Doce fevereiro

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Valéria aguardava por Leandro no restaurante do aeroporto, este era exclusivo dos clientes da primeira classe.
Antes de se sentar á mesa, mandou uma mensagem para o amigo perguntando se ele estava a caminho e teve uma resposta positiva. Leandro disse que estava chegando num táxi.
Enquanto aguardava, Valéria pediu duas latas de Coca cola zero,  dois hambúrgueres e duas porções de batatas fritas.
Não tocou no lanche até avistar Leandro se aproximando da sua mesa, trazendo a bagagem e usando óculos escuros.
_ Uh, é! Por que está usando óculos dentro do aeroporto? Não vai me dizer que pegou conjuntivite.
Leandro sentou ao seu lado e retirou os óculos, revelando os olhos vermelhos e inchados.
_ Amigo, você tá chorando?! O que aconteceu?
_ Eu odeio chorar! Odeio!
Leandro relatou a briga que teve em casa. Narrava pausadamente para não chorar novamente.
_ A minha sorte é que tinha alguns trocados na minha carteira e pude pagar o táxi.
_ Ele não tinha o direito de fazer isso contigo! Você é marido dele! Tem os seus direitos!
_ Eu me senti muito humilhado. Muito mesmo. Amiga, foi horrível! Eu nunca mais quero depender do Júlio pra nada. Você vai ver. Eu vou me estabilizar financeiramente. Vou chegar a um ponto que não vou precisar do dinheiro do Júlio pra nada. Nunca mais eu vou passar por isso de novo.
_ Você sabe que não precisa dele. Você tem a mim, Leandro! Pode ficar na minha casa e trabalhar pra mim.
_ Eu só vim porque achei que foi muito desaforo! Porra! Eu não fiz nada de errado! Deixei a casa toda cuidada, organizei tudo direitinho e é assim que sou tratado?! Júlio sempre me sacaneou nos carnavais. Eu ainda fui honesto de informar sobre a minha viagem. Já ele não, só saía porta a fora, desligava a porra do telefone e só dava as caras uma semana depois. Eu não achei justo ceder a vontade dele.
_ Você fez muito bem. Fez muito bem mesmo._ Valéria estava tão revoltada, que mordeu o sanduíche com raiva._ Que ódio desse filho da puta!_ disse com a boca cheia.
_ Amiga, eu não tenho um real para gastar em Maceió. Se você quiser, segue viagem sem mim. Eu vou me acalmar e ver o que vou fazer...voltar para a casa eu não volto. Se não for abusar demais, você pode me emprestar as chaves da sua casa? Eu fico quieto lá e...
_ Cala a boca, Leandro! Que mané ficar na minha casa. Você vai viajar comigo e ponto final. Não se preocupe com as despesas da viagem. Para de palhaçada!
"E outra, você tem que aceitar a minha ajuda! Caso contrário, vai ficar o resto da vida naquele inferno."
_ Eu não quero te envolver mais. Eu conheço o Júlio. Ele já me ameaçou te prejudicar caso você me ajude. Eu não vou deixar que você saia prejudicada.
_ Eu quero que o Júlio vá pra puta que pariu! Eu não tenho medo dele! Leandro, para pra raciocinar um pouquinho. Pensa só. Quando você der entrada no divórcio, Júlio não vai reagir bem. Ele vai procurar te coagir de todas as formas. Vai pisar onde mais te dói: a chata da sua filha. Ele vai querer te proibir de ver a garota.
_ Ele não pode fazer isso! Eu sou tão pai dela quanto ele. Também tenho os meus direitos.
_ Leandro, você tem noção que vai travar uma briga judicial com um dos advogados mais importantes advogados do Brasil? Quantas causas o seu marido já perdeu? Pouquissimas! Você tem noção que a equipe jurídica dele é um time peso pesado?
"Como você pretende lutar pela guarda da Vanessa com o advogado Júlio Medeiros tendo um defensor público ou um advogadozinho porta de cadeia? Porque é isso que você poderá pagar."
Leandro sentiu o pavor perturbar o seu coração. Não havia parado para pensar nessa possibilidade.
_ Eu não posso perder a minha filha.
_ Se continuar com esse orgulho vai perder. E não será só a guarda. Júlio vai fazer a cabeça daquela menina contra você e ela vai te odiar.
_ Valéria, você não está ajudando.
_ Mas posso ajudar e muito. Me deixe pagar a advogada. Ela não é tão renomada quanto o seu marido, mas está um pouco a altura.
_ Ai meu deus!_ as lágrimas já se formavam nos olhos de Leandro.
_ Ei! Nem pensa em chorar! Parece até homem hétero recebendo crítica. Gente como nós temos que erguer a cabeça para lutar contra as batalhas da vida. Você não é mulher, mas lute como uma.
_ Tá bom. Eu aceito a advogada.
_ Ótimo! Assim que voltarmos vou procurá-la. Ela vai te orientar a cerca do divórcio e da guarda da chatinha.
_ Não fale assim dela.
_ Toma. Coma._ Valéria esticou a cestinha com o sanduíche e as batatas fritas.
_ Ah, Val, eu não posso comer isso a esta hora da manhã.
_ Ah, deixa de ser tão certinho, Veado. Relaxa pelo menos um vez na vida. Você já tá todo fodido mesmo.
Leandro segurou o hambúrguer com as duas mãos, o queijo cheddar escorria entre os lados.
_ Quer saber? Foda-se a vida!_ deu uma mordida com vontade, fechando os olhos para saborear._ Huuuuum! Tá muito bom!
Valéria sorriu, comendo também.

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