Feliz ano novo

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O silêncio era perturbador. Olhavam-se atônitos, com os corações acelerados e a tensão a flor da pele. Julio metralhava Abner com o olhar, desajava-lhe esganá-lo pela ousadia de  invadir a sua casa e enfrentar o seu marido.
Mesmo estando nervoso, percebeu que os dois não se olhavam como se houvessem brigado. E sim com constrangimento.
Com medo de ter sua traição descoberta, Leandro foi o primeiro a se prontificar para inventar uma desculpa para aquele inusitado encontro.
_ Não precisa ficar tão constrangido por ter entrado no quarto errado. Esta casa é tão grande, que até eu me perco. Mas o banheiro fica no fim do corredor._ disse sorrindo, tentando ser  simpático.
_ Tudo bem. Me desculpe, senhor. Eu poderia ter usado o banheiro dos funcionários, mas estava ocupado. Enfim, sinto muito pelo incomodo. Com licença.
Ver Abner saindo do quarto, fez com que Leandro se sentisse aliviado. Abraçou Júlio, que ainda estava mais  nervoso.
_ Amor, não precisa se chatear com ele. Eu sei que não é adequado esse tipo de comportamento de um funcionário, mas não vamos deixar que isso estrague a nossa noite. Leandro o beijou, deslizando o dedo no seu peito. Seus afetos com Júlio era, para ele, um jeito de se desculpar pela infidelidade conjugal.
Júlio o abraçou com força, apoiando a cabeça em seu ombro. Estava tão aliviado quanto o marido por Abner não ter revelado sobre o caso e arruinado, além da sua noite, o seu casamento.
_ Vamos descer? Eu já me atrasei demais.
Leandro tentava aparentar tranquilidade sorrindo  para ocultar o seu nervosismo interno. Temia que alguma parte do seu corpo denunciasse a sua culpa. Estava intrigado, cogitando várias hipóteses de como e por que Abner foi parar na sua casa. Como o filho de um engenheiro trabalhava  como cozinheiro num buffet? Chegou a conclusão que Dimitri mentira sobre sua situação financeira, ou pior, investigou a sua vida e conseguiu o emprego só para se aproximar dele! Essa última hipótese o apavorava.
Júlio era corroído pelo ódio. Abner não tinha o direito de perturbar a sua paz! Com certeza, fez para afrontá-lo, passando a mensagem que poderia destruir o seu casamento quando bem entendesse. Abner foi longe demais por confrontá-lo com tamanha petulância e isso teria um teria um preço.
Demorou alguns minutos para recuperar a compostura. Precisava manter as aparências antes que alguém perguntasse o porquê da sua cara amarrada. Todavia, a arte do fingimento Júlio tirava de letra. Em pouco tempo, conseguiu domar a raiva e sorrir para os convidados, interagir com as anedotas e qualquer tipo de assunto.
Para garantir que o seu marido e amante não tivessem nenhum tipo de contato, passou a maior parte do tempo ao lado de Leandro. Era o modelo perfeito de marido apaixonado e carinhoso. Abraçava-o, beijava-lhe a face e o elogiava sempre, demonstrando para todos o quanto era feliz ao lado de Leandro.
Ver Valéria circulando entre os convidados, deixou Leandro mais tranquilo por ter alguém com quem compartilhar a sua aflição.
"Amiga, ainda bem que você está aqui. Eu preciso muito falar contigo, mas o Júlio não desgruda de mim." Essa foi a mensagem que Valéria recebeu de Leandro via whatsapp.
"Pode deixar que vou resolver isso."
Aproximou-se deles com a taça de champanhe na mão.
_ Leandro, vem aqui que quero falar com você._ Valéria disse puxando o amigo pelo braço, ignorando o olhar interrogativo de Júlio. Conduzi-o para um pouco mais distante de Júlio.
_ Amiga, você não vai acreditar quando eu te disser quem está aqui na festa!
_ Diga, bijuzinho.
_ O Dimitri!
_ O quê?!_ Valéria gritou, deixando Leandro contragido.
_ Fale baixo! O Júlio pode ouvir!
_ Genteeee! Eu tô pretérita mais que perfeita!_ Valéria exclamou pondo a mão na boca._ Bijuzinho, que delícia! Você vai trepar com ele na cama do Júlio! Aaaa! Vai lá, amigo, que eu distraio mala do seu marido. Ai minha deusa, que excitante!
_ Claro que não! Ficou doida?! Eu não sei como ele veio parar aqui. Eu estava no quarto terminando de me arrumar e escuto a voz dele atrás de mim. Minha alma saiu do corpo e voltou. Para piorar o Júlio entrou na hora.
_ Puta que pariu! Puta que pariu!
_ Ele tá vestido de cozinheiro. Acho que faz parte da equipe do buffet. Amiga, eu tô com muito medo.
_ Medo de quê? Você acha que o Dimitri vai olhar na cara do Júlio e dizer "Corno, eu comi seu homem"._ Valéria ergueu a cabeça para gargalhar, se apoiando no braço de Leandro._ Ah, bijuzinho, isso seria  tão engraçado.
_ Eu não tô vendo graça nenhuma!
_ Ah, relaxa! Aproveita que a senhora é a sonsa e faça a Paulina Martins para o seu marido e a Paola Bracho para o seu amante caliente.
_ Ridícula! Eu tô uma pilha de nervos e você aí fazendo piadinha.
_ Bijuzinho, ano novo piroca nova. Se o cara veio até aqui é porque está caídinho por você. Não é por coincidência que ele está aqui! O cara te ligou durante todos esses dias e foi até o meu buffet atrás de ti. Ele tá gamado, meu amor. E você também está. Então, é só curtir. Vamos combinar que faz bem para o ego ter um amante assim, completamente apaixonado. Ah, se fosse comigo, eu já teria arrastado esse homem para um canto e  tinha dado pra ele até ver estrelas.
_ Com você não tem como falar sério.
_ E mesmo assim você me adora, bijuzinho.
_ Adoro mesmo.
Valéria o olhou carinhosa. Desde muito jovem tinha um amor fraternal por Leandro. Amava-o tanto que estava disposta a lutar pela sua felicidade. Seguro-o pelo queixo e deu um selinho em seus lábios.

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