Júlio tentava relutar com a ideia que passava em sua mente. "Não! Isso é impossível! Abner o odeia por ter ciúmes de mim!" Era o que dizia a si mesmo como negação do que os seus olhos viam.
No entanto, o sorriso afetuoso e o olhar admirador que Abner direcionavam a Leandro não combinava nada com ódio ou rivalidade. Olhar e sorriso esses que nem ele nunca recebeu do amante.
Para o aumento da sua raiva, Leandro correspondia e Júlio não admitia que nenhum outro homem, além dele, recebesse afeto de Leandro. Sentiu-se roubado! Como Abner ousou a tamanha traição roubando o que era dele! Aliás, como eles dois ousaram?!
Júlio estacionou o carro e saiu dele com brutalidade, deixando a porta do veículo aberta e Vanessa o olhando, sem entender o que estava acontecendo.
Andou às pressas, batendo os braços, armado de fúria, com um olhar em brasas e a respiração ofegante. Se houvesse algo ou alguém em sua frente não conseguia ver, o ciúme o cegava e envenenava-lhe a alma.
Angela corre em direção aos dois, chegando no mesmo momento que Júlio. Os seus olhos estavam esbugalhados, tomados por um pavor.
Leandro se espantou ao olhar para Júlio. Sentiu uma raiva imensa por acreditar que foi enganado pela mãe, que garantiu que não o convidou. Abner vira para trás e o avista. É inegável que teve um pouco medo, mas não quis demonstrar, pois a sua raiva era muito maior.
Odiou Júlio por estar em seu caminho, pela chantagem que o obrigava a dormir com ele e, principalmente, por ser a pedra que o impedia de estar com o homem que ama. Arrependeu-se amargamente do dia em que conheceu Júlio, e sentiu repulsa por um dia ter se apaixonado por aquele ser detestável.
Abner não estava disposto a abaixar a cabeça. Sentia tanto ódio, que se Júlio começasse uma discussão, o partiria a cara. Fechou os punhos se preparando.
_Ainda bem que você chegou! Pensei que não vinha mais._ Angela disse, segurando o pulso de Abner, que a olhava sem entender o que estava acontecendo._ Eu o contratei para me ajudar a preparar o almoço de páscoa. A casa está cheia e eu não estava nem um pouco a fim de ir para a cozinha. Por isso, chamei um profissional.
Angela sorria, sem jeito. Tentando persuadir o genro.
Júlio ficou sem palavras. Mas não mudou a expressão furiosa. Não acreditou na desculpa da sogra, mas manteve o silêncio.
Abner sorriu com deboche. Se não podia bater, se conformou em humilhar, fazendo Júlio de bobo.
_ Me desculpe o atraso, dona Angela. Eu perdi a hora. Mas prometo que isso não irá mais acontecer e vou recompensa-la preparando o melhor almoço que a senhora já saboreou na vida. Posso entrar para começar a trabalhar?
_ Claro! Entre pela porta dos fundos, vai dar direto na cozinha.
_ Com licença._ Abner disse, antes de entrar.
Angela respirou aliviada.
_ Bom dia, Júlio!
Leandro fechou a cara e olhou para a mãe com raiva. Pensou em ir embora naquele mesmo instante. No entanto, mudou de ideia ao ver Vanessa saindo do carro.
Sorriu ao ver a filha, com o coração transbordando de saudades.
Esqueceu-se da raiva que sentiu do marido e dos pais. Abriu os braços e correu em direção da sua amada.
Abraçou-a com força para matar a cruel saudades. Vanessa correspondeu ao abraço, ficando em silêncio, só deixando as lágrimas caírem.
_ Como você está, meu amor?
A voz de Leandro era gentil e a fez desejar que ele nunca mais saísse de perto dela.
_ Estou bem._ Vanessa respondeu, enxugando as lágrimas.
_ Não fique assim._ Leandro a beijou na testa._ Eu tô morrendo de saudades. Como é bom te ver!
_ Tava mesmo com saudades, pai? Então, por que foi embora?_ o tom de voz dela era áspero.
_ Ainda vamos conversar sobre isso. Eu prometo que vou esclarecer tudo. Mas não hoje. A casa está cheia. Precisamos ter essa conversa num lugar reservado.
_ Quando?
_ Em breve.
Leandro entrou na casa abraçando Vanessa e ignorando a incômoda presença de Júlio._ Meu querido genro e a minha querida neta! Que bom vê-los!
A bajulação de Genaro com Júlio deixava Leandro extremamente incomodado. A vontade era de se explodir. Libertar em forma de gritos toda a raiva que estava sentindo. No entanto, em respeito a Vanessa e aos outros convidados, optou por se calar...por enquanto.
_ Olha! Você veio! Como não tinha te visto, até fiquei desconfiada de você estavam mesmo juntos._ disse a tia Carmem.
_ Estamos mais juntos do que nunca. Não vamos nos separar nunca._ Júlio afirmou, abraçando Leandro pelo ombros. Incomodado, Leandro se afastou disfarçadamente. Apesar de odiar a situação, não conseguiu dizer a verdade para os parentes. Afinal passou a maior parte da sua vida mantendo as aparências e ainda não conseguia se desfazer desse costume.
_ Eu vou ao banheiro. Com licença.
A desculpa do banheiro foi muito necessária para se livrar de toda aquela situação e poder respirar fundo.
Leandro molhou o rosto e se olhava no espelho , quando Júlio entrou no local sem pedir licença para entrar.
_ O que você está fazendo aqui? Por acaso nem a privacidade eu tenho direito?
Júlio fechou a porta, girando a chave na maçaneta. Já não tinha mais a expressão sorridente como estava na sala, diante de todos. Naquele momento, parecia um outro homem, os aspectos gentis de seu rosto foram substituídos por uma expressão rude, pesada... maquiavélica.
_ Então aquele desgraçado é o seu amante? Não adianta mentir pra mim. Afinal, se vocês estão se pegando eu preciso saber, também quero participar da festinha de vocês.
Leandro sentiu tanta raiva, que quis assumir o seu caso com Abner. Queria pôr o dedo na cara de Júlio e dizer que ele não tinha o direito de lhe cobrar nada, já que era um infiel manipulador.
No entanto, pensou em Abner. Temeu que a ira de Júlio caísse sobre o rapaz.
_ Você está descontrolado._ Leandro disse caminhando em direção á porta. Mas, Júlio o segurou com força pelo braço.
_ É muito atrevimento trazer o seu amante para a casa dos seus pais! Nem a sua filha você respeita! É uma puta baixo nível. Você não vale o esperma que eu joguei na sua cara.
_ Eu não te devo satisfação nenhuma! Mas mesmo assim digo que o Dimitri não é o meu amante! E dobre a língua para falar comigo! Eu não sou o verme do Abner, que você se esfrega. Júlio, eu estou por um fio de me explodir com toda essa merda. Então, não me provoque!
Leandro puxou o próprio braço e se afastou, saindo do local.
Júlio ficou parado no mesmo local, pensativo.
"Então, ele chama o Abner de Dimitri e citou o nome Abner como se fossem pessoas diferentes... Leandro não sabe da verdade...Eu vou matar o Abner! Ele não perde por esperar."
Júlio correu até o corredor num ato de desespero. Puxou Leandro com força e o jogou contra a parede. Encarou-o com fúria.
_ Escute aqui, você não vai ficar com ele e nem com ninguém. Você é meu, porra! Ou eu, ou a morte.
_ Nesse caso, a morte parece ser a opção mais agradável._ Leandro respondeu o empurrando e se libertando dos seus braços.
Olhava nos olhos furiosos de marido, procurando o Júlio que amou no passado ainda habitava ali. Não encontrou nenhum vestígio. Quis chorar de desespero. Mas sabia que tinha que ser forte. Afastou-se as pressas. Não conseguia ficar perto de Júlio por nenhum segundo mais.
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O outro
RomansaJúlio e Leandro formam um belo casal de classe média alta. Casados há 10 anos, eles aparentam ter uma vida perfeita. No entanto, quando não estão diante dos famaliares e amigos as suas vidas são completamente diferentes do que demonstram. Quando Ab...