Dimitri

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Capítulo 4

_ Desgraçado! Eu vou acabar com você! Eu vou descobrir quem você é e vou te matar!
Do outro lado da linha, Abner ouvia tapando a boca com a mão para conter o riso. Estava satisfeito em ouvir a voz histérica de Leandro e queria se deleitar um pouco antes de trocar palavras com o rival.
Júlio ouviu os gritos de Leandro. De imediato, enrolou uma toalha na cintura e correu para o quarto. O seu coração bateu em disparado ao ver o marido nu, gritando com o seu smartphone no ouvido.
Chegou até Leandro numa rapidez de jato, não dando tempo de Abner dizer algo. Júlio tomou o celular do marido.
_ Seu desgraçado! Você é um lixo! Um traidor!
Leandro tentava pegar o celular de volta, mas não conseguia, pois Júlio lutava ao máximo por ele. Com medo que o marido se apossasse do aparelho, Júlio o atirou com força na parede. O impacto foi tão destruidor, que o celular se partiu ao meio.
O aparelho custou muito caro, era o último iPhone lançado no mercado. Contudo, mesmo com o prejuízo financeiro, Júlio ficou aliviado por ter impedido um contato entre o marido e o amante.
_ Ele ligou de novo! De novo! Eu não aguento mais essa humilhação! Já tô de saco cheio._ Os gritos de Leandro eram trêmulos. As lágrimas desciam muito e o seu corpo tremia._ Você é muito cretino, Júlio! Mui...
Leandro não conseguiu terminar a palavra. Perdeu as forças e se jogou sentado na beira da cama. Envolveu os braços em volta da barriga dolorida, devido ao nervosismo e chorava descontrolado.
Vanessa passava no corredor e ouviu os gritos do pai. Assustada, quis entrar para saber o que estava acontecendo, mas se deparou com a porta trancada.
_ Por que você faz isso comigo, Júlio? Por queeeeee? Porraaaaaaaaa! Eu te dei tudo! Dediquei a minha vida a você desde que eu era um adolescente...Eu abri as portas do meu coração pra ti...Eu te dei o meu amor! O meu amor! E você me retribui me humilhando com um putinho qualquer? Qual será o próximo passo dele? Vir na minha casa me afrontar?
Júlio o olhava com raiva. Respirou fundo e andou de um lado para o outro.
A dor em Leandro aumentava. Se jogou de costa para a cama se encolhendo. Chorava soluçando, deixando Vanessa aflita do outro lado da porta.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, enquanto a dor diminuía, até se dissipar. Contudo, não conseguia parar de chorar, mesmo querendo muito que isso acontecesse.
_ Já se acalmou? Já parou de dar chiliques? Agora se arrume e vamos descer. Você já estragou o meu natal não precisa estragar os dos outros também.
Leandro o olhou furioso, tinha os olhos vermelhos e umedecidos.
_ Você é muito escroto! Como se atreve a dizer que eu estraguei a porra da sua noite se foi você e o seu maldito amante que estão estragando a minha vida? Sádico... Você é cruel!
_ Eu não tenho porra de amante nenhum! Essa sua histeria já tá me dando nos nervos! O Abner é um cliente! Eu já falei isso mil vezes, caralho! Aliás, era um cliente. Pelo jeito que você o tratou no telefone ele vai achar que tenho em casa um cachorro louco ao invés de um marido. Tá satisfeito em arruinar o meu trabalho por puro ciúme besta?
_ Filho da puta! É com ele que você vai viajar! Você vai viajar com o seu amante perto da data de comemoração do nosso casamento! Você é nojento, Júlio! Você merece um par de chifres para sentir o que eu tô sentindo!
_ Eu vou me arrumar. Tenho que atender as pessoas que estão chegando. Se eu ficar aqui ouvindo os seus absurdos vou perder o controle.
Júlio foi ao closet. Respirou fundo com as mãos na cintura. Num ataque de fúria, atirou um objeto no grande espelho que ocupava  todo o espaço de uma das paredes. Tinha tanto ódio de Abner, desejando matá-lo.
_ Veado maldito!

.....

Vanessa correu até a biblioteca de Leandro. Chorando, sentou na poltrona de leitura, pondo as mãos nas pernas.
Olhou para uma das estantes, fitando os olhos num livro azul. Foi até ele, retirando entre muitos exemplares. Na capa estava escrito "Um conto de Natal" com o nome Charlie Dickens na parte superior.  Recordou dos natais da sua infância, quando Leandro a colocava no colo e lia a história para ela.
Sentiu uma tristeza imensa, compadecida pelo sofrimento do  pai. Passou os dedos na capa. Levou o livro até o peito, abraçou-o como se tivesse abraçando Leandro.
Assustou-se ao ouvir a porta se abrir.
Júlio a olhou com piedade por alguns segundos, antes de se aproximar e abraçá-la.
_ Você ouviu tudo não é, meu bem?
Vanessa concordou com a cabeça, que estava apoiada no peito dele. Júlio dava leve tapinhas nas suas costas como fazia quando ela era pequena.
_ Você me promete que não vai mentir pra mim?
_ Você sabe que não minto pra você, meu anjo.
Vanessa se afastou, olhando-o.
_ Pai, você tem mesmo um amante?
_ Claro que não, Vanessa! Agora até a minha filha vai duvidar do meu caráter?! Que tipo de homem você acha que sou?
_ Quem é esse tal de Abner que o meu pai tanto acusa de ser o seu amante? Esse cara vive provocando um inferno aqui dentro de casa.
_ Abner é um cliente. A Valéria inventou para o seu pai que me viu num motel com um outro homem. Ela só inventou sem ter nenhuma prova. Filha, você acha que se fosse verdade ela não teria registrado  filmando ou tirando uma foto?
_ É...faz sentido.
_ De lá pra cá, Leandro ficou neurótico e acha que tudo quanto é homem que me liga é o meu amante.
_ E por que você quebrou o celular? Poderia ter deixado o meu pai falar com esse tal de Abner, que ficaria tudo explicado que ele é o seu cliente.
_ Eu quebrei porque tive medo do seu pai causar uma confusão tão grande e eu perder esse trabalho.
_ Entendi.
Vanessa abaixou a cabeça para chorar. Júlio a segurou pelo queixo, erguendo a sua cabeça.
_ Meu amor, não fique triste. Você é tão linda! Se continuar chorando assim vai acabar borrando a maquiagem.
_ Não se preocupe. Essa make é a prova d'água.
_ Olha que esperta! Essa é a minha garota.
Júlio a beijou no alto da cabeça.
_ Paizinho, eu não aguento mais vê o pai Leandro sofrer. Tá me machucando muito._ Vanessa se atirou nos braços de Júlio, chorando ainda mais.
_ Meu bem, eu vou resolver isso. Eu te prometo que vou acabar com o sofrimento dele. Também me dói muito vê o homem que eu amo sofrer desse jeito, desconfiando de mim.
_ Você vai mesmo resolver? Eu não quero mais que ele sofra.
_ Vou sim, meu amor. Você sabe muito bem que eu cumpro com o que prometo.
_ Sim. Eu sei.
_ Agora vá lá no quarto, melhore essa carinha e triste e desça para a festa.
_ Eu tô tão sem clima para festas. Só queria ficar no meu quarto, quietinha.
_ Nem pensar. Ninguém precisa saber que estamos passando por uma crise. Temos que demonstrar sempre o melhor. Agora vá lá, que vou te esperar lá embaixo.

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