O atentado

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A xícara de café foi levada a boca, enquanto ouvia Abner falar sobre o preço que cobrava pelos seus serviços. O café não era dos melhores, estava frio e ralo, no entanto Angela não havia tomado nada de manhã, devido a tensão de estar cara a cara com o amante do seu  filho.
_Vejo que você cobra muito bem, Dimitri.
_ Sim. Na minha profissão, temos que nos valorizarmos. Mas, eu garanto prazer e discrição total.
_ Hum!_ Angela exclamou bebendo mais um gole de café._ Você costuma receber os clientes no seu apartamento?
_ De jeito nenhum. Eu prefiro manter o profissionalismo. Os encontros acontecem onde os clientes marcam: Flats, hotéis, motéis e etc. Ah, são os clientes que arcam com os custos do local.
_ Entendi.
_ Então, a senhora vai agendar algum horário?
_ Na verdade, eu quero te fazer uma proposta...e muito lucrativa para você.
_ Hum! Estou começando a gostar do assunto.
_ Eu vou ir direto ao ponto. Quanto você quer para se afastar do meu filho Leandro?
A expressão de espanto foi inevitável. Os olhos arregalados e o rosto contraído. Abner ficou paralisado por alguns segundos. Não era nada bom para ele ser visto por alguém da família de Leandro. Isso poderia o trazer graves problemas.
_ Peraí...eu não tô entendendo.
_ Você está entendendo sim, Dimitri. Não adianta fingir que não sabe do que estou falando. Eu sei muito bem que está tendo um caso com o meu filho. E ao contrário do que me disse, está o levando para o seu apartamento. Se o Leandro está tendo essa regalia, que os outros  clientes não têm, imagino que ele deva estar pagando muito bem. Cliente rico, você deve ter cobrado o dobro.
_ Escute aqui...
_ Eu ainda não terminei! Você não tem noção de quem seja o marido do meu filho e das graves consequências que se esse caso possa trazer a vocês dois. A proposta é: eu te dou uma boa quantia em dinheiro, cubro tudo que o meu filho te paga e você se afasta dele para sempre.
_ O seu filho não é o meu cliente. É o amor da minha vida.
Angela deu uma gargalhada.
_ Então, o golpe é bem mais articulado do que eu imaginava.
_ Não tem golpe nenhum! Você não sabe o que está dizendo.
_ Se tem alguém que não sabe de alguma coisa, esse alguém é você. Se pensa que vai conseguir muito dinheiro se aproveitando do meu filho está muito enganado. Ao contrário, do que você pensa, Leandro não é rico. Antes de se casar com o Júlio, o meu marido o fez assinar com um contrato pré-nupcial em que nenhum dos dois terão direito aos bens do outro, em caso de divórcio. Você não vai conseguir dar o grande golpe no meu filho. Mas, pode muito bem se ferrar muito feio caso o marido dele descubra. Você não o conhece.
_ Eu tô ligado sim de quem é o doutor Júlio Medeiros. E também estou ligado de quem é você e o seu marido. O tipo de pais que são. Você não está preocupada que Júlio faça algo ruim com o Leandro. Você está com medo de perder as regalias que o Júlio te dar, caso um divórcio aconteça.
_ Que insolente! Você não sabe o que está dizendo!
_ Sei sim. Ao contrário de você e do seu marido, eu não uso o Leandro para lucrar financeiramente. Eu nunca cobrei um real dele. O que tenho com o Leandro envolve sentimentos. Já vocês, o atiram nos braços de um homem abusivo por dinheiro. Vocês estão levando o Leandro ao desespero. Ele pode ficar doente! Mas, eu não vou permitir! Eu vou salvar o Leandro das garras de todos vocês.
_ Você não sabe de nada! É só um putinho barato que acha que pode me ofender.
_ Eu sou um putinho barato e você é uma cafetina mau caráter que vende o próprio filho para um monstro.
_ Seu desgraçado! Eu vou...
_ Não se atreva a me insultar! A minha mãe me ensinou a ser gentil com as mulheres, mas também me ensinou a não abaixar a cabeça para qualquer pobretona que se acha rica. "Quanto você quer para se afastar do meu filho?"_ Abner debochou imitando uma voz feminina._ Com que dinheiro você achou que poderia me comprar? Você não passa de uma classe mediazinha que precisa bajular o genro rico para poder se metidar com essas roupas de grife.
_ É por isso que você recusou a minha proposta? Acha que não tenho dinheiro para te pagar e quer tirar muito mais do meu filho.
_ Eu não quero o dinheiro do seu filho.
_ O Leandro se refere a você como Dimitri, logo ele não sabe o seu nome verdadeiro não é?
Nessa hora Abner gelou de medo, temendo que Angela soubesse da sua verdadeira identidade. Lembrou que tanto a sua mãe, quanto o seu padrastro trabalhavam no sítio de Júlio. E se algum dos dois mostrou a sua  foto para ela? Contou que o seu nome era Abner e ela ligou ao fato, concluindo que ele foi amante de Júlio? Lorena era discreta. Com certeza não abriu a boca para ninguém.
_ Como você realmente se chama, Dimitri?
_ O que te faz pensar que Dimitri não é o meu verdadeiro nome?_ Abner teve medo da resposta, mas decidiu arriscar assim mesmo. Era melhor receber a pancada de uma vez.
_ Ora, eu não sou idiota. Sei muito bem que vocês putinhos têm nomes falsos para usarem na luxúria. É isso! Eureca!_ Angela exclamou batendo de leve na testa._ Leandro não sabe que você é um garoto de programa! É claro! O meu filho é muito certinho. Nunca se envolveria com gentinha tipo você. Na certa foi contratado pela Valéria, e aí você viu um lindo homem rico e carente e quis se aproveitar para se dar bem.
Abner respirou aliviado, descartando a possibilidade de ela saber o seu verdadeiro nome. Caso soubesse, teria jogado a verdade ali mesmo.
_ Engano seu. Não há segredos entre mim e o homem que eu amo.
_ Eu não vou mais perder o meu tempo com você. Já soube tudo o que precisava saber. Eu só te digo uma coisa, moço: eu não vou permitir que você destrua a vida do meu filho. Você não sabe do que sou capaz para defender o meu menino.
_ Uau! Parabéns pela preocupação, mamãe do ano._ Abner debochou batendo palmas.
_ Com licença.
Angela levantou da mesa.
_Que feio, Angela! Dando calotes! Pague a conta, conforme você prometeu.
_ Pague você com o dinheiro que está roubando do meu filho.
Ela ajustou a alça da bolsa no ombro e saiu nos seus saltos sonoros. Abner a observava partir sentindo ódio pela nova pedra que surgiu no seu caminho. Não basta ter que se preocupar com o Franklin, agora tem mais essa?!
_ Vaca...porra!_ gritou, socando a mesa.

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