A festa

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_ Que merda está acontecendo aqui?
_ Que boca suja para um advogado tão chique!_ disse Irene debochada.
_ Saia já dá minha cadeira! Eu vou chamar a segurança.
Júlio tinha a intenção de sair da sala, chegou a dar uns passos, mas foi detido por Luciano, que pôs a mão na porta e o olhou como quem diz "não se atreva a dar um passo."
Júlio não estava disposto a recuar. Aquilo era insolência demais para ele suportar. No entanto, paralisou ao ouvir o som da gravação que vinha do celular que Irene erguia na mão. Olhou para Luciano assustado e decepcionado, se dando conta que foi vítima de um golpe.
_ Eu tenho uma bomba na minha mão. Vai querer mesmo chamar a segurança, Júlio? Saiba que essa bomba pode pôr toda a sua vida abaixo.
_ O que vocês querem?
Júlio percebeu o que estava acontecendo ali, sabia que seria vítima de extorsão. Tentou ao máximo conter o ódio que sentia por Luciano. "Eu confiei nesse veadinho filho da puta! Eu vou acabar com ele."
Odiou estar nas mãos daqueles dois. Ele devia manter esses acordos em total sigilo. Pessoas importantes estavam envolvidas, e que poderiam acabar com a sua vida literalmente, caso os esquemas viesse a público.
Júlio respirou fundo, tentando se manter equilibrado. Sentou na cadeira que ficava em frente a sua mesa.
Quase nunca se arrependia de comer um cara, sempre teve orgulho dos seus prazeres sexuais. Mas, se corroía de arrependimento por ter se envolvido com Abner e Luciano, principalmente Luciano.
_ Muito bem. Vamos conversar com calma.
_ Claro que vamos, Júlio. E nem adianta mandar os seus seguranças atacarem a mim e ao meu filho. Se nós não chegarmos em casa ilesos, ou nos acontecer alguma coisa, a cópia da nossa gravação vai chegar á imprensa. E isso não seria nada bom pra você.
_ Nem para mim e nem para muita gente.
_ Os poderosos sempre escapam, Júlio. Esses grandes empresários, juízes, desembargadores e políticos na certa vão se dar bem. Já você...vai perder a liberdade, a carteirinha da OAB, o seu escritório vai á falência...e quiçá, a própria vida.
_ Quanto você quer?
Irene levantou da cadeira e caminhou altiva.
_ Dinheiro...sempre dinheiro. Júlio, você se lembra de mim? Lembra que há anos eu estive na sua casa, implorando por ajuda financeira, porque  eu e o meu filho estávamos com dificuldade financeira, porque o pai do Luciano te deixou tudo que tinha e nos deixou na merda?
_ Irene?!_ Júlio ficou surpreso ao reconhece-la, sentindo um tremor percorrendo o seu corpo e o coração bater acelerado.
_ Olha, filho, ele lembrou o meu nome.
_ Irene, eu sinto muito pelo modo como te tratei. Eu posso recompensar. Podemos chegar algum acordo e...
_ Você adora humilhar as pessoas! Trata a todos com menos dinheiro que você como se fossemos lixos!
_ Irene, eu...
_ Cale a boca, que eu não terminei de falar!_Irene gritou socando a mesa._ Agora sou eu quem estou por cima! Você é um verme arrogante! Usou e abusou do meu filho e permitiu que a vagabunda da sua filha o tratasse mal.
_ Eu sinto muito por isso.
_ Sente nada!_ mais gritos_ Não sente, porque você nunca se desculpou com ele, nem comigo e nem com ninguém que você maltratou!
"Eu quero tudo o que você roubou do meu filho. Aquela herança era para ser dele! Eu quero uma bela casa no nosso nome, meu e de Luciano, quero uma mesada no valor de trinta mil reais! E quero que diminua a carga horária do meu filho e triplica o salário dele!"
_ Tudo bem. Nós preparamos um contrato e te dou tudo que quiser. Em troca você me dar as gravações e...
Irene interrompeu Júlio dando uma gargalhada.
_ Meu amor, eu nunca vou te dar essa gravação. Você vai ficar pra sempre comendo nas mãos da mamãezinha aqui._ Irene afirmou esticando as mãos._ Eu sou uma mulher muito boa, e você deu sorte por isso. Eu poderia ter sido rancorosa levando toda essa sujeira a público e acabando com a sua vida. Mas não sou vingativa. Não tenho a intenção de prejudicar a corrupção do sistema judiciário brasileiro. Vejo isso como tradição nacional, e eu sou uma mulher muito patriota. Acho que as tradições devem ser respeitadas. Com a minha proposta, todos nós saímos ganhando. Você tem alguma objeção, doutor Júlio Medeiros?
_ Não...nenhuma. Estou totalmente de acordo com as suas exigências, Irene.
_ Mas...eu ainda não acabei. A humilhação que a sua filha fez ao meu filho não ficará barato. A vaca da sua filha precisa de uma lição.
_ Irene, eu compreendo muito a sua raiva. Eu, como pai, sei que nos dói muito quando alguém ofende os nossos filhos. Mas podemos deixar a Vanessa fora disso. Ela é só uma criança. Eu prometo que ela nunca mais irá fazer nada contra o Luciano.
_ Ah, mas não vai fazer mesmo. Essa menina vai ter que tratar Luciano como um rei. Aliás, eu soube da festa de aniversário dela. Pois bem, o Luciano será convidado. Eu exijo isso e quero ir também.
_ Ótimo. Será um prazer e...
_ Júlio, deixe de ser ridículo. Você fica patético nesse papel de puxa saco...o Luciano irá sim. Com a cabeça erguida e de mãos dadas contigo. Você o apresentará a todos como o seu namorado principalmente para o seu ex marido, o Leandro.
Júlio e Luciano a olharam espantados e Irene sorria.
Os acordos foram fechados. Além de todas essas exigências, Irene ordenou que uma transferência de um valor simbólico fosse feito para a sua conta bancária no mesmo instante.
Assim que mãe e filho saíram da sala, Júlio esbravejou gritando de ódio. Ordenou a presença imediata de Rubens e narrou ao amigo todo o acontecido.
Rubens se viu ainda mais apavorado que chefe. Se Júlio diante de todos os envolvidos nos esquemas de corrupção era peixe pequeno, ele se considerava um camarão sem o seu cardume.
_ Mas isso é uma tragédia, Júlio! Nós estamos ferradas! Você precisa dar um jeito nisso.
_  É o que vou fazer. Mas tenho que ser cauteloso. Preciso descobrir quem está aliado a eles. Se for para eliminar, que sejam todos de uma vez. Assim não sobra ninguém para levar a gravação a público ou me chantagear depois que eu acabar com esses dois.
Júlio andava de um lado para o outro, com um copo de uísque na mão e a outra na cintura. Seu rosto estava vermelho de ódio.
Num ataque de fúria, atirou o copo contra a parede, gritando:
_ Que merdaaaaaaaa! Porraaaaa!
_ E se você pedisse ajuda ao juiz Fer...
_ Você ficou maluco, Rubens?! Eu não posso pedir ajuda a ninguém. Isso não pode vazar daqui! Se alguém ficar sabendo, eles podem mandar me matar! Eu tenho que resolver isso sem a ajuda deles.
_ É... você tem razão. Que merda! Bixa desgraçada essa tal de Luciano. Sonsa! Com aquela carinha de boy inocente... É uma cobra.
_ Ligue para o detetive e mande que a equipe dele fique na cola da casa do Luciano...que sejam discretos.
_ Você sabe o endereço do Luciano?
_ Procure no RH, caralho!
_ Tudo bem.
_ Vá agora, Rubens!_ Júlio ordenou gritando.

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