Genaro

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Voltemos há alguns meses atrás. Para ser mais preciso na semana em que Lorena foi demitida.
O batom vermelho deslizava pelos lábios carnudos da jovem mulher, realçando a sua maquiagem. Os belos cabelos estavam soltos e sedosos. Usava uma saia preta justa, medindo no meio das coxas e um cropped de couro de mesma cor.
Caminhava elegante em cima dos saltos altos, movendo o bumbum, despertando os olhares sedentos dos homens do bar. Trazia em mãos uma bolsinha prateada.
Deu um sorriso largo de felicidade ao ver que Luciano a aguardava, sentado numa das mesas. O jovem vestia uma calça preta social e uma camisa de botões com listras brancas, rosas e pretas.
Luciano envolveu os braços no pescoço da mulher mais baixa que ele e beijou o seu rosto, recebendo o mesmo gesto de volta.
_ Mulher do céu! Hoje você se superou no espetáculo... está de parabéns!_ Luciano elogiou, girando Lorena com a ponta dos dedos.
Sentaram á mesa e pediram uma torre de chopp. Como petiscos, Lorena pediu uma porção de iscas de picanha, servidas na pedra aquecedora.
_ Eu gostei do ambiente, amiga. Bem que você disse que este bar era incrível! Só achei os preços um pouco salgados.
_ Não se preocupe. É tudo na conta da mamãe aqui._ Lorena disse com sorriso faceiro, seguida de uma tragada no cigarro.
_ Mas, mulher, você não foi demitida?
_ Sim. Mas ganhei muito dinheiro as custas de otários.
Luciano ouvia rindo Lorena narrando como conseguiu dinheiro de Genaro, Angela e Valéria. Ao fim da narrativa, ele estava com a mão na boca aberta.
_ Bicha, mas você é destruidora mesmo, hein!
"E o tal de Abner? Como está?"
_ Tá lá em casa. Mesmo a praga estando na merda, vive com a nariz empinado. Se recusa a trocar qualquer palavra comigo.
Luciano percebeu o tom de rancor na voz da amiga.
_ Você gosta dele, né?
_ Gostava.
_ Lorena...
_ Tudo bem...eu gosto. Mas eu não vou perder o meu tempo com aquele paspalho. Ele botou tudo a perder quando se envolveu com aquela songa monga. Vou te contar viu. Oh, bichinha sem graça esse tal de Leandro...burra que só...cansativa.
_ Amiga, eu gostaria de te pedir uma coisa. Você sabe que estou desempregado e que...
_ Não se preocupe com isso, não. Eu já falei com o Genaro. Mostrei a sua foto e currículo para ele. O velho me garantiu que vai te encaixar na minha vaga.
_ Ah, obrigado. Você não sabe o quanto está me ajudando.

Eram altas horas da madrugada quando Lorena chegou em casa. Estava tão embriagada, que tentava se equilibrar nos saltos. A casa estava imersa no silêncio. Todos adormeciam, o que fez se sentir aliviada por não precisar ter que encarar os olhares críticos da família.
Jogou-se no sofá. Sentiu uma sensação de liberdade ao arrancar os saltos e o sutiã sem alças, jogando-os para o lado.
Ficou ali, jogada, com a cabeça erguida, pensando por alguns minutos.
Não era só Abner que a ignorava naquela casa.
No dia em que ele recebeu alta do hospital, os dois se encontraram, uma bomba devastadora caiu sobre a família. Os dois deram início a uma briga como nunca fizeram antes.
Os segredos vergonhosos foram revelados, chocando e decepcionando  os pais.
Martins não sabia o que sentir diante de tanta decepção. Era a primeira vez que chorou diante da família. A sua única e jovem filha estava tendo um caso com um homem muito mais velho e casado, ignorando todos os preceitos morais que ele a ensinou. O homem que ele criou com todo carinho, era um garoto de programa mentiroso e manipulador, que se envolveu com um casal, pondo a própria vida em risco.
Tanto Martins quanto Lurdes não reconheciam os filhos. Vinha neles dois mares estranhos, que tinha medo de explorar.
O casal demonstrava a insatisfação com ambos, passando a tratá-los com frieza.
Já não havia mais as conversas á mesa, as risadas, a divisão do sofá para assistir algo em família. A casa estava fria.
Não era o ódio e o desprezo que Abner nutria por ela que a mais entristecia, e sim vê-lo sofrer e chorar por dias pela perda de Leandro.
Como pode outro conquistar o que era dela por direito?! Era ela a única merecedora do amor de Abner.
Já estava farta da pobreza que a cercava. Aquele bairro xexelento, aquela casa pequena e desconfortável, a pobreza fedia em seu narizinho delicado, que já estava se acostumando aos perfumes caros que recebia de Genaro.
Os presentes já não alimentavam a sua ganância. Ela queria mais, muito mais.

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