A carta

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Algumas semanas depois...

Abner se agarrava aos lençóis, mordia a fronha do travesseiro para conter os gritos de ódio. Estava nu sobre a cama, deitado de bruços, sentindo as estocadas de Júlio cada vez mais violentas. As potências nas metidas faziam a cama tremer.
_ Rabo gostoso do caralho! Uma delícia pra meter!_ Júlio dizia rouco, beijando o pescoço do amante.
Gruniu como um animal, depositando todo o gozo no ânus de Abner.
Saiu de cima, deixando Abner mais aliviado por finalmente ter terminado.
Com raiva, Abner não conseguiu se mexer. Seguia olhando para a parede, amargurando todo o ódio que carregava no coração.
Ainda nu, Júlio acendeu um cigarro. Abriu a carteira e jogou algumas notas de cem reais em cima do amante. Internamente, adorava alimentar o ego com o fato de poder comprar um corpo para satisfaze-lo.
_ Esse não é o valor combinado._ Abner disse entre os dentes, contando as notas.
_ Vou te pagar semanalmente. E também vai depender da sua performance. Ultimamente, você não anda muito empolgado. Você já foi melhor, bebê.
Júlio sentou na beira da cama e olhou para a tela do celular.
_ Tenho que ir. Vou aproveitar o dia ensolarado para fazer uma surpresa para o meu marido e a minha filha e levar os dois para almoçar num restaurante japonês.
_Que lindo! Vão almoçar como uma linda família feliz! Isso é tão patético!
Júlio sorriu, tentou beijar Abner, mas ele desviou o rosto.
_Não precisa ter ciúmes de mim, bebê. Tem piroca pra todo mundo.
_ Deixa de ser ridículo! Eu? Com ciúmes de você?!
_ Eu tenho que ir. Até a semana. Espero que esteja mais animadinho._ disse Júlio, dando um tapa na bunda de Abner.



Júlio chegou em casa louco para ver o marido. Ainda tinha esperanças de ter algum tipo de reconciliação. Comprou para presentea-lo o seu perfume favorito.
Foi direto  para o quarto e não o encontrou. Percorreu toda a casa a sua procura, mas não o encontrou. Pensou na possibilidade de Leandro estar com o amante e ficou possesso de ódio.
Chegou na sala correndo as escadas e encontrou Vanessa sentada no sofá, tomando um sorvete de morango com frutas vermelhas, gargalhando com o vídeo do Whindersson Nunes que assistia na TV.
_ Cadê o seu pai, Vanessa?
_ Eu sei lá._ Vanessa respondeu encolhendo os ombros sem olhar para ele.
_ Como assim não sabe?!_ o tom de voz de Júlio era áspero.
_ Se você que é o homem dele não sabe, eu que vou saber?
_ Não tô gostando do teu tom, garota!_ o grito de Júlio a assustou. Se retirou, subindo as escadas.
Patrícia entrou na sala portando uma vassoura. Tinha a expressão assustada.
_ O que deu nele?
_ Falta de sexo, Patrícia. Se ele tivesse transando não estaria assim. Veja eu mesma estou feliz, felizinha.
Patrícia balançou a cabeça negativamente.

Leandro entrou sorridente no escritório de Valéria balançando um molho de chaves.
_ Bichaaaaaaa! Olha isto.
_ O que é isso, bijuzinho?
_ São as chaves do meu apê.
_ Como assim?!_ Valéria perguntou com uma expressão de espanto.
_ Eu vendi o carro que o Júlio me deu. Com a grana, dei entrada no financiamento em um pequeno apartamento. Não é nada luxuoso. Fica num subúrbio, mas é só meu! Meu, amigaaaaaa! É um grande passo para a minha liberdade!
_ Aaaaaaa! Que tudooooo, amigooooo!
Valéria levantou correndo e se atirou nos braços de Leandro, o abraçando, encaixou as pernas nos quadris do amigo.
_ Por que você não me contou nada que estava comprando apartamento, filho da puta?_ Valéria perguntou, batendo em seu braço._ Não confia mais em mim?
_ Confio e muito.  Mas conforme eu prometi, eu vou me libertar do Júlio sem te envolver.
_ Tá! Mas já que já está com as chaves do apartamento, já pode se mudar né?
_ Ainda não. O apartamento ainda tá vazio. Eu vendi alguns objetos de valor, além do carro, para investir na compra do imóvel. Tô sem grana para nada.
_ Eu te empresto.
_ Obrigado, amiga. Mas eu preciso encontrar um emprego. Eu preciso ter uma casa e uma fonte de renda para poder competir com o Júlio pela guarda da Vanessa.
_ Leandro, eu já falei que te contrato!
_ Eu tenho planos. Já saiu o edital para o concurso no banco do Brasil. Eu vou prestar e vou passar. Terei uma renda fixa. Um emprego seguro. Vou poder oferecer estabilidade a minha filha.
_ Você é inteligente e dedicado. Com certeza vai passar no concurso. Mas se não passar?
_ Eu também estou procurando emprego. Já distribui  currículos em algumas empresas e procurei algumas agências de emprego mas até agora nada. Eu tô atirando para tudo quanto é lado, uma hora eu acerto em algum alvo.
_ Vai sim. Eu não vejo a hora de te ver livre. Mas quero te ajudar, porra!
_ Já me ajuda muito com o apoio. E além disso, eu vou aceitar sim a sua ajuda para arcar com a advogada. Mas ninguém precisa ficar sabendo. Assim o Júlio não te prejudica.
_ Eu tô pouco me fodendo pra Júlio. Vou pagar a advogada com muito gosto. Para arcar com os processos da guarda da chatinha e com o seu divórcio.
_ Obrigado, amiga. Você é o meu anjo da guarda.
Leandro a abraçou, grato. E ela feliz, esperançosa pela felicidade do amigo.
_ Então, você tá muito atarefada?_ Leandro perguntou sorrindo, segurando as mãos da amiga.
_ Um pouco. Por quê?
_ Eu gostaria de passar a tarde contigo. Nós poderíamos almoçar juntos, aí eu te levava para conhecer o apartamento.
_ Com toda certeza. Vou mandar a Roberta cancelar todos os meus compromissos. Você é a minha prioridade.


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