinheiro para ela, logo é dela. E não importa se vem dele ou não... aliás você deveria encarar como indenização por todo o mal que ele te fez.
_ Mas...
_ Mas nada, pai. São duas contra um, você perdeu.
_ Então, tá bom... né. Quem sou eu para discutir com esses dois furações?
_ We are powerful women. (Nós somos mulheres poderosas).
Leandro respondeu com um sorriso. Estava tão feliz com a nova fase. Para ele gratificante que estava tendo uma boa relação com o maior da sua vida. Vanessa não acreditava mais nas mentiras que Júlio contava a seu respeito, e estava mais amável com ele.
_ Hoje eu já disse que te amo?
_ Umas dez vezes.
_ Vai a décima primera vez. Eu te amo, princesa.
Ele a abraçou e a encheu de beijos pela face.

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