Lealdade

102 11 0
                                    

Júlio andava de um lado para o outro, nervoso. Aguardava com ansiedade o médico sair do quarto de Vanessa. Luciano já havia sido atendido. Segundo o doutor, o corte não foi profundo e não deixaria cicatrizes depois da retirada dos pontos dali a uns dias. Também receitou para Luciano um analgésico para aliviar a dor, e o jovem já estava repousando em seu quarto.
Assim que o médico saiu do quarto de Vanessa, Júlio o abordou perguntando pela filha.
_ Ela está em estado de choque. Eu a mediquei com um bom sedativo. Ela acabou adormecendo,  mas creio que acordará muito melhor.
_ Obrigado, doutor. O senhor já sabe. Nada do que aconteceu aqui deve sair daqui.
_ Com certeza. Não se preocupe, doutor Júlio.
_ E o meu companheiro?
_ Ele vai ficar bem. Mas recomendo que siga todas as minhas indicações para que não  infeccione. Seria mais prudente que ele fosse a um hospital, mas já que o senhor não quer.
_ Não. O Luciano iria ter que explicar o ferimento de faca e eu não quero problemas para a minha filha.
O médico recebeu pela consulta e um valor adicional pela discrição.
Júlio foi até o quarto e encontrou Luciano sentado na cama com o braço enfaixado.
Júlio se aproximou carinhoso, sentando ao lado de Luciano e o beijando.
_ Oh, meu amor, me desculpe por você ter passado por isso.
_ Eu não posso mais viver nesta casa. Essa menina me odeia! Ela tentou me matar!_ Luciano disse chorando.
_ Meu amor, não precisa exagerar.
_ Você chama isto de exagero?!_ Luciano gritou mostrando o braço._ Essa garota me esfaqueou! Ela está totalmente desequilibrada!
_ Sim, está. Mas Vanessa é só uma criança confusa! Ela está emocionalmente instável por culpa de tudo que está acontecendo. Eu tenho minha parcela de culpa nisso. Mas eu prometo que vou cuidar de tudo.
_ Como você a defende depois de todas as coisas ruins que ela fez comigo? Essa garota me humilha o tempo inteiro e agora tentou me matar! O que eu sou pra você? Um pedaço de lixo?
_ Ela é a minha filha! O que quer que eu faça? Que a ponho para fora de casa?
_ É isso mesmo. Você me vê como um lixo. Basta a forma como me tratou naquele dia em que me estuprou nesta mesma cama!
Júlio o olhou com ódio. Sentiu vontade de estapear Luciano, mas se conteve. Lamentava por ter que suporta-lo.
_ Eu não te estuprei! Deixe de exagero! Eu só bebi um pouco e perdi o controle. Isso não tem nada a ver com estupro! Você está me ofendendo! Nós somos um casal! E você é muito atraente. Estava todo gostosinho, deitado de cueca, com essa bundinha deliciosa pra cima, eu não resisti. Mas eu prometo que vou tentar me controlar. Mas vê se colabora também e durma vestido quando eu estiver bêbado. Você também é homem, sabe que a carne é fraca.
_ Eu não estou feliz. Quero voltar para a minha casa.
_ A sua mãe não quer te ver. Você sabe disso. Não depois do que fez.
_ Eu fiz por você. Mas não valeu a pena.
Júlio se aproximou e o beijou carinhosamente. Apoiou a cabeça de Luciano em seu peito, que começou a chorar.
_ Não chore, meu bem. Me desculpe por não estar sendo o marido que você merece. Mas eu vou resolver tudo.
_ Como?
_ A Vanessa vai passar uns dias fora. Vou deixá-la com o Leandro. Só até às coisas se acalmarem. Ela vai receber um tratamento psicológico adequado. Querendo ou não vai fazer terapia.
_ Isso não adianta!
_ Claro que adianta. Eu vou contratar dois seguranças. Eles vão ficar de olho na Vanessa e em tudo por aqui para garantir que nada de ruim te aconteça. E vou tirar férias também. Nós vamos viajar.
_ Pra aonde?
_ Pra onde você quiser. Você escolhe.
_ Eu não sei se essa viagem vai resolver. Eu só quero a minha mãe.
_ Mas ela não te quer! E eu não vou deixar que você se humilhe. Mesmo depois do que aconteceu, eu não tenho mágoa da Irene. Apesar de tudo, ela é a sua mãe. Pode te visitar a hora que quiser, mas ela não quer e eu não acho justo que você implore por isso.
Luciano abaixou a cabeça deixando as lágrimas caírem. Por dentro, Júlio estava entediado com a tristeza do namorado. Para sair daquela situação, o abraçou fingindo preocupação.
Ficaram abraçados por um tempo, até que Júlio disse que iria descer para comer algo na cozinha.
Luciano aproveitou a saída de Júlio para pegar o celular. Olhou para tela por alguns segundos, antes de ligar para Irene.
A cada toque não atendido o seu coração disparava. Só sentiu alívio quando ouviu a voz da mãe do outro lado da linha.
Luciano perguntou como ela estava.
_ Estou bem._ Irene respondeu seca.
Mas o seu coração amoleceu ao ouvir de Luciano dizendo que ele estava com saudades e que precisava vê -la. Ela concordou em ir até o apartamento de Júlio no dia seguinte. Em seguida, perguntou como Luciano estava, mas não se convenceu quando ele disse que estava bem. Ela sentia que era mentira e estava disposta a tirar o filho daquele lugar.

O outro Onde histórias criam vida. Descubra agora