Lurdes

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Quando a bela moça entrou na confeitaria perguntando por Lurdes, essa a atendeu esbanjando alegria. Via naquela bela jovem de cabelos negros e cacheados, pele escura e corpo escultural uma esperança.
O seu nome era Fernanda. Lurdes a conheceu na academia que passou a frequentar para praticar pilates.  Fernanda tinha 26 anos, era saudável e o melhor de tudo, solteira.
Entre conversas, Lurdes mostrou a nova amiga a fotografia de seu filho Abner, que de primeira, despertou o interesse da jovem.
Lurdes viu nela a possibilidade do filho construir uma família, talvez até lhe dar netos e esquecer Leandro de uma vez por todas.
Para ajudar a unir o tão sonhado casal, Lurdes convidou Fernanda para conhecer a confeitaria do filho no horário em que ele estivesse presente.
Apresentou os dois empolgada.
Abner percebeu a intenção da mãe. Tratou a moça com muita gentileza, mas tinha a intenção de repreender Lurdes assim que Fernanda partisse. Não estava disposto a aceitar ninguém que não fosse Leandro.
_ Filho, por que vocês não se sentam? Poderia contar a Fernanda como fez para elaborar o cardápio._ Lurdes sugeriu, e Abner não teve jeito de recusar.
Os dois conversaram por alguns minutos, para a alegria de Lurdes, que os observava sorrindo do balcão.
Essa alegria foi a óbito, quando Lurdes viu Leandro entrando na confeitaria. Ele foi direto para a mesa onde Abner e Fernanda estavam sentados.
_ Bom dia._ Leandro cumprimentou Fernanda com gentileza._ Desculpe incomodar, mas eu gostaria de te mostrar os banners do evento. Eles acabaram de chegar e... você está ocupado, né? Bom...assim que você puder, dê uma passada lá na livraria.
Abner levantou no mesmo instante.
_ Não. Eu vou contigo. Desculpe, Fernanda... não é? É que tenho que ir, é trabalho. Mas a minha mãe te faz companhia.
_ Sem problema._ respondeu Fernanda, sorrindo para ocultar sua frustração.
Lurdes foi acionada pelo filho para substituí-lo á mesa com Fernanda. A mulher foi a contra gosto e não fez questão nenhuma de ocultar sua insatisfação, o que deixou Leandro envergonhado.
Em seguida, os dois partiram em direção á livraria.

O acontecido pela manhã retirou de Lurdes o sono da noite. Ela revirava na cama, nervosa, incomodando o marido.
_ O que foi, mulher?_ resmungou Martins, impaciente.
Lurdes desabafou sua aflição ao marido.
_ Abner ainda vai acabar com os meus nervos. Esse menino não tem um pingo de amor por mim. Põe a vida em risco, sem preocupar que tem mãe.
_ Hum!
_ Amanhã mesmo vou resolver isso. Vou falar com Leandro.
_ Vai falar o que, mulher? Não se meta nisso. Abner já está grandinho.
_ Ele é o meu filho! Não vou permitir que corra riscos! E se aquele endemoniado do Júlio fizer alguma coisa com ele? A culpa será toda do Leandro. Ele é mais velho e conhece o marido que tem.

Lurdes não era mulher de ficar só na promessa. Assim que amanheceu, foi direto á Livraria.
Leandro ainda estava abrindo as portas da loja quando Lurdes chegou. Era tão cedo que Patrícia e Nicolau ainda estavam a caminho.
_ Bom dia, dona Lurdes. Que bom vê -la!_ Leandro exclamou com sincera simpatia. Mas se surpreendeu ao ver a expressão carrancuda da mulher.
_ Eu vou dispensar qualquer conversinha mole e vou direto ao ponto. O meu filho é jovem. Só tem 25 anos. É desajuizado. Mas você já é adulto, pai de uma adolescente e sabe muito bem o que está fazendo. É um homem casado! E deveria ter vergonha na cara! Eu exijo que se afaste do meu filho. Não é justo que você ponha a vida dele em risco. Você conhece o marido que tem e sabe muito bem o perigo que o Abner corre por se envolver com você.
Leandro sorrir, balançando a cabeça negativamente, não querendo crer no absurdo daquela situação.
_Acho que estamos tendo um equívoco aqui. Eu mais do que ninguém não quero nada com o seu filho. Ou a senhora se esqueceu de tudo que ele aprontou comigo?
_ Ah conta outra, Leandro. Não se faça de sonso comigo. Você acha que não percebo que você vive indo lá na confeitaria atrás do Abner? Ele tá sempre aqui.
_ Nós estamos trabalhando juntos. É só isso.
_ Não é! Abner gosta de você. Você sabe disso e  faz joguinhos.
_ Joguinhos?! Eu?! Que absurdo!
_ Júlio tentou matar o meu filho uma vez. Enfiou uma bala nele por culpa sua. Abner também errou... não vou negar. Mas você também! Você é casado, o Júlio também. Cabia a vocês dois se darem ao respeito. Depois teve aquela briga horrorosa aqui na livraria. Porque você de uma certa forma dá esperanças pro Abner.
_ Eu nunca dei esperanças pro Abner!
_ Você conhece o marido que tem. Quer que uma tragédia aconteça?
_ De jeito nenhum.
_ Então se afaste do meu filho. Abner não tem juízo. Ele está apaixonado por você. É teimoso e vai insistir. Não dê esperanças a ele! Seja firme e o expulse da sua vida! Tenha juízo, Leandro. Não envolva o meu filho nos seus problemas.
_ Não é justo que a senhora me faça essas acusações absurdas. Não é mesmo.
_ Então faça o que deva ser feito, antes que uma tragédia aconteça.
Lurdes não deu a Leandro nenhuma chance de defesa. Saiu da livraria como um jato, com a mesma dureza que entrou.
_ Que merda!_ Exclamou Leandro, socando o balcão.

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